Foto: Arquivo/O Estado

Na localidade de Pedra Lavrada, na Paraíba, existe uma representação da Plêiades, aglomerado aberto de estrelas.

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As civilizações pré-colombianas que viveram nas Américas atingiram um nível de conhecimento astronômico notável, como comprovam as inscrições que figuram em suas estrelas, bem como em suas pinturas rupestres. Uma notável descoberta astronômica foi efetuada recentemente pela equipe do Museu Nacional, chefiada pela arqueóloga Maria Beltrão, na Bahia, onde se encontrou o que poderia ser talvez a mais antiga representação de um cometa associada a três estrelas de brilho diferente. Os registros de pintura rupestres, no Brasil, são muito freqüentes.

Na localidade de Pedra Lavrada, na Paraíba, existe uma representação da Plêiades, aglomerado aberto de estrelas que teve importância enorme na cultura indígena brasileira como marco inicial do período da chuva. Em Varzelândia, em Minas Gerais, existe uma representação de um Sol ao lado de um crescente lunar, que poderia estar associado à explosão da supernova do ano 1054, que os chineses registraram e que, segundo o astrônomo Miller, teria sido assinalada em pinturas rupestres elaboradas por antigos habitantes da América do Norte. Apesar de todas as descobertas arqueológicas efetuadas, ainda não fora assinalada nenhuma representação cometária tão notável. A completa ausência de uma linguagem, ou mesmo de um sistema de contagem, deixam os arqueoastrônomos totalmente desorientados quanto à interpretação, ao contrário do que ocorre com as inscrições legadas pelos maias e astecas. De fato, os maias, com seu sistema de contagem na base vinte, conseguiram resultados notáveis na determinação dos períodos de visibilidade dos principais astros, bem como na elaboração de um sistema de calendário muito preciso.

Os astecas e os maias foram, por razões religiosas, o que aliás ocorreu com todos os povos primitivos, observadores muito assíduos e cuidadosos dos fenômenos celestes. Eles sabiam reconhecer os planetas, avaliar, com notável precisão, a duração do ano, das estações e do mês lunar, o movimento do Sol, a revolução sinódica de Vênus etc. Com auxílio destes conhecimentos, conseguiram prever os eclipses da Lua e do Sol.

Além de observatórios azimutais que se baseavam na observação do nascer e ocaso dos astros no horizonte, construíram os primeiros observatórios zenitais, os quais permitiam observar o instante de culminação de determinados astros no céu. Convém lembrar que os outros povos utilizavam, em geral, o primeiro sistema de observação, que tinha, como plano fundamental de referência, o horizonte.

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Apesar dos seus instrumentos terem sido muito rudimentares, foi graças às visadas minuciosas e repetidas que se tornou possível aos maias atingirem uma precisão notável na determinação dos períodos sinódicos de alguns astros, dentre eles o do planeta Vênus.

O valor do período sinódico de Vênus, intervalo de tempo que decorre entre duas posições iguais e sucessivas do planeta no céu, foi estimado em 584 dias segundo os maias, valor muito próximo do atualmente aceito 583,9 dias.

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Uma das grandes preocupações dos maias foi seu interesse pela medida do tempo. Ao constatar que determinados fenômenos se repetiam a intervalos regulares, imaginaram que estes eventos deviam se reproduzir em outras datas.

Essa preocupação em datar tudo está muito bem assinalada nas inscrições de seus monumentos, aos quais põem as datas do início e fim em que foram elaborados.

Possuíam dois calendários: um solar, de 18 meses de 20 dias, e mais 5 dias desastrosos e, um outro, ritual, religioso, que compreendia 20 períodos de 13 dias, designados cada um deles por um nome particular precedido do número 1 ao 13. Um calendário semelhante era adotado pelos astecas.

O atual período de tempo decorrido entre o aparecimento de Vênus, como estrela da manhã, e como estrela da tarde, é muito próximo do valor do ano ritual de 260 (263 dias em média). Por outro lado, 3 ciclos de 260 dias são quase exatamente iguais ao período sinódico de Marte (779,94).

A associação desses dois calendários maias permitia a repetição dessa sequência idêntica a cada 18980 dias, correspondendo a 52 anos do calendário solar (52×365=18980) e a 73 anos do calendário ritual (73×260= 18980). Como a aritmética maia desconhecia as frações e, sendo os períodos astronômicos quase todos fracionários. Assim, o dobro do ano ritual (520 dias) era equivalente a três metades do ano eclipse de 346,62 dias (3×172,31=519,93), fator que deve ter sido importante nas suas previsões de eclipses.

Grande parte do conhecimento da civilização maia, que conhecia o conceito de zero antes dos ocidentais, perdeu-se nas mãos destruidoras dos conquistadores fanáticos, que se consideravam ?donos? da cultura, da sabedoria e da verdade.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 80 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2006. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com