Crescem as compras pela internet

Recorde de navegação e agora recorde de compras. Pela média de tempo que passa conectado à web, o brasileiro – ao menos os das classes A e B – já pode ser considerado especialista em utilização da internet. Em outubro, uma pesquisa revelou que o brasileiro é o maior navegador do mundo, tendo permanecido em média 18 horas e 42 minutos ligado à rede naquele mês. Não à toa, o comércio eletrônico cresceu 61% no último Natal, com o faturamento atingindo R$ 458 milhões. Esses dados revelam uma nova forma das pessoas, principalmente os jovens, relacionarem-se com o dia-a-dia e está até mesmo causando dor de cabeça para as empresas, que precisam desenvolver novas formas de controlar o uso que seus funcionários com acesso à grande rede fazem dela.

?O uso da internet não depende exclusivamente da posse do computador. Como grande parte dos internautas é jovem, o acesso ocorre também em escolas e telecentros e até mesmo pelos celulares?, explica Clifford Young, diretor-geral da Ipsos Opinion, empresa que realizou a pesquisa por encomenda do Comitê Gestor da Internet (CGI.br). Cerca de 60% dos entrevistados acessaram a rede por meio de computador pessoal, 2% através de laptops e 21% tiveram acesso à internet com a ajuda do telefone celular. ?Mas a renda e a educação da população brasileira são os dois principais determinantes para os índices de acesso à internet?, completa Rogério Santanna dos Santos, conselheiro titular do CGI.br e coordenador do projeto na entidade. Os representantes da classe A têm 46 vezes mais chances de ter um computador em casa do que os das classes D e E. Já entre quem usa a internet, essa mesma proporção cai para 20 vezes.

Compras

Para quem vende, o Natal é a data mais esperada do ano. E para as lojas on-line a espera é ainda mais doce, já que a cada ano que passa é garantia de faturamento maior. Os R$ 458 milhões movimentados pelo varejo on-line correspondem ao curto período de 15 de novembro a 23 de dezembro. Em comparação com o Natal de 2004, o crescimento foi de 61%. Em comparação com o Natal de 2003, o crescimento foi de 125%. A princípio, esperava-se um faturamento de R$ 420 milhões, porém, os resultados da pesquisa divulgada pela empresa de consultoria e-bit mostraram um crescimento quase 10% maior que a expectativa.

A médica curitibana Zoraide Almeida conta que fez as compras de Natal todas pela internet. ?Não precisei sair de casa, enfrentar filas e shoppings lotados. Além disso, acredito que a variedade de escolha na web já é maior do que nas lojas?, conta. E o medo de digitar o número do cartão de crédito ela diz que é um mito ou só está sujeito quem não tem um bom anti-vírus. ?Tenho amigos que já tiveram seus cartões clonados em restaurantes e nem por isso deixaram de sair para comer?, diz.

No ranking dos mais vendidos, os CDs e DVDs reconquistaram a liderança, com 19%, depois de ter perdido em participação para os livros e revistas em outubro e novembro, que estão empatados em segundo lugar com os eletrônicos, com 16%. Esta última categoria foi o destaque do Natal 2005, já que conquistou 9 pontos percentuais, em 2004 representava apenas 7%. O mês de dezembro fechou com faturamento 62% maior do que em 2004. Considerando todo o ano de 2005, o faturamento superou R$ 2,5 bilhões, cerca de 45% mais do que o ano anterior.

?Os negócios eletrônicos estão em acelerada expansão. Em 2005, foram entre 40% e 50% maiores que no ano passado. Mas podem e devem crescer ainda mais, se levarmos em conta o recorde de acesso do brasileiro?, afirma Cid Torquato, diretor executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net). Mas para tanto, explica, o Brasil precisa aprovar políticas públicas, regulatórias e de mercado, que garantam segurança tecnológica, comercial e logística à economia digital.

Mesmo assim, indo da maneira que está, Torquato acredita que em dois anos o Brasil pode se tornar um dos maiores países em movimentação econômica na internet. ?Com a guerra de preços entre provedores de acesso de banda larga, a base de assinantes brasileira deve se aproximar dos 10 milhões em 2006. Em 2007, as transações de produtos e serviços, bem como o P2P (peer to peer, ou operações diretas entre internautas) movimentarão algo em torno de R$ 30 bilhões em dois anos, quando o B2B já será de algo em torno dos

R$ 600 bilhões?, acredita. Além disso, a digitalização generalizada de processos pessoais, empresariais, comerciais e governamentais é absolutamente inexorável. Tratando-se de trabalhos temporários, um breve comparativo entre as lojas de shopping e o comércio eletrônico pode ser feito. Uma pesquisa da Alshop – Associação Brasileira de Lojistas de Shopping – mostra que no Natal de 2004 os shoppings contrataram cerca de 16 mil temporários em São Paulo, representam 26% do varejo brasileiro e faturaram

R$ 48,8 bilhões em 2004. Já o trabalho temporário nas lojas virtuais cresce significativamente a cada ano e começam sua contratação a partir do mês de outubro. Torquato afirma, com base em pesquisa realizada entre os sócios da Camara-e.net, que ?são gerados 4 mil postos temporários de trabalho entre as lojas, empresas de logística e telemarketing. Isto representa um aumento de 20% de empregados no comércio eletrônico brasileiro. Com este universo, conseguimos ter uma idéia de como, em tão pouco tempo, o comércio eletrônico começa a movimentar de maneira singela, mas significativa, a economia nacional?.

Juventude caracteriza o internauta brasileiro

Mas quem é esse brasileiro que está se preocupa em estar on-line pelo menos algumas horas do dia? De acordo com a pesquisa da Ipsos Opinion, além de ter poder aquisitivo, essa pessoa também tende a ser jovem, com no máximo 32 anos. Danielle Fernanda da Silva, de 16 anos, é uma delas. A jovem catarinense que estuda em Curitiba afirma que passa em média duas horas por dia em frente ao computador. ?Mas esse tempo, claro, pode passar disso?, avisa. E a principal utilização é a comunicação. ?A maior parte do tempo em que estou conectada estou conversando pelo MSN (popular programa de mensagens instantâneas), lendo e-mail ou navegando pelo Orkut?, conta.

Os brasileiros no Orkut, site de relacionamentos da gigante Google, perdem em número de participantes apenas para os japoneses, um fenômenos que ninguém consegue explicar. ?Como sou de Blumenau, aproveito as ferramentas da internet para falar com meus amigos e família por lá?, diz. Outra coqueluche dos jovens brasileiros é o download de arquivos, principalmente de músicas e filmes. ?Baixo muito MP3, mas principalmente porque aqui no Brasil o CD é caro e alguns títulos nem encontramos?, explica Danielle.

Sobre o estudo, Danielle diz que prefere desconectar o computador quando precisa se concentrar. ?Evito até ir na internet para sanar dúvidas, porque acabo me desconcentrando e quando percebo já estou novamente no Orkut.? Para a psicóloga Tânia Zurai, o jovem brasileiro tem muito apego pela internet por ser um terreno ?seguro?, já que a maioria têm facilidade com a tecnologia e assim evita ficar longe da violência urbana brasileira. ?Mas é preciso cuidado para que não se torne um vício e a pessoa deixe de realizar outras que atividades?, diz a psicóloga. Danielle conta já deixou de fazer outras coisas por conta das fofocas on-line. ?Principalmente quando devia esta descansando, acabo entrando para ver e-mails e me deixo levar?, revela. (DD)

Exagero de conexão já preocupa as empresas

Mas o exagero de conexão já preocupa as empresas onde os funcionários têm acesso fácil à rede, havendo um grande conflito sobre a utilização do tempo disponível para o trabalho. Existem especialistas que afirmam que apenas cinco ou seis horas são, de fato, trabalhadas (e isso sem contar com o fator internet). Com a generalização do uso de computadores e da internet, novas atrações vieram para desviar a atenção dos funcionários: sites, Orkut, MSN, Skype, por exemplo. Dados divulgados nos Estados Unidos mostram que o mau uso da internet faz com que as empresas americanas percam, a cada ano, US$ 178 bilhões (R$ 409 bilhões).

Para o economista e consultor João Baptista Sundfeld, especialista em planejamento estratégico e gestão empresarial, é preciso divulgar a importância da maior produtividade, como redução de custos e aumento da competitividade da empresa, e conscientizar as pessoas de suas responsabilidades e compromissos profissionais. O consultor propõe que os seguintes princípios sejam adotados: melhoria do nível educacional, autonomia funcional e criação de um ambiente de alta confiança.

?A educação altera percepções e conscientiza quanto às possibilidades para implementar novos processos. Além dos governos, cabe às empresas cuidar da melhoria do nível de seu pessoal. Recente pesquisa CNI/Ibope revelou que, no Brasil, 75% da nossa população não consegue ler nem escrever satisfatoriamente?, diz Sundfeld. ?A autonomia também é importante, pois indivíduos responsabilizados por metas têm desempenhos superiores, obtidos pela auto-supervisão. Um bom relacionamento interpessoal e acordos do tipo ganha-ganha geram confiança mútua e melhor produtividade?, completa.

O consultor acredita também que os princípios propostos estimulam o êxito no relacionamento entre empresas e funcionários. ?Maiores exigências disciplinares conflitam com a mentalidade do ser humano moderno quanto às liberdades individuais e ao natural desejo de trabalhar num ambiente no qual excesso de controle é indesejável?, afirma. (DD) 

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