Os eclipses da Lua, embora se dêem em menor número do que os do Sol, são, contudo, em cada lugar da Terra, muito mais comuns. Com efeito, um determinado eclipse do Sol só pode ser observado dos lugares onde a sombra da Lua atinge a Terra, e esses lugares estão contidos numa zona relativamente pequena da superfície do globo terrestre.
Um eclipse da Lua resulta do fato de ela, na realidade, escurecer ao entrar no cone de sombra da Terra. Nessas condições, o eclipse será evidentemente visível com o mesmo aspecto em todos os lugares da Terra que nesse momento tenham a Lua acima do horizonte. Um eclipse da Lua pode ser total ou parcial, conforme a Lua fique ou não completamente mergulhada no cone de sombra da Terra. Este cone tem, à distância que se encontra a Lua, um diâmetro muito superior ao dela. Assim, a Lua poderá levar até mais de uma hora para atravessá-lo. Envolvendo o cone de sombra, existe o chamado cone de penumbra que o nosso satélite pode levar mais de 6 horas para atravessar.
O eclipse total ou parcial é caracterizado pela sua grandeza, que é a relação entre a distância do bordo eclipsado ao bordo de sombra no meio do eclipse, e o diâmetro aparente da Lua, tomado como unidade. Num eclipse parcial a grandeza é inferior à unidade e no total a grandeza é superior à unidade.
Tipos
Existem três tipos de eclipses lunares: a) eclipse penumbral, no qual a Lua atravessa somente o cone de penumbra da Terra; b) eclipse parcial, no qual a Lua penetra parcialmente no cone de sombra da Terra e c) eclipse total, no qual a Lua imerge completamente no cone de sombra.
Aspectos
O eclipse lunar começa pela entrada da Lua no cone de penumbra, fase de difícil observação, pois somente após haver ultrapassado a metade da penumbra é que se começa a distinguir um ligeiro obscurecimento na superfície lunar.
À medida que se desenvolve o eclipse, o obscurecimento se acentua. Ao atingir o cone de sombra, o que constitui o primeiro contacto, isto é, o momento em que o limbo da Lua tangência o cone de sombra, a Lua se apresenta de início, “mordida”. Daí em diante a região escura vai se estendendo na superfície da Lua e se tornando cada vez mais intensa. Na fase de totalidade, observa-se uma coloração avermelhada, oriunda da difusão da Lua solar nas altas camadas da atmosfera terrestre.
Luminosidade
Pelos estudos das antigas observações de eclipses constatou-se que havia uma variação de intensidade luminosa na fase de totalidade dos eclipses lunares. Para definir o cone de sombra da Lua é necessário considerar que um feixe luminoso, emitido por um elemento da superfície solar, sofre os seguintes efeitos: a) desvio proveniente da refração, que permite aos raios do Sol penetrarem no cone de sombra; b) atenuação dos raios solares produzidos quer pela sua absorção, quer pela sua refração nas altas camadas da atmosfera.
Ora, considerando-se a extensão da atmosfera terrestre, é possível explicar por que a Lua não desaparece completamente e também a razão da cor avermelhada da Lua eclipsada.
Considerando tal fato, o astrônomo francês André Danjon (1890-1967) estabeleceu uma escala arbitrária de luminosidade dos eclipses, que permite atribuir a cada eclipse um coeficiente de brilho relativo, segundo o aspecto que a Lua apresenta durante a fase de totalidade.
Eis aqui a significação desses coeficientes, que indo de 0 a 4, constituem a escala de luminosidade de Danjon: 0 – eclipse muito escuro; a Lua é quase invisível, particularmente no meio da totalidade; 1 – eclipse escuro, cinza ou castanho; os acidentes lunares são de difícil observação; 2 – eclipse vermelho-escuro; observa-se freqüentemente uma mancha muito escura no centro da sombra e uma zona exterior bastante clara; 3 – eclipse vermelho-tijolo, com sombra freqüentemente limitada por uma zona cinza ou amarela bastante clara; 4 – eclipse vermelho-cobre ou alaranjado, muito claro, com uma zona exterior muito luminosa e azulada.
Estudando, com detalhes, 150 eclipses, observados desde o séc. XVI, concluiu Danjon que havia uma correlação entre a luminosidade da Lua eclipsada e a atividade solar. Assim, segundo Danjon, nos dois anos que se seguem a um mínimo de atividade solar, a Lua eclipsada é mais escura. à medida que se afasta do mínimo de atividade solar, a luminosidade da Lua eclipsada e a sua coloração avermelhada aumentam até atingir o próximo mínimo de atividade solar, que se assinala por uma nova diminuição brusca de luminosidade e coloração.
Atribuiu Danjon a origem dessas variações de transparência da alta atmosfera terrestre. Entretanto, recentemente, F. Link demonstrou que essa variação depende das radiações corpusculares que podem atingir a Lua e que dependem do ciclo de 11 anos da atividade solar.
Os mais longos eclipses lunares ocorrem quando a Lua passa o mais próximo possível do eixo do cone de sombra que a Terra projeta no espaço cósmico. Nesta ocasião, o Sol, a Terra e a Lua encontram-se praticamente alinhados no mesmo eixo. Este tipo de eclipse é chamado central, pois na realidade a Lua, em seu movimento ao redor do nosso planeta, passa muito próximo ao centro do cone de sombra. Em conseqüência, o intervalo de tempo gasto pela Lua para percorrer de um ponto a outro diametralmente oposto do cone de sombra é muito superior ao que levaria o nosso satélite se tivesse que atravessar uma corda nos bordos do cone de sombra.
Assim, concluímos que o eclipse central será uma das condições para que venha a ocorrer o mais longo eclipse da Lua. A outra exigência refere-se à distância entre o nosso planeta e o seu satélite, ou seja, se o eclipse central se dá nas vizinhanças do perigeu (Lua mais próxima da Terra) ou do apogeu (Lua mais afastada da Terra).
Ao contrário, quando a Lua esta no apogeu, ela desloca-se mais lentamente; em conseqüência, os intervalos de tempo de cada fase aumentam: um eclipse central de apogeu pode durar um pouco mais de seis horas.
Apesar da maior magnitude – valor máximo da fração eclipsada da Lua -, de um eclipse ocorrer no caso dos eclipses centrais de perigeu, a mais longa duração de um eclipse da Lua pertence aos eclipses centrais de apogeu. No último caso, o diâmetro aparente da Lua é muito menor, mas o seu movimento é mais lento. Com uma duração na fase de totalidade de 67 minutos este não será nem o mais curto nem o mais longo eclipse lunar do século XXI, mais convém observa-lo pois um idêntico, visível no Brasil, só vai ocorrer daqui a três anos. Portanto, vamos olhar para o céu.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 70 livros, entre outros livros, do Anuário de Astronomia 2004.
Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com
Eclipse total da Lua nesta semana
Esse eclipse total da Lua, de quarta para quinta-feira próximos, será visível em todo território brasileiro e também do oeste da Ásia, África (exceto extremo leste), Europa, Islândia, Groenlândia, Américas e as regiões árticas. Na noite de quarta-feira e nas primeiras horas da quinta-feira, a Lua irá penetrar sucessivamente nos cones da penumbra e sombra da Terra, quando será possível acompanhar todas as etapas do eclipse. O período mais belo de um eclipse lunar será quando o disco da Lua estiver totalmente encoberto pela sombra da Terra. Em conseqüência, a Lua cheia estará avermelhada.
O eclipse começa, na noite quarta-feira, às 21h05,4, com a entrada da Lua no cone de penumbra. Essa fase inicial do eclipse é de difícil observação. Somente após haver ultrapassado a metade da penumbra é que se começa a distinguir um ligeiro obscurecimento na superfície lunar. À medida que se desenvolve o eclipse, o obscurecimento se acentua.
Ao entrar no cone de sombra, às 22h14,3, a Lua se apresenta, de início, como se tivesse sido “mordida”. Trata-se do momento que a Lua começa a penetrar no cone de sombra da Terra. Daí em diante a região escura vai-se estendendo pela superfície da Lua e o obscurecimento torna-se cada vez mais intenso. As sombras da Terra projetada sobre a superfície da Lua começam a se deslocar, eclipsando as crateras lunares.
A fase de totalidade do eclipse – a mais bela e interessante para os observadores-, irá ocorrer 23h23,3. O meio do eclipse vai ocorrer, às 00h03,9, na quinta-feira do dia 28 de outubro quando o disco lunar se apresentará totalmente encoberto, com uma coloração avermelhada cor de tijolo. Essa tonalidade vermelha escura é provocada pela difusão da luz solar nas altas camadas da atmosfera terrestre. É o momento culminante do eclipse. Às 00h44,5, é o fim da fase de totalidade, que deve durar cerca de 81 minutos. A Lua começa a sair da sombra, às 01h53,7. A saída da penumbra será às 03h02,5, quando ocorre o fim do eclipse.
Ao contrário do que ocorre com os eclipses do Sol, cuja observação exige o uso de filtros especiais, o eclipse total da Lua pode ser observado a vista desarmada, sem nenhum risco, mesmo através de um binóculo ou telescópio. (RRFM)
