Espécies exóticas invasoras transformam-se em novas pragas

De árvores a microorganismos, as espécies exóticas invasoras trazem prejuízos à economia, ao meio ambiente, à agricultura e à saúde em todo o mundo. Elas são a segunda causa de perdas da biodiversidade – só perde para a falta de habitat provocada pela intervenção humana. Desde o século passado já contribuíram para a extinção de 39% dos animais. Um levantamento feito nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Índia, África do Sul e Brasil apontou que os prejuízos com as espécies exóticas invasoras chegam a US$ 230 bilhões ao ano – só no Brasil seriam R$ 50 bilhões em perdas -, ou US$ 240 por habitante.

Com base nesses dados, estima-se que mais de 480 mil espécies já foram introduzidas nos diversos ecossistemas da Terra. Dessas, considera-se que entre 20% e 30% são pragas com grande potencial de causar problemas ambientais. ?E somos nós que estamos pagando por esses prejuízos, pois se formos pensar, por exemplo, na agricultura, um problema de pragas causado por uma espécie invasora vai necessitar de mais investimentos nessa produção, o que vai resultar em um preço final maior?, comentou o gerente de Recursos Genéticos do Ministério do Meio Ambiente, Lídio Coradin.

O gerente explicou que existem duas formas de introduzir espécies exóticas ao meio. A involuntária é através do transporte marítimo (como a água de lastro dos navios), terrestre (como sementes e espécies animais que vem junto com cargas e passageiros), aérea (lixo, plantas e cargas trazidas de outras regiões). Já as voluntárias acontecem da necessidade de suprir uma carência, como a ampliação de áreas de reflorestamento, importação de medicamentos e produção de alimentos. Coradin explicou que em muitos casos as espécies exóticas são benéficas e necessárias, como na agricultura com culturas como a soja, milho, arroz, trigo e batata. ?Esses alimentos respondem por 60% da energia do ser humano?, comentou o gerente, acrescentando que das 12 espécies indicadas pela FAO como importantes na alimentação, apenas a mandioca é brasileira.

Sul

Porém, a grande preocupação são com as espécies exóticas invasoras. Um dos exemplos é o pinus, muito difundido no Paraná. A espécie, que é comercial, espalha suas sementes a grandes distância, e multiplica-se em áreas de campos e em unidades de conservação, contribuindo para extinção de espécies nativas. Outro exemplo é capim anoni, que é originário da África, e foi trazido para o País como espécie resistente, mas se tornou uma praga. Lídio Coradin comenta que só no Sul do Brasil mais de um milhão de hectares foram invadidos pelo capim. ?Se pensarmos que em cada hectare se produz 50 quilos de carne, com um boi vivo ao custo de R$ 1,50 o quilo, estamos perdendo R$ 75 milhões pelo capim anoni?, afirmou.

Um levantamento preliminar do Ministério do Meio Ambiente apontou que existem no Brasil 190 espécies invasoras que afetam o sistema terrestre, 8 que afetam o marinho, 38 as águas continentais, 138 a produção e 220 a saúde humana. A grande maioria delas é encontrada no Sul. O gerente explica que a região possui a maior movimentação de cargas e pessoas vindas de diversos países e estados, o que faz com que acabe recebendo essas espécies com maior freqüência.

Meio Ambiente prepara um informe nacional

O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (ProBio), está elaborando um informe nacional sobre espécies exóticas invasoras no Brasil. O estudo trará uma listagem desses organismos e os impactos causados por eles na agricultura, pecuária, nos mares e na saúde. Além disso, o documento apontará quais ações serão necessárias para prevenir, controlar e erradicar o problema. Os resultados da pesquisa serão divulgados até o fim do ano.

O gerente de Recursos Genéticos do ministério, Lídio Coradin, diz que entende como prioridade rever a legislação existente sobre o assunto. Além disso, entende que os governos, nas esferas federal, estadual e municipal, precisam ver as espécies exóticas invasoras como uma prioridade. Ele destacou ainda que a partir de um seminário, realizado em Brasília no início do mês, diversas instituições deverão continuar fomentando o tema, ?já que precisamos definir linhas de pesquisa, sensibilizar a sociedade e montar estratégias de ação para detecção, controle e prevenção?. (RO)

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