Foto: Anderson Tozato/O Estado |
Alceu Britto: ?O interesse dos alunos pela programação de jogos superou nossas expectativas?. |
Já é quase lugar-comum afirmar que a importância dos jogos eletrônicos suplantou a de muitas outras mídias, como o cinema, por exemplo. Em 2005, os videogames renderam ao redor do mundo cerca de US$ 10,5 bilhões em 2005, 6% acima do atingido em 2004. Mesmo o mercado brasileiro, pródigo em produtos piratas, tornou-se rentável para as produtoras de games, especialmente para telefones celulares.
E mesmo com uma indústria incipiente, empresários e especialistas do setor estão investindo cada vez mais na criação de novos cursos na área. Já são 21 instituições com, pelo menos, 53 cursos -entre on-line, técnicos, graduação, extensão e pós-graduação – no Brasil. Quase 60% dos cursos superiores concentram-se no Rio de Janeiro, em São Paulo e Pernambuco. Em Curitiba, por enquanto, apenas o UnicenP oferece um curso de extensão em Desenvolvimento de Jogos para Computadores.
No último dia 16, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) ensaiou os primeiros passos a fim de desenvolver um curso específico para o desenvolvimento de games em Curitiba, promovendo a 1.ª Mostra de Jogos Eletrônicos dos alunos do primeiro ano dos cursos de Computação da universidade. No evento foram apresentados os projetos de 15 jogos para computador e dois para celular.
?O interesse dos alunos pela programação de jogos superou nossas expectativas e já estudamos a criação de uma pós-graduação nesta área para breve?, revela o diretor do curso de Ciência da Computação da PUC-PR, Alceu de Souza Britto Junior. Os jogos eletrônicos que fizeram parte da mostra foram desenvolvidos por alunos de 1.º ano dos cursos de Bacharelado em Ciência da Computação, Bacharelado em Sistemas de Informação e Engenharia da Computação, e desenvolvidos dentro de uma atividade extracurricular, a Tutoria de Jogos, onde os alunos estudaram as técnicas de base para o desenvolvimento de jogos.
?Tínhamos uma grande dificuldade em aliar os conceitos iniciais de programação com o que se vê na prática, no dia-a-dia da profissão. Mas com os jogos, encontramos uma maneira de mostrar isso e ainda motivar os alunos?, diz Britto. Os games criados na PUC foram feitos para PC na linguagem C e em Java para os celulares. Quem estiver curioso para testar o resultado do projeto, pode acessar o site do evento (http://espec.ppgia. pucpr.br/jogos/) e realizar o download gratuito dos jogos.
Tutoria
O professor Paulo Radtke, coordenador da Tutoria, explica que os jogos da mostra foram desenvolvidos durante todo o ano de 2006. ?Os alunos tiveram contato com o processo de planejamento de software desde a primeira semana de aula, aliando conteúdo específico de programação de jogos. Assim produziram um jogo completo, desde sua concepção, definição de requisitos, projeto e programação?, explica.
A qualidade dos games ainda deixa um pouco a desejar, mas, na opinião do professor Claudio Carvilhe, que também participa da Tutoria, alguns alunos do curso realmente levam jeito para a coisa. ?Com a continuidade de alguns projetos, poderemos ter produtos bem finalizados?. É o caso do aluno Pedro Yamada, que afirma que depois da experiência de fazer um jogo, já pensa na possibilidade de seguir carreira na área. ?Dá para ganhar dinheiro e se divertir?, conta. Qual característica acredita ser mais necessária para quem quer se aventurar a criar um jogo? ?Gostar muito de games?.
Celular e web são mercados promissores
O professor Paulo Radtke, coordenador da Tutoria, diz que a boa notícia é que, para o brasileiro, o ?sonho? de trabalhar com games é perfeitamente possível de ser realizado. O país já produz jogos on-line, títulos voltados para comercialização no exterior, games para celulares e até mesmo os ?advergames?, utilizados em promoções publicitárias.
Mas ele diz que, como no Brasil, o orçamento para o desenvolvimento de games é modesto se comparado às cifras das produtoras americanas, por exemplo, que chegam a gastar US$ 10 milhões para um jogo de PlayStation 3, quem quiser trabalhar nesta área no país precisará partir para iniciativas diferentes que a dos jogos mais populares.
?Especialmente em jogos para celular, um mercado que está crescendo e que não demanda investimentos astronômicos. Tanto que para a mostra do próximo ano, já iniciamos conversas com as operadoras de telefonia celular para saber da possibilidade de patrocínio e até mesmo do aproveitamento dos games da PUC para download dos clientes?, revela.
Uma frente nesta área que cresceu bastante, a ponto de caracterizar o país como plataforma exportadora, é a do novo gênero batizado de advergames, joguinhos sensação na web, utilizados em ações publicitárias, que também têm crescido bastante e absorvido a oferta de mão-de-obra.
Segundo a pesquisa mais recente sobre o setor, conduzida pela Associação Brasileira de Games (Abragames), de 2004, foram contabilizadas 55 desenvolvedoras no país. Mais concentradas em São Paulo e Paraná, essas empresas também estão se multiplicando no Estado de Pernambuco. Segundo o estudo, cada companhia possui em média 15 funcionários.
Os salários, ainda segundo esta pesquisa, estão entre R$ 1 mil e R$ 5 mil. Mas os profissionais mais experientes chegam a ganhar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. O faturamento da indústria de games brasileira (excluindo as empresas multinacionais) foi de R$ 18 milhões em 2004, ano da pesquisa da Abragames.