A terça-feira de 29 de março de 2006 é esperada por todos os caçadores de eclipses como uma data muito importante. Com efeito, o nosso satélite natural passará pela frente do Sol provocando uma totalidade de mais de 4 minutos, a mais longa desde 21 de junho de 2001. Essa totalidade será visível numa faixa de menos de 200km de largura e 14.500km de comprimento que vai do Brasil à Mongólia, passando pela África. Para os brasileiros, é ainda mais importante, pois o próximo eclipse total do Sol no Brasil só vai ocorrer em 2 de agosto de 2046. No entanto, quatro eclipses anulares do Sol irão ocorrer no Brasil, nos próximos trinta anos: o primeiro ainda em 2006, na cidade de Oiapoque, em 22 de setembro; o segundo, em 14 de outubro de 2023; o terceiro, em 26 de janeiro de 2028; e o quarto, em 12 de setembro de 2034.
O eclipse de terça-feira -quarto eclipse total do século XXI – será visível sob forma parcial praticamente em quatro continentes: a leste da América do Sul, África, Europa e a oeste da Ásia. A faixa de totalidade inicia-se no nordeste do Brasil, atravessa o Oceano Atlântico Sul, em seguida o norte da África (Gana, Togo, Benin, Nigéria, Niger, Tchad, Líbia, e o extremo noroeste do Egito). Após atravessar o Mediterrâneo a faixa de totalidade atravessa a Turquia, Geórgia, Rússia (sudoeste), o norte do Mar Cáspio, Cazaquistão, e de novo a Rússia até que venha acabar na fronteira nordeste da Mongólia.
O cone de sombra lunar tocará tangencialmente a superfície terrestre no Brasil às 8h34 TU. A faixa da totalidade medirá cerca de 250km do sul ao norte e desfilará para o leste com a velocidade de 9km/s, ou seja, 32 mil e 400km por hora. O tempo da totalidade será de cerca de 2 minutos sobre as costas brasileiras. Após atravessar o Oceano Atlântico, a sombra alcançará o continente africano em Gana, às 9h08 TU. O Sol se apresentará então a 44º acima do horizonte e a totalidade irá durar 3 minutos e 24 segundos. Penetrando pelo interior do continente, a mancha da obscuridade varrerá Togo, Benin, Nigéria, Níger, Tchad e a Líbia. O máximo do eclipse vai ocorrer às 10h11 TU, quando a sombra, que mede nessa ocasião 184km de largura e se desloca a 2.500km/h (menos de 0,7 km/s), atravessará a fronteira entre Tchad e a Líbia; o eixo da sombra lunar passará a menos de 2.450km do centro da Terra, quando a totalidade vai durar 4 minutos e 07 segundos e o Sol estará a 67º de altura em relação ao horizonte. Prosseguindo o seu caminho pelo coração do deserto libiano em direção ao nordeste, a trajetória da sombra atingirá as costas mediterrâneas às 10h40.
O extremo norte egípcio conhecerá então os efeitos de um eclipse total que vai durar 3 minutos e 58 segundos. A sombra vai atravessar o Mar Mediterrâneo entre Creta e Chipre e em seguida se estenderá às costas da Turquia às10h54 TU. A sombra da Lua vai sobrevoar esta região em menos de 6 minutos. Às 11h10 TU, será a vez do Mar Negro de receber o pincel lunar; a sombra só medirá 165km e se deslocará com uma velocidade de 1km/s, o que provocará uma redução da duração da totalidade a menos de 3 minutos e 30 segundos. Desfilando pela Geórgia e pelo Caucáso, ela vai entrar pela Rússia varrendo o norte do Mar Cáspio antes de alcançar o Cazaquistão. Às 11h40 TU, altura do Sol será de 20º e a duração da totalidade será no máximo de 2 minutos e 31 segundos. Próximo do fim da sua viagem a sombra lunar vai se acelerar perdendo o contato com o solo terrestre na extremidade norte da Mongólia, às 11h48 TU.
A fase de totalidade no Brasil
A fase de totalidade terá início no extremo nordeste do Brasil. A melhor capital para observação será a cidade de Natal. O eclipse só será visível logo após o nascer do Sol, que vai ocorrer por volta das 5h34 TU pela manhã horário local. O Sol será portanto muito baixo no horizonte, cerca de 2º de altura com azimute de 87º para o leste, a partir do norte (ou 267º a partir do sul).
Este eclipse leva o número 7646 no Cânon de Oppolzer, pertencendo à série de Saros, número 139 (29/71) do Cânon de eclipse de Mucke e Meeus. Magnitude: 1,051.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 75 livros, entre outros, ?Anuário de Astronomia e Astronáutica 2006?. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com
