A Via Láctea tem muito mais estrelas solitárias do que em duplas, exatamente o contrário do que se pensava até hoje. Por conseqüência, mais planetas podem existir na nossa galáxia. Essa é a conclusão de um trabalho do astrônomo americano Charles Lada, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica. Ele refez os cálculos sobre tipos de sistema que devem existir na Via Láctea, detalhados na última edição on-line da revista especializada Astrophysical Journal Letters.
A lógica que regia a natureza das estrelas era a seguinte: o Sol seria uma exceção, pois mais da metade das estrelas parecidas com ele faz parte de sistemas binários – então, essa seria a formação da maioria das estrelas da galáxia
Lada acrescentou um novo dado nesse jogo de conclusões: 85% das estrelas não são parecidas com o Sol, e sim anãs-vermelhas, estrelas com um quinto da massa do Sol e muito menos brilhantes. Além disso, 75% das anãs-vermelhas estão sozinhas. Portanto, a maior parte das estrelas da galáxia vive só.
O astrônomo brasileiro Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo, explica que o número de estrelas decresce exponencialmente à medida que a massa aumenta. "Para cada estrela com mais de 60 massas solares existe 1 bilhão de estrelas com massa menor", diz. "Ou seja, no total da Via Láctea existem apenas umas duas centenas de estrelas com mais de 60 massas solares para algumas centenas de bilhões de estrelas de massa menor."
A conta aponta para novas análises da formação estelar. Mas a extrapolação mais atual da conclusão de Lada é seu efeito na busca por planetas além do Sistema Solar.
É muito mais difícil para um planeta se formar quando há duas estrelas juntas porque a força gravitacional que elas exercem perturba o disco de matéria-prima, impedindo seu surgimento. Os planetas encontrados até este momento ao redor de sistemas binários são poucos e giram muito longe do par ou em torno de apenas uma das estrelas.
A força gravitacional exercida por uma estrela solitária é muito mais fraca, o que torna a formação de um planeta mais provável. Se existem mais sistemas simples na Via-Láctea, a chance de existirem corpos formados em órbita também é maior. A suposição ganha peso com o anúncio, na semana passada, da descoberta de um planeta parecido com a Terra que gira em torno de uma anã-vermelha.
Porém, mais planetas não quer dizer maior possibilidade de se achar vida fora da Terra. "Essas estrelas não são biologicamente interessantes pois têm uma zona de água líquida, que indica habitabilidade, muito pequena, e alto índice de variabilidade", diz Damineli. "As estrelas biologicamente interessantes continuam sendo as de massa próxima à do Sol", conclui.
Astrônomos desvendam mistério na galáxia
São Paulo (Agência Fapesp) – Em meio à Via Láctea, uma região intrigava os astrônomos há anos, a ponto de ter se tornado conhecida como o Triângulo das Bermudas da galáxia. Agora, o mistério do inusitado pedaço do céu, fonte de misteriosas emissões de raios-X e gama, acaba de ser resolvido.
Um grupo de astrônomos descobriu que a fonte das estranhas emissões é um aglomerado massivo de supergigantes vermelhas. A formação impressiona pela magnitude, com massa cerca de 20 vezes maior do que os aglomerados de estrelas conhecidos.
Supergigantes vermelhas são as maiores estrelas de que se tem notícia, tão grandes que se encontram a ponto de explodir. Para ter uma idéia do tamanho, se uma supergigante vermelha fosse colocada no centro do Sistema Solar ela chegaria até a órbita de Júpiter.
Com o uso de equipamentos de infravermelho, que conseguiram penetrar na densa camada que cobre grande parte da galáxia, os pesquisadores descobriram o aglomerado com 14 supergigantes vermelhas. Segundo eles, há ainda uma enorme quantidade de estrelas menores, que faz o aglomerado ter massa superior a 20 mil massas solares.
Estima-se que existam apenas umas poucas centenas desse tipo de estrela na galáxia. Até agora, o maior aglomerado encontrado tinha cinco supergigantes vermelhas. "É estranho que exista um aglomerado espetacularmente brilhante na Via Láctea que só observamos agora", disse o líder do grupo de pesquisa Don Figer, do Instituto de Tecnologia de Rochester, nos Estados Unidos, em comunicado da instituição. "O motivo é que não tínhamos tecnologia de infravermelho (para observação) até recentemente. Por isso, estamos agora escaneando toda a galáxia."
Os pesquisadores utilizaram um espectrógrafo construído por uma equipe liderada por John MacKenty, do Instituto Científico do Telescópio Espacial (STScI). O instrumento é capaz de capturar dados de cem estrelas de cada vez, algo inimaginável até pouco tempo e que tornou possível a observação do aglomerado de supergigantes.
Figer apresentou a descoberta do aglomerado no encontro da Sociedade Astronômica Norte-Americana, realizado em Washington em janeiro. "Essa é a amostra mais rica encontrada até hoje de estrelas se preparando para explodir. Nós não sabemos o que ocorre nesse estágio final e agora temos oportunidade de entender melhor o processo", disse Figer, em comunicado do Instituto de Tecnologia de Rochester.