São Paulo – Apesar de ser considerada uma das vilãs do aquecimento global, a agricultura pode passar a ser vista como uma solução, diz a pesquisa Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira.
O estudo foi divulgado no último dia 11 pelos pesquisadores Hilton Silveira Pinto e Eduardo Delgado Assad, da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no 7.º Congresso Brasileiro do Agribusiness, em São Paulo.
De acordo com Hilton Silveira, há cerca de dois anos, a pior vilã agrícola no Brasil era a cana-de-açúcar, que estava vinculada a queimadas (que aumentam as emissões de gás carbônico na atmosfera).
“Hoje, com a tecnologia que temos, a cana-de-açúcar é, vamos dizer, a menina mais boazinha da agricultura. Ela consegue seqüestrar [capturar] em todo o ciclo industrial quase um terço da energia fornecida em carbono”, afirmou o pesquisador. “Isso significa que a cana está fazendo com que a taxa de carbono atmosférica caia, apesar de todo o processo agroindustrial. Outras culturas também ajudam a incorporar muito mais CO ao solo”, completa.
Hilton Silveira é diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas Agricultura (Cepagri), da Unicamp. Segundo ele, o plantio direto evita a queimada e faz com que a área cultivada com milho ou soja, por exemplo, absorva durante um ano cerca de 500 quilos de CO por hectare. Antigamente, isso não ocorria. “Você queimava a mata para fazer agricultura. Aí, sim, estava causando aumento de CO . Hoje, não mais”, explica.
O estudo traça dois cenários para a agricultura diante da perspectiva de mudanças climáticas: um mais pessimista e outro mais otimista. Hilton Silveira acredita que o mundo todo vai ser forçado a caminhar para o cenário mais otimista.
“Porque, se caminhar para o pessimista, há indicações muito seguras de que o pior cenário já está pior do que se imaginava. Ou seja, os modelos que foram feitos, como os que nós seguimos, já estão um pouco atrasados. Porque o aumento de CO atualmente medido já fugiu da curva original traçada.” Por isso, ele recomenda que sejam adotadas ações para minimizar esses efeitos.
O setor do agronegócio cresceu 7,89% no ano passado, superando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no Brasil. Para isso contribuíram os altos preços das commodities (produtos agrícolas e minerais negociados no mercado externo) e a safra recorde de 133,3 milhões de toneladas de grãos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2007, o PIB evoluiu 5,4%. O agronegócio representou 24% da economia brasileira no ano passado.
O estudo acentua, porém, que as mudanças climáticas podem interferir de forma negativa nesse processo de crescimento. Em relação soja, a pesquisa analisa que o aquecimento global pode diminuir a área de baixo risco ao cultivo no país em, pelo menos, 21% até 2020.