Brasileiros e americanos lutam contra mal genético

O estudo, baseado em vários anos de pesquisa no Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), utilizou a versão desativada de um vírus para vencer o defeito genético que causa a doença. O vírus funciona como um vetor terapêutico, que invade as células e lança dentro do núcleo uma versão correta do gene XP (xeroderma pigmentosum) defeituoso. Esse gene, por sua vez, codifica uma versão correta da proteína XP responsável por fazer os reparos necessários no DNA danificado pela radiação solar.

“Teoricamente, é um vírus morto, mas ainda capaz de levar material genético até as células”, disse o coordenador da pesquisa no Brasil, Carlos Menck. Ele explica que o DNA das células da pele é constantemente danificado pela radiação solar. Só que, nas pessoas normais, há um sistema de proteínas XP que conserta essas deformações rapidamente. Nos portadores da síndrome, essa oficina protéica não funciona. “Com o tempo, isso provoca câncer de pele – como em todos nós, só que muito mais rápido.” Segundo ele, é comum pessoas XP terem cinco ou mais tumores de pele por ano. A doença ocorre em 1 a cada 200 mil pessoas.

O estudo mostrou que camundongos XP tratados com a terapia gênica e expostos a radiação ultravioleta tiveram lesões bastante reduzidas e não desenvolveram tumores – ao contrário daqueles que não receberam o tratamento. Os testes foram realizados na Universidade do Texas pela doutoranda da USP Maria Carolina Marchetto, cuja bolsa de estudos US$ 10 mil foi paga pela XP Society (www.xps.org), uma associação de famílias de pacientes nos EUA. O coordenador da pesquisa por lá foi o cientista Errol Friedberg. A equipe de Menck agora aguarda o recebimento de dez camundongos XP do Texas para dar continuidade ao estudo no Brasil. A idéia, no futuro, é desenvolver uma injeção, ou até uma pomada, que proteja a pele e evite o câncer por meio da terapia gênica. “Isso tudo é possível, mas quanto tempo vai levar eu não arrisco dizer.” Os resultados da pesquisa foram publicados na revista PNAS.

Laboratório – O estudo é uma das bases para o projeto do Centro de Pesquisa em Vacinas e Terapia Gênica da USP, que – se tudo der certo – deverá ser inaugurado no próximo ano. O laboratório já tem um espaço de 400 metros quadrados reservado no ICB, mas ainda faltam recursos para completar a reforma das instalações, orçada em R$ 500 mil. Uma equipe de 15 pesquisadores deverá trabalhar no desenvolvimento de vetores virais e no estudo dos mecanismos de reparação do DNA, para aplicação em terapia gênica.

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