Carro elétrico desenvolvido no Paraná

Enquanto que nos Estados Unidos, Japão e Europa é a indústria automotiva que puxa o desenvolvimento de veículos impulsionados por combustíveis alternativos, no Brasil as empresas do setor de energia se anteciparam às montadoras e estão desenvolvendo veículos elétricos que podem ser abastecidos na tomada. No Paraná, um grupo liderado pela Itaipu Binacional deve lançar no mercado corporativo o primeiro carro movido a eletricidade até o fim do ano. A intenção é investir em tecnologias para o desenvolvimento de um carro absolutamente ecológico, com emissão zero de poluentes e, praticamente, sem ruídos.

O projeto é uma parceria da usina hidrelétrica com a Fiat Automóveis, a controladora de hidrelétricas suíça Kraftwerke Oberhasli (KWO) e empresas de tecnologia, concessionárias de energia elétrica e instituições de pesquisa do Brasil, Paraguai e Suíça. A Fiat entrou no projeto por acreditar que o Brasil é o ambiente ideal para o desenvolvimento de um veículo com essa tecnologia, já que grande parte da eletricidade gerada no País vem de hidrelétricas, ou seja, uma energia limpa e muito barata. Essa é uma das razões pela qual o veículo do projeto é 100% elétrico.

Nos próximos cinco anos, a Itaipu pretende incrementar sua frota com 25 desses veículos. Durante sua fase de aprimoramento, o carro só poderá ser utilizado por empresas do setor elétrico. Mas em menos de três meses após a assinatura do acordo entre os parceiros, o Palio Elétrico – veículo escolhido para o projeto – já recebeu 10 encomendas. Desse total, quatro serão utilizados na Suíça; dois serão utilizados pela Eletrobrás; e a distribuidora de energia CPFL espera ter quatro carros elétricos até o final do ano.

Os participantes do consórcio se comprometeram a adquirir os veículos para compor suas frotas e a atuar na implementação e aperfeiçoamento de protótipos. Em Itaipu, uma linha de montagem de protótipos passará a funcionar ainda este ano. E cada protótipo sairá com inovações técnicas, que serão testadas pelas parceiras. A Fiat Automóveis terá exclusividade por dois anos para a montagem dos veículos, podendo renová-la. Após esse período, o projeto será aberto às propostas de outras montadoras.

Números modestos

Por fora, o carro desenvolvido em Foz do Iguaçu é praticamente igual ao modelo convencional. Internamente é que ele se diferencia. O motor tem potência de 15 kw (o equivalente a 20 cavalos). O propulsor é alimentado por uma bateria de níquel, situada no fundo do porta-malas, totalmente reciclável, o que praticamente elimina preocupações ambientais com o seu destino final após o fim de sua vida útil, que hoje é de aproximadamente 130 mil quilômetros. São questões que as empresas envolvidas no projeto esperam solucionar ao envolver os institutos de pesquisa e as universidades.

Os números do veículo ainda são modestos: autonomia da bateria de 120 quilômetros, velocidade máxima de 110 km/h e oito horas para carregar a bateria. ?Mas para o lançamento queremos elevar a autonomia da bateria para 450 quilômetros, aumentar a velocidade máxima para 150 km/h e diminuir o tempo médio de recarga para menos de uma hora, além de oferecer o conforto de ar-condicionado?, afirma o coordenador do Veículo Elétrico na Itaipu, Celso Novais.

O câmbio é automático, do tipo joystick, com três posições: drive, neutro e ré. O console central conta com um display para monitoramento do comportamento da bateria com informações sobre carga, tensão, temperatura e corrente. Não se sabe qual o preço pelo qual o Palio Elétrico será vendido no Brasil, pois existe a expectativa de que, por ser um automóvel não poluente, ocorram incentivos, como redução de impostos por parte do governo.

Os protótipos que serão enviados para a Suíça deverão custar entre US$ 20 mil e US$ 25 mil (cerca de R$ 56 mil). Embora esse valor represente cerca de 45% a mais do que o Palio 1.0 convencional custaria na Europa, o avanço tecnológico e o aumento da demanda contribuirão para o barateamento da versão elétrica.

Indústria automotiva ainda cria obstáculos

Foto: Caio Coronel/Itaipu

O motor do Palio tem potência de 15 Kw. O propulsor é alimentado por uma bateria de níquel totalmente reciclável.

Apesar de os veículos elétricos já serem vedete nos EUA, onde a venda de carros elétricos híbridos cresceu 133% em 2005, os interesses da indústria automotiva representam a maior resistência para o desenvolvimento mais rápido dos veículos elétricos. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Rogério Belda, boa parte da industria internacional realizou grandes investimentos na base tecnológica atual e não pretende mudá-la.

?Essa resistência da indústria automotiva é preocupante porque a problemática ambiental ampliou-se muito. A preocupação do passado com o monóxido de carbono agora abrange as sérias conseqüências para a camada de ozônio. Nos grandes centros, a culpa pela poluição recaía para as indústrias. Sabemos agora que, nas grandes cidades, 80% dos problemas ambientais estão ligados aos transportes?, afirma.

Belda explica que, mesmo com a redução da oferta de petróleo, a indústria não pretende fazer mudanças tão cedo, já que as alternativas de combustíveis líquidos, inclusive combinadas, permitem a adequação a novas situações, sem a necessidade de mudar a base tecnológica. ?As pesquisas continuam voltadas para outros propósitos que não a utilização dos derivados de petróleo ou da combinação de mais de um combustível líquido, como o álcool e os bioenergéticos. Se, por um lado, buscam alternativas para o consumo do petróleo, de outro não resolvem o problema da poluição?, diz.

O que pesa contra o veículo elétrico nessa equação é que além de não ser o único não poluente, seu preço ainda é alto, além do desempenho fraco. ?No Brasil existe um certo grau de consciência ecológica por parte das pessoas em geral, mas as condições econômicas e as prioridades tornam demasiado oneroso suportar investimentos na aquisição de protótipos de veiculo elétrico, necessários para alavancar esse desenvolvimento nos mesmos moldes do que ocorre na Europa?, avalia Celso Novais.

E a opção da indústria brasileira em oferecer veículos que possam ser abastecidos com mais de um combustível deve ser a solução. Na visão do vice-presidente da CPFL Energia, Paulo Cezar Coelho Tavares, os veículos elétricos podem ser um tricombustível, usando gasolina, álcool e eletricidade, que também criam um novo nicho de mercado para as concessionárias de energia elétrica, que terão uma nova demanda de consumo. ?Acredito no crescimento do uso desses veículos, tanto pela disponibilidade de soluções no mercado, como pelas vantagens ambientais e econômicas. A reação do mercado também está ligada ao preço do petróleo, que deve continuar elevado, e às pressões políticas contra as emissões automotivas em razão dos seus efeitos ambientais negativos?, diz.

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