A compra de produtos pela internet começa a cair no gosto dos brasileiros – ao menos da parte mais abastada da população. Um levantamento intitulado Web Shoppers (Compradores da Web) divulgado no último dia 1.º pela consultoria de e-commerce eBit e pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) mostra que, no primeiro semestre do ano, as vendas pela grande rede chegaram a R$ 1,75 bilhão, valor 47% maior do que o do mesmo período do ano passado. Isso significa que o total de pessoas que já compraram pela internet no País cresceu para 5,75 milhões em 2006, em comparação com os 3,9 milhões de um ano atrás. O valor arrecadado pelo varejo virtual foi 9,3% superior às estimativas feitas no fim do primeiro semestre do ano passado.
Os consumidores on-line, pessoas que fazem compras pela internet, representam 18% do total de internautas do Brasil, segundo o estudo da consultoria de e-commerce eBit realizado desde 2001. Segundo dados do Ibope NetRatings, o Brasil tem 32 milhões de internautas. De acordo com dados da e-bit, até o final de 2006 o Brasil deve ter 6,8 milhões de consumidores dispostos a usar seus cartões de crédito na internet. A pesquisa também mostra que a participação de mulheres na compra de produtos pela web passou de 41% em 2005 para 44% em 2006. Houve aumento de vendas de produtos de maior valor agregado como eletroeletrônicos, informática, telefonia/celular.
?Os números mostram que o comércio eletrônico já atraiu quase todos os consumidores potenciais das classes A e B?, explica Pedro Guasti, diretor-geral da eBit. ?A partir de agora, é preciso incorporar novos consumidores, principalmente os da classe C?. Das 32 milhões de pessoas que acessam a internet no Brasil, estima-se que 18 milhões usam os serviços eletrônicos oferecidos pelos bancos na internet, como pagamentos de contas, transferências e consultas. ?Há espaço para crescer mais ainda?, diz Guasti. ?A questão é atrair esses usuários?. Para o executivo, a entrada de novos usuários é crucial para o desenvolvimento do comércio eletrônico brasileiro. Isso porque o valor médio de compra deve crescer pouco este ano, já o valor brasileiro – R$ 300 – já está alinhado com a média do e-commerce nos Estados Unidos, que gira em torno dos US$ 100.
Mas mesmo praticamente todos os sites de comércio eletrônico brasileiros estarem focados nos consumidores de alto poder aquisitivo, de acordo com o estudo, houve um crescimento no número de pessoas com renda de até R$ 3 mil que fazem compras pela internet. Segundo o levantamento, em junho de 2001, quem tinha uma renda familiar de até R$ 1 mil representava 6% das vendas on-line. Já aqueles com rendimentos entre R$ 1 mil e R$ 3 mil totalizavam 32%. Em 2006, esses percentuais subiram para 8% e 37% respectivamente. Por outro lado, houve redução na participação de consumidores com renda acima de R$ 8 mil – em 2001 era 10% e em 2006, 8%.
Segundo Pedro Guasti, o crescimento de consumidores on-line, principalmente da classe C, deve-se, principalmente, à venda de computadores populares, à maior penetração da banda larga, ao aumento no número de pontos públicos de acesso à internet e à diminuição na percepção de risco das compras na web. ?Além disso, os esforços de internet banking têm popularizado a cultura de transações financeiras pela web no País?, enfatiza Manuel Matos, presidente da Câmara-e.net. Outro fator que influencia o aumento no número de compradores on-line é o amadurecimento de uma geração que cresceu familiarizada com a tecnologia e com a internet e portanto é mais propensa a comprar pela web. ?Essa geração tem DNA digital?, brinca Guasti.
A previsão da Câmara-e.net é de que o número de compradores on-line cresça numa média de 40% nos próximos cinco anos. Hoje, 85% das compras na web já são feitas por usuários de banda larga. ?O horário de pico para o e-commerce é das 12h às 14h, horário de almoço nas empresas?, observa o diretor do eBit. Ainda de acordo com Guasti, cerca de 1/3 dos 5,75 milhões de internautas que já compraram alguma vez pela web são compradores recorrentes (fizeram pelo menos três compras nos últimos seis meses). Cerca de 25% das compras na web são motivadas por pesquisas em sistemas de busca e comparação de preços.
A previsão da empresa de pesquisa de internet é que o comércio eletrônico ultrapasse os 4 bilhões de reais em 2006. ?Estamos otimistas com a possibilidade de termos o melhor ano em vendas e faturamento de toda a história do e-commerce nacional, que começou a realmente existir no País a partir do final da década de 90. Se o valor do dólar continuar estável, próximo a R$ 2,20, teremos um faturamento próximo a US$ 1,9 bilhão, valor inimaginável até pouco tempo?, analisa Guasti.
Esforço para tornar a internet mais confiável
As empresas que oferecem seus produtos na web podem comemorar, isso se deve muito ao esforço que tem sido feito no Brasil para tornar a internet um ambiente mais confiável. ?O grande desafio é passar confiança para aqueles que ainda desconfiam em fornecer seus dados e comprar na internet. Acreditamos que essa barreira vem sendo transposta de forma crescente principalmente apoiada pela experiência positiva dos e-consumidores que fazem um marketing boca-a-boca atraindo cada vez mais novos consumidores?, aponta o diretor da eBit.
O número de tentativas de novas fraudes virtuais detectadas pelo Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br) durante o segundo trimestre de ano atingiu 10.939 notificações, crescimento de 38% em relação ao mesmo período de 2005. A cifra é considerada baixa pelo CERT.br por quebrar uma série de fortes crescimentos no registro de pragas digitais, mesmo impulsionada pelo crescimento na detecção de fraudes que usam redes sociais on-line e comunicadores instantâneos para se alastrar.
No primeiro trimestre de 2006, as 12.099 tentativas de fraudes registradas representavam um crescimento de 447% em comparação aos primeiros três meses do ano passado. Mesmo com o aumento em comparação ao ano passado, as notificações relativas ao segundo trimestre caíram 9% em relação ao período entre janeiro e março. A queda, segundo o CERT.br, tem relação com os esforços dos sites de hospedagem gratuita em remover arquivos maliciosos armazenados on-line.
?A partir do momento em que novas tecnologias de pagamento derem uma maior percepção de segurança aliada à ampliação do uso da certificação digital pelos usuários, poderemos ter uma alavancagem ainda maior deste mercado atingindo a população que ainda não percebeu as vantagens de comprar pela internet?, sentencia Guasti.
