Grupos de discussão crescem na internet

Uma das formas de comunidades virtuais que tem discretamente se desenvolvido na internet são os grupos de discussão, em que pessoas se inscrevem em determinada lista e recebem mensagens eletrônicas de todos os inscritos, ou então acessam uma página, em que os tópicos de debate são desenvolvidos. A Grupos Internet, empresa responsável por um site que oferece gratuitamente serviços de grupos de discussão, por exemplo, contabiliza mais de 160 mil grupos cadastrados e aproximadamente 6,5 milhões de usuários.

De acordo com o fundador da Grupos Internet S.A., Leandro Costa Schmitz, observa-se que cerca de 60% dos usuários são estudantes e que há grande número dos chamados grupos de apoio, em que pessoas se solidarizam e trocam informações e experiências sobre temas como doenças no trabalho, câncer, amamentação.

Há também grupos que se caracterizam pela condição fisiológica em comum. Um exemplo é o jornalista recém-formado Jean Schutz, cego, que percebendo a demora com que informações chegavam para pessoas com deficiências visuais, criou o grupo de discussões cegos@grupos.com.br. O grupo funciona há dois anos e possui 142 integrantes, que utilizam programas para adaptar o computador às suas necessidades especiais. Segundo Schutz, as discussões acontecem sobre os temas mais variados, com participantes de vários estados brasileiros, além de estrangeiros de Portugal e Argentina. O contato, diz ele, não se restringe somente à lista de discussão, e algumas vezes acontecem conversas por telefone.

De acordo com Schutz, o mais interessante é a união virtual do grupo. Ele afirma que, embora tenha algo em comum que os une, o grupo é heterogêneo. ?É uma maneira de conhecer novas pessoas e novas maneiras de pensar?. O uso da lista não é pequeno, Schmitz diz que, no cegos@grupos.com.br, por exemplo, são distribuídas 175 mil mensagens eletrônicas por mês.

Comunidade e listas

Schmitz conta que o Grupos.net adicionou um espaço que permite aos usuários colocarem informações a respeito de suas preferências e características pessoais. ?O perfil é uma nova iniciativa que está funcionando desde abril. Aproveitamos algumas funções do Orkut e incorporamos no nosso sistema?. Embora tenha essa nova funcionalidade, Schmitz explica que não há intenção de mudar o foco, que são os grupos de discussão. Para ele, as pessoas não se comunicam muito bem nas comunidades do Orkut. ?As comunidades acabam não tendo utilidade prática para discutir e trocar informações?, opina.

Schmitz afirma que o uso de grupos de discussão acontece pela característica da comunicação, que não é simultânea e permite respostas mais elaboradas.Segundo ele, contribui também o fato de o e-mail ser a ferramenta de comunicação mais utilizada na internet. ?É muito usado. Não existe usuário de internet que não tenha correio eletrônico. E os grupos de discussão são fortemente baseados em e-mails. Essa é a diferença?.

Servem para disseminar idéias e melhorar práticas

Grupos de discussão são bons para disseminar idéias e melhorar práticas. Foi o que descobriu a nutricionista Maria de Fátima Moura de Araújo, que coordena o grupo de discussão amamentacao.brasil@grupos.com.br. Com a finalidade de promover e apoiar o aleitamento materno, pesquisadores, coordenadores estaduais e municipais de programas de aleitamento materno, profissionais da área e representantes de organizações não-governamentais trocam experiências e informações pela internet. O grupo está ativo desde 1999, quando Maria de Fátima organizava o Programa Nacional de Aleitamento Materno.

A nutricionista, que hoje atua na área acadêmica, explica que, por meio do grupo, há intercâmbio e divulgação de estudos e de projetos, além de informações nacionais e internacionais na área de aleitamento materno. ?Abordamos todos assuntos relativos ao apoio ao aleitamento materno, assim como discutimos política de implantação, implementação e avaliação de programas?.

Para ela, o resultado mais expressivo consiste em passar a profissionais de regiões do País que possuem difícil acesso a informações atualizadas e a projetos interessantes na área, ajudando a se atualizarem e aplicarem à sua realidade local novas idéias e projetos. ?O grupo de discussão é um mecanismo fácil, ágil e integrador de bons projetos e de disseminação de estudos e pesquisas?, afirma.

Saúde no Trabalho

A Rede de Informações em Saúde do Trabalhador também possui um grupo de discussão ativo, o saudetrabalhador@grupos.com.br, no qual participam aproximadamente trezentas pessoas. O criador do grupo, o bancário Alexandre José Felizardo, que é coordenador geral da Associação de Defesa da Saúde do Trabalhador, explica que os debates procuram unir as pessoas a respeito de acidentes e doenças do trabalho. ?Trocamos experiências em nível nacional. Basicamente falamos a respeito de previdência social, ações locais e regionais, denúncias, entre outras coisas?, conta.

Felizardo diz que o grupo aproxima as pessoas, traz novas amizades. ?Outra vantagem é a de atingir um grande número de pessoas ao mesmo tempo e ter o retorno das informações. Além disso, é barato e fácil de usar?, explica. (RD)

Professor diz que fóruns são interfaces de interação entre pessoas

Para o professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), Hilton Azevedo, que estuda o papel das tecnologias nos processos de aprendizagem humana e organizacional, quando um grupo de pessoas tem horários de disponibilidade diferentes, inviabilizando o encontro em um mesmo momento, tanto presencial quanto virtualmente, os fóruns de discussões se tornam fortes candidatos para ser o elemento de interação entre os participantes. Azevedo diz que os fóruns de discussão podem ser considerados como interfaces de interação entre pessoas. ?Do ponto de vista da teoria sócio-cultural, fóruns são artefatos empregados por membros de um grupo para informar, trocar idéias, argumentar e convencer os outros sobre pontos de interesse comuns?.

Azevedo observa que a grande maioria dos fóruns trata de mensagens de texto, sendo que somente em algumas vezes o recurso de inclusão de foto no perfil do participante aparece. E como o ambiente é predominantemente textual, o pesquisador indica a necessidade do domínio das regras de etiqueta específicas para ambientes virtuais. ?O fato de interagir com pessoas que provavelmente nunca foram encontradas pessoalmente faz com que as pessoas tenham que tomar certos cuidados quando enviam uma mensagem para um fórum?.

Azevedo lembra que a cultura brasileira valoriza muito a linguagem oral. ?De certa forma, somos hábeis em decifrar e empregar os recursos do discurso, da entonação e, em especial, da linguagem corporal para nos fazer entender por um interlocutor?. Para ele, ao se passar da pluralidade de canais de comunicação para a singularidade do texto escrito as mesmas frases que antes eram bem aceitas em uma reunião de trabalho presencial podem ser mal-interpretadas em um ambiente virtual. ?Justamente por causa da supressão dos outros canais de comunicação, o leitor fica impedido de que seja retirada a ambigüidade própria do nosso estilo de comunicação?.

Por causa disso, o pesquisador entende que a supressão dos canais alternativos de comunicação presencial – tom de voz, linguagem corporal, entre outros – faz com que o domínio da linguagem escrita torne-se importante. ?O uso do vocabulário adequado, das formas de encadeamento do raciocínio e mesmo das figuras de linguagem deve ser feito de maneira a reconstruir com o leitor de nossas mensagens elementos de coesão social. Por exemplo, gerar simpatia e respeito no leitor?.

Azevedo cita como algumas das vantagens dos fóruns de discussão: no plano objetivo, o apoio técnico dos outros membros na resolução de problemas específicos, constituindo uma rede de contatos que podem se tornar fornecedores ou solicitantes de serviços; e no plano subjetivo, o sentimento de pertencimento a um grupo e o reconhecimento de competências do indivíduo por outras pessoas do grupo. Mas há também desvantagens. ?A primeira delas é o excesso de mensagens que chegam na caixa de correio eletrônico, se a lista não dispor de servidor web que concentre as mensagens postadas. A segunda é a dispersão de um tema e a dificuldade de acompanhar uma discussão quando a lista possui muitos membros?. (RD)

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