A Lua Azul

Uma vez na Lua Azul … é uma maneira de dizer que um acontecimento é impossível ou muito pouco freqüente. Na realidade, o que é uma Lua Azul? É a segunda lua cheia que ocorre em um mesmo mês do calendário. Assim, neste mês de maio de 2007, ocorreu uma lua cheia no dia 2 e uma segunda ocorrerá no dia 31. Esta última é uma Lua Azul.

Lua Azul. No começo do processo civilizatório, a Lua era o grande marcador de tempo. Nos calendários lunares – os primeiros elaborados pelo homem -, o início do mês era determinado pelo primeiro mais fino crescente visível, logo após a lua nova. Em conseqüência dessa convenção, a ocorrência de uma segunda lua cheia num mesmo mês era praticamente impossível, como ainda ocorre com o calendário lunar dos muçulmanos. Assim, a Lua Azul associada à idéia de algo impossível, que nunca acontece, deve ter surgido nesta época quando o único calendário em uso era o lunar.

Para compreender a relativa raridade de duas luas cheias num mesmo mês, procuraremos analisar com mais detalhes o mecanismo que rege as fases da Lua nos calendários lunissolares, como no nosso.

A duração média de uma lunação, ou seja, o intervalo de tempo entre duas fases iguais e consecutivas da Lua, é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2,9 segundos. Assim, se em 1.º de janeiro ocorrer uma lua cheia, a próxima se dará no dia 30 ou 31 de janeiro, de acordo com a hora. A lua cheia seguinte cairá em 29 de fevereiro, se o ano for bissexto; caso contrário, em primeiro de março. Neste último caso, a lua cheia subseqüente vai ocorrer em 30 ou 31 de março. As luas cheias sucessivas, nesse ano imaginário, uma vez por mês, cairão sempre um dia antes do mês anterior, ou seja, respectivamente, em 29, 28, 27, 26, etc. Verifica-se portanto que as fases da lua, ao longo do calendário lunissolar, vão depender de vários fatores: se o ano é bissexto, se o mês tem 30 ou 31 dias, se a fase da Lua se inicia no primeiro ou segundo dia do mês.

Existem anos que ocorrem duas luas azuis. É um fenômeno raro. Em 2018, vão ocorrer duas luas azuis: uma em 31 de janeiro e outra em 31 de março. Situação análoga só ocorreu em 1915 e 1999.

Em 1961, ocorreram duas luas azuis, uma em 31 de janeiro e outra em 30 de abril, este fenômeno de uma lua azul no mês de janeiro e outro em abril, no mesmo ano, é um evento mais raro: ocorreu em 1741 e vai se repetir de novo em 2094. Ainda mais rara é a ocorrência de duas luas azuis: uma em 31 de janeiro e outra em 31 de maio. Um tal acontecimento é previsto para 2113 e outro para 2333.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, escreveu mais de 85 livros, entre outros, Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com

Designação é simplesmente uma convenção

Uma tradição de origem no Egito. A expressão Lua Azul parece ter surgido entre os egípcios para designar a lua cheia do décimo-terceiro mês do seu calendário. Como este mês estava associado à cor azul, que era a cor da boa sorte, convencionou-se denominar esta décima-terceira lua cheia de Lua Azul. Na realidade, essa e a segunda lua cheia de um mesmo mês não se apresentam com a coloração azulada. Sua designação é simplesmente uma convenção.

Mas, às vezes, surge uma coloração levemente azulada no disco aparente da Lua, provocada pela interposição de partículas na alta atmosfera terrestre – como cinza, poeira vulcânica, etc. Em grande quantidade, tais partículas absorvem as radiações vermelhas, deixando passar as radiações azuis, que produzem a coloração azulada da imagem lunar. Essa cor azul ocasional da Lua foi largamente observada durante a erupção do vulcão Krakatoa, em 26 de agosto de 1883, e em 26 de setembro de 1950, durante um incêndio em florestas canadenses, quando poeiras se espalharam nas altas camadas da atmosfera, e, mais recentemente, durante a erupção do vulcão havaiano Pele, em 2 de abril de 1984.

A Lua Azul acabou imortalizada pelo escritor, poeta e romancista inglês David Herbert Lawrence, na expressão ?it?s only once in the bluest of blue moon? que acabou sintetizada na expressão mais popular ?once in the blue moon? (uma vez na lua azul).

Provavelmente inspirados na relativa raridade desses eventos, o compositor Richard Rodgers (um dos seis maiores compositores populares norte-americanos) e o letrista Lorenz Hart escreveram a famosa canção Blue Moon: Blue Moon, you saw me standing alone,/without a dream in my heart,/without a love of my own (Lua azul, você me viu sozinho/sem um sonho no meu coração/sem um amor para mim).

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