As mudanças climáticas que têm provocado transtornos e até tragédias em grande parte da região sul do País estão diretamente ligadas à devastação do ecossistema na Amazônia.
A conclusão é do especialista em Educação Ambiental, Rodrigo Berté, que ratifica a necessidade de conter as queimadas e o desmatamento na região amazônica para que sejam reduzidos os impactos no comportamento do clima no planeta.
De acordo com o cientista, o Brasil é, atualmente, o quarto maior emissor de gases causadores do efeito estufa, atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Austrália.
Segundo Berté, o País é responsável por 7,8% do total destes gases no planeta, a maior parte em decorrência de queimadas na região amazônica. “Se excluíssemos as queimadas na Amazônia, diminuiríamos esse percentual para menos de 1%”, afirma.
Berté, que também ocupou o cargo de assessor do Ministério do Meio Ambiente durante o governo FHC, lembra que, entre 2000 e 2005, as queimadas na maior floresta tropical do mundo representaram uma área do tamanho dos territórios de Portugal e da Espanha. “Houve uma redução, mas a coisa continua séria”, diz.
O especialista conta que nos demais fatores de emissão de gases, os avanços já podem ser mensurados. Segundo ele, o País superou a meta prevista pelo Protocolo de Kyoto, pelo qual parte dos países do globo se comprometeu a diminuir 5% da emissão de gases proveniente das empresas. “No Brasil isso já está acelerado. Há empresas que conseguiram até 14,5%”, diz.
Para Berté, o impacto para o clima decorrente da devastação na Amazônia pode ter se tornado quase que irreversível. Ele afirma que mesmo se houvesse uma redução de 50% no volume de desmatamento e queimadas não seria possível atingir o nível das condições ambientais de cem anos atrás. O jeito, segundo ele, é planejar ações para que a sociedade possa se adaptar aos cenários atuais de clima e meio ambiente.
Berté explica que a devastação do ecossistema gerou uma alteração do processo de evapotransposição da Amazônia, quando há uma condensação do vapor de água que, por sua vez, influencia nos índices pluviométricos de parte da Europa e das Américas Central e do Norte.
O especialista conta que no final de setembro e início de outubro, a intensidade de precipitações pluviais deveriam diminuir na Amazônia. Contudo, com as alterações na geografia e o aquecimento, as chuvas na região não diminuíram, fazendo com que a quantidade de vapor de água aumentasse e deixasse o clima úmido também em outras regiões.
Segundo Berté, o processo também incide sobre o clima no Atlântico Sul, o que, somado ao fenômeno La Niña (um resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial Central), desencadeia nas anomalias do clima na região sul do País. “Nesta época, início de primavera, a média pluvial em Curitiba deveria ser de 50 milímetros em um mês. No entanto, estamos tendo isso em apenas um dia”, diz.