São Paulo (AE) – Cientistas brasileiros acabam de desvendar um enigma geológico de 250 milhões de anos. Em um estudo que foi publicado na quinta-feira na revista Nature, eles explicam a origem de misteriosos morrinhos de pedra que brotam da paisagem rural de Anhembi, no interior paulista. Parecidos com morros de cupim petrificados, eles são cones fossilizados de antigos gêiseres que expeliam água fervente para a superfície durante o fim do período permiano. O estudo foi feito em colaboração com pesquisadores do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná, da Petrobras e do Instituto Geológico.
Segundo o pesquisador Jorge Kazuo Yamamoto, trata-se de uma formação raríssima para o período. "Não conhecemos no mundo uma estrutura antiga tão bem preservada", afirma o cientista, diretor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do projeto. "É um patrimônio geológico inestimável, que precisa ser preservado."
Os cones mais altos chegam a quase 2 metros de altura. Mais de 4,5 mil deles se espalham por uma área de apenas 1,5 quilômetro quadrado, ao longo da Represa Barra Bonita, na Bacia do Paraná. Os primeiros foram descobertos em 1972, mas até hoje não havia explicação concreta para sua origem.
Originalmente, propunha-se que eram estruturas chamadas estromatolíticas, construídas por colônias de cianobactérias. Mas o estudo derruba definitivamente essa tese.
Os cientistas analisaram a composição química dos cones e descobriram que eles são mais de 98% sílica, ou dióxido de silicato (SiO2), componente básico da areia de praia, e quartzo, um dos minerais mais abundantes da Terra. A conclusão é que eles foram formados pela atividade de gêiseres que traziam água superaquecida do subsolo.
Podendo passar dos 200ºC, a água dissolvia SiO2 da crosta, à medida que subia. E quando chegava à superfície, o resfriamento fazia com que a sílica se precipitasse ao redor na forma de um cone. "Teria de ser algo que se solidificasse muito rapidamente, pois não houve incorporação de outros sedimentos", observa o pesquisador americano Thomas Fairchild, radicado no Brasil há 29 anos e colega de Yamamoto no instituto.
Cerca de 250 milhões de anos atrás, os gêiseres faziam parte de uma paisagem bastante diferente das pastagens atuais de Anhembi. Naquela época, os continentes ainda não tinham se separado completamente e a região era uma planície de maré litorânea às bordas de um mar interno. "Algo parecido com o Mar Cáspio", compara Fairchild. Ou seja: eles eram regularmente cobertos e descobertos pela maré. Um enigma persiste: de onde vinha o calor necessário para aquecer a água? "Não temos evidências geológicas de uma fonte de calor subterrânea", diz Yamamoto. Esse é o alvo das próximas pesquisas.
