À procura de uma cultura galáctica

A questão de uma vida inteligente, ou mesmo de uma civilização extraterrestre em quaisquer pontos do universo está intimamente associada à existência de planetas extra-solares. Com efeito, não existindo muitos sistemas planetários, seria pouco provável que a vida tenha se desenvolvido. Aliás, a probabilidade de que o nosso sistema solar fosse um caso único no universo limitou, durante muito tempo, a discussão sobre as civilizações extraterrestres.

A descoberta de um sistema planetário em formação, pela sonda IRAS – Infrared astronomical satellite, em 1983, e de 220 planetas extra-solares, nas últimas duas décadas, deixaram os defensores da idéia da pluralidade dos mundos muito ansiosos. Será que eles existem realmente?

Antes de qualquer discussão sobre a existência dos planetas extra-solares, convém procurar defini-los e/ou classificá-los. Os planetas constituem massas secundárias não luminosas que circulam ao redor de um sol primário ou de dois ou mais sóis nos casos, respectivamente, de uma estrela binária ou múltipla. Eles podem se dividir em três principais categorias. Na primeira, encontram-se os ?gigantes gasosos?, também designados de mundos jupiterianos, em geral planetas enormes, com atmosferas de baixa densidade mas muito extensas, possuindo vários satélites e quase sempre um sistema de anéis, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.

Na segunda, encontram-se os pequenos ?planetas terrestres?, que apesar de menores em tamanho, possuem uma atmosfera comparativamente menos densa, uma densidade mais elevada do que a dos planetas jupiterianos (por exemplo, Júpiter é o maior e o mais maciço mundo do sistema solar, possuindo cerca de 300 vezes a massa da Terra e somente 1/1000 da massa solar). Os planetas terrestres possuem poucos satélites; às vezes nenhum, como no caso de Mercúrio e Vênus, ou um ou dois, como ocorre com a Terra e Marte.

Na última e terceira categoria encontram-se os objetos semelhantes aos planetas, com massa intermediária entre as dos mundos gigantes e as pequenas estrelas. Eles constituem as denominadas anãs marrons – termo cunhado pelo astrônomo norte-americano Jill C. Tarter, especialista em procura de vida extraterrestre – em geral com massas equivalentes a 85 massas jupiterianas e temperaturas relativamente baixas, da ordem de 120 a 2000 graus Kelvin, o que inviabiliza o início das reações termonucleares responsável pelo brilho das estrelas.

Nos anos 60, após quase meio séculos de pesquisas, o astrônomo norte-americano Peter van der Kamp anunciou a descoberta de um sistema de dois planetas girando ao redor da estrela de Barnard. No entanto, a existência desses planetas parece hoje duvidosa.

Quase todas estas descobertas, ao chegarem às agências de notícias, foram anunciadas com manchetes que causaram sensação. Os cientistas sabem perfeitamente avaliar o peso e significado de determinadas comunicações publicadas nas mais conceituadas revistas científicas. Até mesmo os seus autores sabem os limites e as incertezas dos seus resultados. Por este motivo, a cultura científica não pode se basear unicamente em resultados. É necessária uma informação complementar relativa aos métodos que foram usados para se chegar às conclusões anunciadas.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

Detecção carece de tecnologias

No caso específico dos planetas extra-solares, é fundamental advertir o leitor das extremas dificuldades que envolvem a detecção de corpos de massa planetária gravitando ao redor de outros sóis e da natureza incerta dos resultados obtidos. Na realidade, a confirmação da existência desses astros depende do desenvolvimento de novas tecnologias observacionais.

A imprecisão nas medidas extremamente delicadas que envolvem a procura dos planetas extra-solares e a autenticidade de algumas hipóteses, sugeridas por estas observações, supõem a resolução de alguns problemas quase todos associados às possíveis explicações destas perturbações eivadas de erros. É, na realidade, difícil detectar as eventuais perturbações causadas por um planeta ao redor de uma estrela isolada, que só se traduzem por desvios periódicos.

Todas estas descobertas estão deixando ansiosos os astrônomos preocupados com a existência de vida no universo. Na impossibilidade de colocar em órbita um telescópio com um gigantesco espelho, os astrônomos pretendem simular os efeitos de um telescópio gigante colocando em órbita outros menores, bem separados entre si, mas associados eletronicamente no tratamento dos sinais recebidos. Com um tal instrumento, será possível registrar um objeto do tamanho de Netuno ao redor das estrelas mais próximas.

Outro projeto mais ousado, a ser lançado, em 2010, é o Planet Finder (Descobridor de Planetas), interferômetro com cinco espelhos de 90 a 60 centímetros, situados além da órbita de Júpiter, ou seja, numa região na qual a poeira interplanetária é mais tênue. Com o Planet Finder será possível localizar planetas semelhantes ao nosso e, provavelmente, detectar a presença de água liquida e analisar sua atmosfera em busca de sinais de vida, tais como oxigênio, dióxido de carbono e ozônio.

Não podemos esquecer que a atual procura de planetas extra-solares é comparável à tarefa dos astrônomos que, há dois séculos, sem sucesso, tentaram determinar a paralaxe das estrelas, ou seja a sua distância da Terra. Os astrônomos que atualmente se consagram à pesquisa dos planetas extra-solares são pioneiros que abrem caminhos, submetendo-se às vezes às incompreensões de seus colegas e do grande público. Como no caso da distância das estrelas, o caminho que conduzirá à descoberta dos planetas fora do sistema solar é árduo, longo e cheio de obstáculos. Mas não há dúvida que chegaremos até lá.

O importante é encontrar na nossa galáxia planetas com vida inteligente, civilizações mais avançadas com as quais poderemos desenvolver uma cultura galáctica. Talvez encontremos, nos próximos anos, os planetas habitados, alguns exclusivamente por robôs inteligentes, como imaginou Isaac Asimov.

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