O planeta extra-solar Gliese 436b ou GL 436b foi descoberto em 2004 ao redor da estrela Gliese 436. Ele possui massa equivalente à de Netuno; gira numa órbita bem próxima à estrela. Se por um lado não pode ser um pequeno planeta gasoso, pois os ventos de origem estelar dissipariam o seu envoltório gasoso, por outro lado não tem massa suficiente para ser um planeta rochoso.
Esse é o primeiro planeta encontrado constituído de gelo quente – material que não se encontra na Terra a não ser num laboratório -, pois a sua temperatura de cerca de 300ºC permite mantê-lo sólido graças à enorme pressão reinante em sua atmosfera. Esse fato foi descoberto em 16 de maio de 2007 no observatório de Saint-Luc en Valais, em colaboração com a universidade de Genebra. Na realidade, este é o menor planeta extra-solar descoberto até agora, que descreve uma órbita ao redor de sua estrela em, aproximadamente, 2 dias e 16 horas. A temperatura superficial do planeta é muito alta, porém não tão alta como a dos outros planetas que descrevem órbitas similares, pois a estrela é muito fria.
Descoberta
Uma equipe de astrônomos chefiada por Michael Gillon, pesquisador da Universidade de Liège, Bélgica, observou o trânsito desse pequeno planeta extra-solar de diâmetro equivalente ao de Netuno. A medida desse trânsito permitiu pela primeira vez determinar a estrutura de um planeta de pequeno tamanho e colocar em evidência o fato de que ele é composto principalmente de água, como Urano e Netuno. As observações efetuadas em abril no Observatório Francois-Xavier Bagnoud (OFXB), em Saint-Luc, na Suíça, do trânsito ou passagem em frente à estrela permitiram colocar em evidência uma ligeira redução da luminosidade da estrela GL 436 -, na realidade, uma pequena anã-vermelha – situada à distância de 30 anos-luz da Terra.
Desde 2004, sabia-se que essa estrela possuía ao seu redor um pequeno planeta com 22 vezes a massa da Terra, em órbita de 4 milhões de quilômetros (0,03UA) de sua estrela, no momento preciso no qual o planeta passava entre sua órbita e a Terra. Esse fenômeno, chamado trânsito, foi confirmado pelos telescópios, em Israel, e medido com precisão pelo telescópio Euler, do observatório astronômico da universidade de Genebra, situado no Chile. A medida desse trânsito permitiu calcular o diâmetro do planeta em 50 mil quilômetros, ou seja, 4 vezes aquele da Terra. Essa medida permitiu determinar que o planeta é composto principalmente de água. Se o planeta fosse constituído de hidrogênio e hélio, como Júpiter e Saturno, ele seria maior, e se ele fosse composto de rocha e ferro, como a Terra, Marte ou Vênus, ele seria muito pequeno.
Segundo Michael Gillon, chefe da equipe responsável por essa descoberta, ela representa o passo mais importante no caminho que vai conduzindo à detecção e à caracterização dos planetas semelhantes à Terra. Essa descoberta é tanto mais extraordinária pelo fato de o observatório Francois-Xavier Bagnoud (OFXB) de Saint-Luc, na Suíça, dedicar-se, quase exclusivamente, à vulgarização e ao turismo, segundo registrou o astrônomo Brice-Olivier Demory do observatório de Genebra e membro do Comitê científico do OFXB.
Esse planeta de água pode estar coberto por uma camada de gás constituída de hidrogênio e hélio como Netuno e Urano; ou coberto de água como a maior parte dos satélites de Júpiter, em especial Encélado. A proximidade entre o planeta e a sua estrela central é tão elevada que causa um efeito estufa, o que permite estimar que a sua temperatura superficial seja superior a 300ºC. Se sua atmosfera contivesse muita água, ela deve estar na forma de vapor.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 85 livros, entre outros, ?Atlas Celeste?.
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Gelo exótico não existe sobre a Terra
No interior do planeta, a água deve se encontrar no estado sólido exótico, que não existe sobre a Terra, mas que os físicos têm reproduzido nos laboratórios. Segundo Frederico Ponte, pesquisador do observatório de Genebra, a água tem com efeito vários estados sólidos. Ela se transforma, de início, em líquido e, em seguida, em sólido mais denso que a água e o gelo, da mesma maneira que o carbono na forma de grafite se transforma em diamante sob o efeito de uma grande pressão. Os físicos chamam essa forma de água sólida ?gelo VII ou gelo X?. Se os nossos oceanos fossem mais profundos, essa forma exótica de gelo se formaria no fundo. No planeta Gliese 436, esse curioso gelo se encontra na mais alta temperatura. No centro do planeta se encontra realmente um núcleo rochoso de dimensões comparáveis ao núcleo da Terra.
O satélite Corot – que foi lançado em dezembro de 2006 – terá a capacidade de detectar planetas semelhantes àqueles que acabamos descrever ao redor da estrela GL 436 e até menores. O programa Corot, do qual os astrônomos franceses, belgas, suíços e brasileiros participam, permitirá prosseguir com essas descobertas, assim como o estudo e exploração dos planetas oceanos e dos planetas rochosos como a Terra. (RRFM)