Richard Wrangham é professor de antropologia da Universidade de Harvard, estudou chimpanzés na Tanzânia e tem uma opinião única sobre o que fez com que os humanos se tornassem diferentes de todos os outros animais: a nossa habilidade de cozinhar. Segundo o pesquisador, a idéia surgiu como resposta à questão de quanto tempo os humanos teriam sobrevivido sem o fogo. “Parecia para mim que ninguém poderia sobreviver sem isso”, diz.

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Em seu livro “Catching Fire” (sem edição em português), Wrangham demonstra como percebeu, enquanto vivia com chimpanzés, que um humano não teria conseguido viver com a mesma dieta de um destes animais, por exemplo. “Entre na floresta, encontre algumas frutas, e veja se você fica satisfeito”, questiona o autor. De acordo com ele, a grande dificuldade deste tipo de alimentação é que a densidade nutritiva é muito baixa. “Isto é problemático para os humanos porque temos o intestino pequeno, cerca de 60% do volume daquele dos grandes primatas”, explica. “Não temos intestino suficiente para manter alimentos de baixa qualidade no nosso corpo por tempo suficiente para digeri-lo”, diz.

Mudanças radicais

De acordo com o pesquisador, os corpos humanos passaram a mostrar adaptações há cerca de 1,9 milhões de anos atrás. Naquela época, nossos ancestrais eram semelhantes aos chimpanzés, mas começaram a andar em duas patas – o avanço das técnicas de cozinha levaram a um maior consumo energético. “A maximização do consumo de energia através do alimento permitiu que perdêssemos um terço do intestino e sofrêssemos uma enorme expansão do cérebro”, afirma Wrangham.

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As estimativas quanto ao início da humanidade com as técnicas de cozimento dos alimentos são confusas: algumas apontam que elas iniciaram há um milhão de anos, enquanto outras afirmam que começaram há apenas 50 mil anos. De qualquer modo, o autor acredita que o processo levou a uma divisão do trabalho entre os homens e as mulheres, pois cozimento impõe um atraso entre o momento da coleta de comida e o momento da refeição, o que significa que outras pessoas poderiam roubar a comida.

“Um modelo simples de relacionamento social teria um grupo de indivíduos dominantes – os machos – e um grupo subordinado – as mulheres – que cozinhariam protegidas pelos homens”, explica. Segundo o pesquisador, o padrão pode ser observado em muitas sociedades tribais – o que já o fez ser acusado de machismo. Quanto a esta acusação, o autor se defende explicando que esta é apenas uma descrição sobre o que supostamente acontecia há muito tempo. “As mulheres historicamente cozinham em todas as sociedades, exceto nas modernas e industriais, mas isso não significa que eu defenda este modelo e nem que acho que isso deva acontecer atualmente”, diz.

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Fonte: Cozinhar foi o que nos tornou humanos, diz pesquisador.