Cientistas descobriram micróbios sintetizadores de metano a 3 quilômetros de profundidade no gelo da Groenlândia. Além de dar mais uma prova de resistência da vida na Terra, o estudo levanta a possibilidade de que o metano observado na atmosfera de Marte seja de origem biológica. Ou seja, mais uma hipótese de vida no planeta vermelho, escondida sob o manto das calotas polares.
A lógica dos cientistas é que, se micróbios conseguem sobreviver nessas condições aqui na Terra, talvez consigam fazê-lo também em outros planetas. "A bússola da nossa busca por vida em Marte é a vida como a conhecemos aqui na Terra", diz o físico Paulo de Souza Júnior, da Companhia Vale do Rio Doce, que participa das missões da Nasa com os jipes Spirit e Opportunity em Marte.
O metano é um gás tipicamente produzido por metabolismo biológico em condições anaeróbicas (livres de oxigênio), a partir da decomposição de matéria orgânica. Pode também ser proveniente de atividades geológicas, mas nada que ofereça uma explicação convincente para as grandes concentrações do gás na atmosfera marciana. Uma possibilidade – reforçada agora pelo estudo na Groenlândia – é que o metano seja produzido por vida microbiana nas calotas polares.
Os organismos descobertos pelos pesquisadores são do tipo Archaea. Aprisionados no gelo há mais de cem mil anos, eles permanecem vivos aproveitando quantidades ínfimas de nutrientes apenas para manter a integridade física de seu DNA e de outras moléculas essenciais. Em vez de dióxido de carbono (CO2), produzem metano como subproduto do metabolismo.
O estudo, liderado por Buford Price, da Universidade da Califórnia em Berkley, está publicado na revista PNAS.