O celular já é bem mais que um telefone há algum tempo. O aparelho é usado como rádio, MP3 player, console de videogame, câmera fotográfica e computador de bolso. E, na medida em que a conta do telefone celular começa a trazer outros tipos de gastos além da voz (ringtones e wallpapers, por exemplo), empresas do ramo descobriram que o aparelho pode se transformar em um sistema de cobrança para diversas finalidades.
Na Europa, máquinas de vendas (vending machines) já aceitam pagamentos via mensagem de texto (SMS). Você pára em frente à máquina, digita um código e ela libera o produto. A tecnologia já está disponível, começa a ser usada por operadoras de celular e bancos no Brasil e deve virar mania em 2007.
Os clientes do banco HSBC já têm à sua disposição, desde o final de outubro, um sistema pelo qual o celular é usado para a realização de compras de qualquer lugar, como um cartão de crédito ou de débito funcionando à distância. ?Trata-se da primeira plataforma universal de autorização de compras que oferece enormes possibilidades, já que transforma qualquer celular em um meio de pagamento em todo tipo de estabelecimento comercial?, explica Gastão Mattos, presidente da M-Cash, empresa que criou o sistema.
A ?carteira eletrônica? serve para autorizar pagamentos nas mais diferentes situações. Ao usar o sistema, o comprador recebe uma ligação em seu celular, onde uma voz o orienta sobre a compra, pedindo a digitação, no aparelho, da senha previamente cadastrada junto ao banco onde o usuário tem conta.
O banco reconhece a senha e autoriza a transação em tempo real. A senha não fica gravada no telefone (uma vez que o usuário recebe uma chamada de confirmação), o que impede que seja conhecida por terceiros, mesmo se o aparelho for roubado ou clonado. ?A senha nunca chega a transitar pela internet. Nenhum dado pessoal do cliente, como seu nome, é preenchido por meio da rede?, garante Mattos. Ele diz também que tudo isso não leva mais do que 30 segundos.
As lojas de comércio eletrônico Americanas.com, Sack?s, MMartan e Livraria Cultura, foram as primeiras a aderir ao sistema e estão oferecendo descontos e promoções especiais no lançamento do M-Cash. A adesão de outras lojas da internet deverá ser anunciada em breve. O início do uso desta plataforma no comércio do mundo físico está previsto para o início de 2007. A projeção da M-Cash é de que as empresas responsáveis por 90% do volume de compras na Internet já tenham aderido ao novo meio de pagamento em 2007.
?Existem hoje mais de 90 milhões de celulares em operação no Brasil. Isso significa um enorme mercado?, pondera Mattos, que estima que, até 2009, dez bancos brasileiros estarão trabalhando com a plataforma M-Cash de pagamento por celular, com um total estimado de 120 milhões de transações processadas naquele ano. Para 2007, a empresa já espera um volume de 20 milhões de transações.
?O foco inicial de utilização será no comércio eletrônico, mas, num futuro bem próximo, os donos de celulares com acesso ao M-Cash poderão usar seus aparelhos para fazer compras e efetuar pagamentos em qualquer estabelecimento do mundo físico. Para isso, será necessário apenas que a pessoa tenha o celular, seja correntista de um banco que faça parte do sistema e que a loja ou outro local para o qual o pagamento é destinado tenha conta em qualquer dos bancos que utilizem a M-Cash?.
Serviço está disponível para todas as operadoras
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Gastão Mattos, da M-Cash: não existem limitações tecnológicas. |
Para Gastão Mattos, presidente da M-Cash, o serviço deve ser um sucesso no Brasil por representar conforto e segurança. O promotor de eventos Paulo Batista já utilizou o serviço para comprar uma TV e uma torradeira pela internet. ?Tenho o costume de comprar on-line e a sensação de segurança de fazer isso via celular é muito maior, porque não é necessário digitar o número do cartão em nenhum site?, diz. Sobre o conforto, Batista diz que não vê a hora de a solução chegar ao mundo ?real? de consumo. ?Pegar um táxi e não precisar de dinheiro para isso será muito prático. Além do mais, não haverá mais o risco de andar com dinheiro na carteira.?
Por enquanto, o M-Cash está sendo usado apenas na modalidade débito, mediante desconto da despesa na conta bancária do comprador. Mas a tecnologia permite seu uso também na modalidade crédito ou como um cartão de loja, entre outras formas de pagamento. A afiliação dos estabelecimentos comerciais deve ser feita inicialmente pela M-Cash, mas prevê participação dos bancos parceiros nesta atividade, logo a seguir.
?Não existem limitações tecnológicas que atrapalhem o uso do M-Cash por qualquer telefone celular operando no Brasil, pré-pago ou pós-pago?, disse Gastão Mattos. ?Mesmo os aparelhos mais simples ou despojados podem ser usados no sistema. Também não há qualquer limitação no que diz respeito às operadoras. O usuário pode efetuar compras por meio de qualquer operadora e não pagará nada a mais por isso. Esta característica reforça o posicionamento do M-Cash como a forma de pagamento mais universal do mercado.?
Outro diferencial do M-Cash é o fato de não haver qualquer custo para o cliente. O HSBC não cobrará qualquer tarifa e o usuário não precisará fazer uma ligação de seu celular, pois ele receberá a ligação da confirmação da compra da processadora, que arcará com esse custo. O dinheiro sairá da conta do cliente HSBC no ato da confirmação da compra.
Arno Brandes, executivo sênior de tecnologia bancária do HSBC, diz que a oferta pioneira de pagamento móvel com o M-Cash dá aos clientes do banco conforto e facilidade para compras, transformando, com segurança total e sem custos adicionais, o aparelho celular em cartão de débito.
O modelo de negócio no ramo de meios eletrônicos de pagamento via celular ameaça deixar de fora alguns dos medalhões do setor. O modelo internacional é baseado na participação das operadoras de telefonia e das bandeiras de cartão, como MasterCard e Visa. No Brasil, a reprodução dessa fórmula tem se mostrado problemática por uma série de motivos. A começar pela tecnologia ultrapassada da maioria dos aparelhos, que não possibilita a adoção dos padrões de segurança exigidos pelas bandeiras. Além disso, 80% dos números aqui são pré-pagos, indicativo de que dificilmente esse cliente aceitará pagar para fazer transações pelo celular.
Wappa oferece sistema para controle de benefícios
Outro serviço de pagamento via celular reúne entre seus benefícios: pagamento de refeição, alimentação, combustível, frota, farmácia e táxi. Trata-se da Wappa, que criou o serviço para empresas administrarem a utilização de benefícios para seus empregados. O estabelecimento cadastrado deve ter um aparelho celular, acesso à internet ou pager e o número do telefone celular do usuário precisa estar registrado nos servidores da Wappa.
Após digitar os dados da operação e a senha pessoal, o pagamento é confirmado para o estabelecimento e para o usuário em tempo real. O saldo fica armazenado nos servidores da empresa. A empresa garante que, assim, o usuário não terá prejuízo no caso de clonagem ou roubo do celular.
De acordo com Luiz Peduti, diretor presidente da Wappa, os benefícios para as empresa sque utilizam o serviço são a eliminação da necessidade de vouchers, a possibilidade dos benefícios serem renovados automaticamente, reduzindo custos operacionais e administrativos, integração dos pedidos eletrônicos com a folha de pagamento e entrega do benefício sem a necessidade da presença física do funcionário. ?Entre as vantagens para o usuário estão a rapidez e agilidade na hora do pagamento e a eliminação dos contra-vales como troco?, afirma.