Durante décadas, o tratamento do diabetes mais grave se deu a partir de insulina isolada de pâncreas animais (suíno e bovino, cujas insulinas diferem da humana respectivamente por 1 ou 3 aminoácidos) até que em 1978 pesquisadores do City of Hope National Medical Center e da então pequena companhia de biotecnologia Genentech foram bem sucedidos inserindo o gene no DNA da bactéria Escherichia coli. As mini-fábricas bacterianas passaram a produzir os 2 peptídios A e B em quantidade, os quais quimicamente rearranjados geravam o hormônio completo e funcional, a Humulin. A este feito seguiu-se outro pela Novo Nordisk (hoje Novozymes), uma companhia dinamarquesa.
A insulina é produzida nas células beta das ilhotas de Langerhans, um tecido diferenciado do pâncreas, sob a forma de uma cadeia protéica mais complexa que é cindida por proteases específicas ( convertases prohormônicas PC1 e PC2 e carboxipeptidase E) ao mesmo tempo que há oxidação dos resíduos de cisteína para formar as pontes dissulfeto.
A insulina exerce amplo efeito no metabolismo e principalmente naquele dos carboidratos. Dentre outros efeitos hormonais, comanda a internalização da glucose plasmática para o interior das células (e.g., hepáticas e musculares) e ativa a via glicolítica (oxidação ou "queima metabólica" da glucose). Também incrementa a biossíntesse do glicogênio (reserva polimérica hepática e muscular de glucose) e estimula a biossíntese de ácidos graxos até triglicerídios e também de proteínas graças ao transporte acelerado de aminoácidos.
Algumas formulações modernas de insulina (análogos) tratam de modular a ação do hormônio evitando uma ação brusca que resulte na alternância daninha do tipo hiperglicemia -: hipoglicemia. É o caso da Lispro da Lilly, Glargine da Aventis, Aspart e Detemir da Novo Nordisk.
Outras novidades no controle do diabetes são o Byetta (exenatyde) da Eli Lilly / Amylin Pharmaceuticals, Inc. Esta droga "mimetiza" a ação de hormônios naturais secretados pelos intestinos, as incretinas, que por sua vez guardam analogia estrutural e funcional com o GLP-1 (peptídio 1 similar ao glucagon) que é secretado em resposta a qualquer consumo de alimento e que regula (via insulina) os níveis de glucose no sangue, fígado, pâncreas e cérebro e que também aumenta a sensação de saciedade. O Byetta é sintetizado com base na estrutura de um peptídio isolado da saliva do monstro de Gila (Heloderma horridum e H. suspectum), um lagarto comum nos desertos norte-americanos e é particularmente indicado para os diabéticos do tipo 2 que não conseguem controlar eficientemente a (hiper) glicemia ao uso de metformin e/ou sulfoniluréia. Resumidamente, Byetta estimula a secreção de insulina, reprime a secreção de glucagon (um hormônio que antagoniza a ação da insulina) e modera o apetite. Dada a natureza peptídica (protéica), Byetta está sendo disponibilizado na forma de caneta injetora. Outra novidade no controle de diabetes é Januvia (sitagliptin) desenvolvido pela Merck. Trata-se de um potente inibidor da DPP-4, uma aminopeptidase que degrada e inativa o GLP-1.
No campo dos fitoterápicos, um princípio bioativo extraído do fruto da gardênia (Gardenia jasminoides), a genipina, está se constituindo numa promissora ferramenta terapêutica para o tratamento do diabetes. A pesquisa deriva da tradicional medicina chinesa (Kampo), onde a planta é chamada de Inchin-ko-to. A droga natural é um glicosídio (geniposídio), que no trato digestivo é desdobrado no açúcar (inativo) e na aglicona (bioativa). Sua propriedade bioquímica mais marcante, antes elucidada, é entrecruzar (estabelecer ligações covalentes) moléculas de outras proteínas. Um efeito prático da genipina é bloquear ação da proteína acopladora (UCP2), esta um fator importante no desencadeamento da patogênese pró-diabética. O resultado líquido é que a genipina leva à secreção de maior quantidade de insulina pelo pâncreas.
No cenário paranaense, uma notícia animadora foi recentemente veiculada pela jornalista Cíntia Vegas de O Estado do Paraná. Trata-se da pesquisa sendo executada pela PUCPR a partir de células-tronco de cordão umbilical e seu cultivo em meio condicionante para que evoluam para a produção de insulina com vistas à futura implantação em diabéticos.
José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR junto ao Departamento de Farmácia, pesquisador do CNPq e prêmio paranaense em C&T.