São Paulo (Agência Fapesp) – Uma extinção em massa ocorrida nas montanhas da Costa Rica, há 17 anos, fez desaparecer dois terços das 110 espécies de rãs do gênero Atelopus. Sabia-se que a causa direta desse desequilíbrio ecológico havia sido o ataque de um fungo, o Batrachochytrium dendrobatidis. Mas, mesmo com a correlação estabelecida, sempre houve uma dúvida. Por que os fungos conseguiram tanto sucesso em sua estratégia de ataque aos anfíbios costarriquenhos?
Pesquisa publicada na última quinta-feira, na revista Nature, é taxativa: o responsável por esse desequilíbrio é o homem. As alterações de temperatura nas altitudes entre mil e 2,4 mil metros, provocadas pelo aquecimento global, facilitaram o ataque dos fungos.
Segundo o artigo assinado por Alan Pounds, do Centro de Preservação Tropical da Floresta Úmida de Monteverde, na Costa Rica, e colaboradores, duas situações ambientais que ocorreram na região ajudam a explicar o encontro fatal. O clima mais quente ou seco os dados mostram que houve uma diminuição entre as temperaturas máximas e mínimas -causou maior estresse sobre os anfíbios, que teriam ficado mais suscetíveis a doenças.
O outro fato é que os dias mais quentes também beneficiaram os fungos apenas naquelas altitudes, onde as temperaturas costumam ser mais baixas. Ou seja, os fungos encontraram um clima altamente favorável. Nas terras baixas e nos desertos estava muito quente. Em altitudes maiores, frio intenso.
Para correlacionar o fenômeno regional com as mudanças globais, os pesquisadores utilizaram dados de perda de calor entre a superfície do oceano e a atmosfera. Ao usarem testes estatísticos para ligar um fenômeno ao outro, conseguiram um alto índice de confidência, 99%. ?Essa forte sinergia entre transmissão do patógeno e mudanças climáticas pode ser vista também como preocupante para a saúde humana?, escreveu Andrew Blaustein, da Universidade do Estado de Oregon, Estados Unidos, em comentário na mesma edição da Nature.