Fórum mundial discute regiões polares

Para tentar explicar o funcionamento dessas regiões, sua influência sobre o globo e a interação do homem e suas conseqüências, pesquisadores do mundo todo se preparam para o IV Ano Polar Internacional. Com atividades de campo marcadas entre março de 2007 e março de 2009, e ainda uma programação de palestras e investigações laboratoriais até 2011, o Ano Polar é um fórum mundial que pretende discutir e aprofundar as pesquisas sobre as regiões polares e os efeitos no ambiente mundial.

O principal objetivo dos organizadores é conduzir uma campanha internacional e integrada de pesquisas multidisciplinares nos pólos Sul e Norte, com o objetivo de aprofundar e reconhecer os fortes laços dessas regiões com o resto do mundo. O último Ano Polar aconteceu ainda no século passado, nos anos de 1957/58.

A pesquisadora Edith Fanta, bióloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é uma das coordenadoras da participação brasileira no Ano Polar Internacional. Para ela, além de promover o diálogo e a mobilização, o evento abre, no caso brasileiro, a possibilidade de maior cooperação internacional coordenada no campo das pesquisas antárticas. “O fórum representa um grande momento para a comunidade científica internacional, pois é a oportunidade para montarmos um painel com as ações dos países que trabalham nos dois pólos “, avalia.

O pesquisador Jefferson Cardia Simões, glaciologista e integrante do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vai além e vê no Ano Polar a possibilidade do Brasil firmar sua posição científica e soberana no continente. “O Brasil precisa ocupar um papel de liderança entre os países em desenvolvimento presentes na Antártica. Para isso, nossa participação no Ano Polar Internacional será decisiva para definir o status político do País dentro do continente. Se participarmos ativamente das pesquisas científicas na região, alcançaremos esse papel de liderança. Mas se não conseguirmos aumentar nossa participação científica decorrente de um empenho financeiro -, seremos relegados a um papel secundário nas discussões de uma região equivalente a 10% da área do Planeta”, diz.

Pesquisas

Entretanto, não é preciso esperar para saber a importância das pesquisas nas regiões polares e, especificamente no caso do Brasil, na Antártica. A cobertura de gelo antártico, por exemplo, tem papel fundamental no sistema ambiental. Ela é um dos principais controladores do clima no Planeta e do nível do mares, além de guardar nas suas camadas os registros da evolução e de eventos remarcáveis da atmosfera da Terra e das ações do homem nas últimas décadas. As águas profundas do Oceano Austral Antártico, muito frias e densas, estão relacionadas com o processo de formação de correntes marítimas em todo o globo. A fauna marinha da região, bastante especializada e com características únicas, é um dos caminhos para a compreensão dos processos de evolução e adaptação de diversas espécies.

Hoje, no Brasil, existem mais de quinhentos cientistas envolvidos com a pesquisa polar, especialmente a Antártica. De estudantes de graduação a pós-doutores, esses cientistas, espalhados em diversos pequenos núcleos, distribuídos por vários estados, cobrem as três principais linhas de pesquisa no continente gelado – Geociências, Atmosfera e Vida.

O Programa Antártico Brasileiro (Proantar), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), é responsável pela seleção e acompanhamento das atividades científicas, enquanto o gerenciamento das operações é feito pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SeCIRM), e as análises de impacto ambiental das atividades propostas ficam a cargo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conformidade com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

Edith Fanta, com mais de 20 anos de experiência e pesquisas na Antártica, faz parte desse grupo de pesquisadores. A professora desenvolve trabalhos sobre a adaptação de espécies de peixes ao ambiente antártico. Ela vê o continente como um imenso laboratório para os biólogos, onde podem ser encontrados organismos que sofreram um longo processo de adaptação e evolução, cuja compreensão tem reflexos no entendimento de processos semelhantes em outros locais do Planeta. Como exemplo, Edith cita algumas espécies de peixes próprias da região que, ao produzirem proteínas anti-congelantes, resistem a temperaturas mais baixas do que outras espécies. O resultado disso é que, atualmente, cientistas estudam aplicações dessas proteínas na criomedicina principalmente no processo de transplante -, e como possíveis substitutos de anestesias.

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