A família Einstein, apesar ser de origem judia, encontrava-se no caminho de se germanizar, assim como a maioria dos judeus alemães. Ela havia rompido com a sua tradição e só reconhecia a sua cidadania alemã.
Até os 35 anos, Einstein acompanhou em todos os pontos essa evolução. Ele ignorava a sua natureza judaica. Não queria mais ser simplesmente judeu, acreditando que essa ruptura faria desaparecer o anti-semitismo. Durante a Primeira Guerra Mundial, fez parte de um pequeno número de universitários alemães que se opunham publicamente a qualquer forma de militarismo inclusive o germânico. Foi justamente o contrário o que ocorreu. No dia seguinte a sua derrota, na Primeira Guerra Mundial, ocorreu um brutal ressurgimento do anti-semitismo na Alemanha, justamente no momento em que Einstein se tornava uma celebridade. Seu engajamento, em favor das teses pacifistas e sionistas, fê-lo alvo privilegiado dos anti-semitas e da extrema direita alemã. Até mesmo as suas teorias científicas foram objetos de ataques públicos e, particularmente, a teoria da relatividade.
Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, Einstein foi obrigado a deixar a Alemanha, emigrando inicialmente para Paris, em seguida para a Bélgica, antes de se instalar nos EUA, onde ocupou uma cátedra no Instituto de Estudos Avançados em Princeton até a sua morte em 1955. Ao assumir a defesa do sionismo, Einstein rompeu com o pacifismo dando ênfase a ameaça que representava para a humanidade o regime nazista.
Ao se tornar o judeu mais conhecido da Alemanha, Einstein se tornou alvo do ataque anti-semita a partir de 1920. Sua reação foi reivindicar ou reclamar a volta à cidadania judia, reafirmando seu apoio e solidariedade aos judeus dos países do leste que procuravam refúgio na Alemanha. Ele se associou ao movimento sionista ao fazer uma turnê pelos EUA, em 1921, com a finalidade de recolher recursos necessários para a construção de uma universidade hebraica em Jerusalém. Este engajamento levou-o a entrar em conflito com as burguesias judia alemã, que o obrigou a assumir uma posição judaica que não fosse o simples retorno à religião dos seus antepassados. Ao se situar em favor do ideal sionista chocava-se com o seu ideal da juventude antimilitarista e/ou pacifista, internacionalista e/ou antinacionalista. No início, se opôs à criação de um estado judeu, fundamentado no nacionalismo e no exército. Tudo que detestava. Ele sempre sonhou com uma confraternização na Palestina entre os judeus e os árabes.
Exilado nos EUA em 1933, multiplicou as intervenções em favor dos judeus que fugiam da Alemanha nazista e tentavam emigrar para os EUA. Durante a Segunda Guerra Mundial, Einstein julgou as autoridades alemãs responsáveis pelos crimes nazistas, não as perdoando jamais. Numa revanche, associou-se ao novo estado de Israel, o único país com o qual se sentia intimamente ligado por motivos humanitários e por razões associadas à defesa do povo judeu.
Em 1939, a pedido de outros físicos, Einstein aceitou escrever uma carta ao presidente norte-americano Franklin Roosevelt, prevenindo-o do perigo a que o mundo se encontrava exposto, se o governo alemão se comprometesse no caminho do desenvolvimento das armas que utilizavam a energia nuclear. Essa famosa carta foi a origem do projeto Manhattan – programa norte-americano de pesquisa que visava a construção de uma bomba -, em cuja elaboração Einstein não tinha nenhum papel fundamental, ao contrário do que ocorria com os seus colegas, dentre eles o italiano Enrico Fermi e o dinamarquês Niels Bohr. Em 1945, quando compreendeu que esse programa se tornaria uma realidade, tomou a mesma iniciativa de escrever uma nova carta a Roosevelt, para solicitar que se renunciasse às armas nucleares.
Em 1952, David Ben Gurion ofereceu a Einstein a Presidência da República de Israel. Ele recusou, mas fez da universidade hebraica de Jerusalém sua herdeira universal.
Após a guerra lutou em favor do desarmamento internacional mundial, ao mesmo tempo que continuava a apoiar a causa de Israel. Seus engajamentos em favor da causa social e política foram às vezes irrealistas, visionários. Com efeito, suas proposições foram sempre cuidadosamente elaboradas. Assim como as suas teorias científicas, elas foram elaboradas por uma poderosa intuição, baseada numa avaliação perspicaz e profunda da prova e da observação. Embora Einstein tenha consagrado uma grande parte da obra à defesa política e social, as ciências ocuparam uma posição de primeiro plano em seus trabalhos. De fato, ele dizia com freqüência que a descoberta da natureza do universo seria a única que teria um significado durável.
Na realidade, Einstein foi, por excelência, o herói de um romance, ou seja, um personagem idealista que viveu em conflito com o que pensava poder construir, mas que o destino e o mundo hostil impossibilitou se tornasse uma realidade. Sob esse ponto de vista, sua vida é de uma limpidez extraordinária. Durante os primeiros 40 anos da sua vida, Einstein foi o que gostaria de ser e na segunda parte viu que tudo o que tentou construir foi destruído por governos insensíveis dominados pela sede de poder. Poderíamos associá-lo à imagem do Capitão Nemo, personagem das Vinte mil léguas submarinas de Júlio Verne, um terrorista pacifista que construiu tudo aquilo que sua imaginação criativa e idealista concebeu; mas que, por não confiar nos governos, preferiu destruí-los, pois se recusava a entregá-los aos poderes irresponsáveis que dominaram e ainda dominam as nações. Aliás, como o Capitão Nemo, Einstein amava o mar, a liberdade e a música.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 70 livros, entre outros livros, do "Explicando a Teoria da Relatividade". Consulte a homepage: www.ronaldomourao.com