É possível desaprender a vergonha de ficar pelado?

Há muito tempo atrás, mulher pelada era coisa comum em todo lugar. Nossos ancestrais conseguiam andar peladões e felizes por aí. Atualmente isso é impossível. Mas por quê?

Quem nunca teve aquele pesadelo clássico de estar pelado na escola, no trabalho ou na igreja? E por que a sensação de estar nu é tão ruim?

E como explicar os rebeldes que passam seus feriados andando peladões por praias nudistas? Eles insistem que nada poderia ser mais normal.

Um experimento promete explicar todas essas dúvidas que envolvem a nudez humana.

Oito pessoas “normais” (nenhuma freqüenta ou freqüentou uma praia de nudismo) foram recrutadas para uma filmagem na BBC de Londres. A proposta era explicar por que estar pelado é sinônimo de vergonha.

As mulheres do grupo se preocuparam se os outros participantes ririam delas. Entre os homens, a maior preocupação era “excitação inapropriada”.

Phil, de 39 anos, foi o primeiro a fazer o teste. Um pouco antes de se encontrar com os outros voluntários, ele foi colocado diante de um espelho de corpo inteiro e instruído a tirar todas as suas roupas. Quando ele descobriu que havia um outro espelho atrás dele, seu coração acelerou incrivelmente e seu rosto se tornou instantaneamente vermelho.

Kath, outra voluntária, de 40 anos, teve que passar pela mesma situação. Segundo ela, a sua vontade era de que o chão se abrisse e a engolisse.

A questão preocupava até Darwin. Afinal, ele descobriu que somos parentes dos macacos, e eles não andam por aí usando calças. Então o que temos de diferente dos outros primatas?

Claro, temos uma quantidade bem menor de pêlos cobrindo nossa pele. Darwin achava que era por causa do calor ao qual nossos ancestrais foram expostos, evoluímos com menos pêlos. Mas isso é contraditório, já que a maioria dos mamíferos usa os pêlos para proteger sua pele do Sol.

No entanto, temos uma habilidade única: podemos nos resfriar mais facilmente suando. Logo, está explicada a nossa falta de pêlo. Para alguns especialistas, se não fosse o suor, não teríamos nos desenvolvido tanto, nosso cérebro não seria tão grande e não criaríamos ferramentas para facilitar nossa vida. O suor permitiu que nosso cérebro crescesse.

Até aí dá pra entender o porquê de nossa nudez, mas não a vergonha dela.

Voltando ao experimento, depois de outra série de situações, tanto Phil como Kath ficaram cara a cara com outro colega voluntário pelado. A tarefa deles, agora, era pintar o corpo do companheiro, usando cores que demonstravam o quanto se sentiam envergonhados em tocar determinada parte do outro (vermelho significava que a pessoa estava extremamente desconfortável, amarelo desconfortável e verde era “confortável).

Phil pintou os genitais do outro voluntário de vermelho. Kath, no entanto, depois das outras situações, perdeu sua inibição: pintou o corpo inteiro de seu companheiro de verde. Sim, cada pedacinho dele.

Isso é um exemplo de como a atitude das pessoas é flexível, em relação à nudez. E isso explica o porquê de nudistas estarem confortáveis vivendo ao seu modo.

Depois de mais alguns dias de nudez, os voluntários do experimento já não se sentiam desconfortáveis. Haviam “aprendido” uma nova convenção, na qual era permitido ficar pelado.

O fato fortaleceu as teorias de que não nascemos com vergonha da nossa nudeza, nós aprendemos a nos envergonharmos, com a sociedade.

Somos mais sociáveis do que qualquer outro primata, vivendo em grupos maiores. E, durante milhares de anos, vivemos em comunidades que nos dizem que a nudez não é aceitável.

Não é aceitável porque envia sinais sexuais que estimulariam as pessoas a trair seus parceiros. A exposição do corpo mostra nosso “material” e nos tornamos suscetíveis a sinais de que queremos trair a nossa principal relação. Logo, surgiu o costume de cobrir o corpo para evitar esse tipo de situação. E mesmo na nossa sociedade, tão avançada, ainda concordamos com esse costume.

E a vergonha é o sentimento ideal a ser “ligado” com a nudez. Como a vergonha “dói”, não nos sentimos compelidos a sair por aí peladões. E é um sentimento tão visível que todos a sua volta conseguem perceber que você fez algo errado e sabe disso, quando o rosto se avermelha. [BBC]

 

 

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