Ecologia e nova economia

Políticas públicas têm o slogan de “Pensar globalmente, atuar localmente”. Mas há entraves para que tal se concretize, pois a economia não é pensada em caráter regional. Nenhum país é mais autônomo no Terceiro Mundo. A dependência externa é constante e as decisões são lentas – pressões internacionais desencorajam a soberania.

Economia e ecologia têm fios entrelaçados no conceito e na globalização. Nas ações corporativas industriais percebe-se que o eu perde o centro do processo social, substituído por consumidor. O processo comercial tornou-se uma ideologia falsa, que mesmo apresentada como sinal de progresso para as populações, ao mesmo tempo cria ansiedade diante do despreparo cultural do cenário.

Apresenta-se como solução para a crise ecológica que o mundo atravessa em algumas regiões a “expansão do sistema de mercado”. O próprio conceito de ecologia ligado ao termo “desenvolvimento sustentável” está sendo desmistificado diante do despreparo e do desinteresse que se observa, apesar da atuação vigilante de ONGs, cuja ação é sempre limitada.

Coloca-se o ecologismo em conceitos filosóficos e éticos. Mas não se avança, porque a atuação política da economia plantou-se com raízes. Os mercados são transnacionais acima dos estados; controlam e regulam a economia. Chega a ser bizarro o fato de corporações poluidoras, criarem e manterem fundações em defesa do meio ambiente poluem por um lado e defendem o controle pelo outro. É difícil acompanhar este raciocínio.

Schwarz (1990, p. 27) complementa os conceitos que amparam esta economia: “As “leis” econômicas adquiriram importância igual às das leis promulgadas pelos parlamentos, e conceitos como crescimento, desenvolvimento, monetarismo, etc., ganharam status de preceitos morais. […] A economia contabiliza custos e benefícios mensuráveis em dinheiro, ignorando a realidade humana que lhes é subjacente. Isto combina com os postulados da sociedade industrial, que transformou em produtos comercializáveis não apenas o trabalho, mas também a saúde, a habitação, a educação, o lazer e até a arte”.

Governos e entidades ambientalistas debatem o envio de gases à atmosfera. É importante verificar a conexão que faz La Rovere (1992, p. 77) entre “a questão da democracia e o planejamento ambiental” no Brasil. Esta relação contrapõe-se, como diz o mesmo autor, “[…] à lógica do liberalismo e evidentemente à de um projeto neoliberal”.

Para reduzir o impacto da poluição atmosférica há que se criar um conceito desfavorável para os processos produtivos e a escolha das matérias-primas e seus teores que vão compor os produtos finais. Afinal, não é apenas a grande indústria que polui, mas também os processos produtivos dos fornecedores.

A sociedade deveria participar de um debate a que não está acostumada, das decisões vitais para o meio ambiente. Hoje, tudo surge pronto no mercado, em razão do forte componente tecnológico corporativo e multinacional que invade o país. E o consumo é ativo com forte “imitação” desenvolvida pela propaganda massiva. Diz La Rovere (1992, p. 87) que: “É justamente no aparelho de consumo que se coloca mais fortemente a possibilidade de conservação de energia e de matérias-primas, com a redução de impactos ambientais”.

A escala do exercício prático da democracia e da participação da sociedade determina o grau que se pode atingir para prioridades. Aspectos ambientais são colocados na medida em que democracia e cultura do povo respondam. Não é fácil chegar a este ponto, pois até o sistema escolar que podia colaborar na formação da infância e da juventude, nos seus diversos níveis, com raras exceções, ainda está longe de se caracterizar como multidisciplinar nas relações com o meio ambiente.

BIBLIOGRAFIA: LA ROVERE, Emílio. Ecologia, ciência e política. Rio de Janeiro: Editora Revan. 1992; SCHWARZ, Walter e Dorothy. Ecologia: alternativa para o futuro. São Paulo: Editora Paz e Terra. 1990

Alexandre Silva S. Lôbo é professor, consultor, doutor em Ciência do Meio Ambiente, mestre em Sociologia, pós-graduado como analista do Desempenho Escolar e graduado em Sociologia Política e Administração Pública.

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