Galileu, ainda jovem, conheceu as idéias de Copérnico que o deixou muito angustiado, pois acreditava mas não dispunha das provas necessárias. Foi quando recebeu o livro do desconhecido Johannes Kepler, seguidor de Copérnico. Também não tinha as provas necessárias mas era um aliado.
Nessa época, conheceu Marina, filha de um nobre arruinado. Apaixonou-se. Passaram semanas de muita felicidade. O pai dela adoeceu e morreu e ela engravidou. Galileu alugou uma casa para ela próxima da sua. Nasceu sua primeira filha. Tiveram ainda outra filha e um filho.
Recebeu uma carta de Kepler que havia deixado Gras perseguido por religiosos, em 1600, refugiou-se com o astrônomo Tycho Brahe na Áustria. Ao mesmo tempo chegava a notícia de que Giordano Bruno, maior filósofo da Renascença e padre dominicano, fora queimado vivo em Roma.
Em 1604, dois ex-discípulos descobrem no céu uma nova estrela. Era a prova que Galileu precisava para mostrar um erro de Aristóteles. Iniciou conferências que foram freqüentadas por todo tipo de autoridade. Atacou os aristotélicos, que passaram a atacar sua honra.
Ficou doente, reviu suas convicções e as de Kepler, este havia desenvolvido uma teoria de que as órbitas eram elípticas e não circulares. Também Kepler, em seu novo livro, havia menosprezado Galileu.
Galileu teve seu contrato renovado para quinhentas e vinte moedas anuais, duzentas a mais que estava recebendo, era o maior salário já oferecido a um professor. Os problemas com sua saúde tornaram-se freqüentes.
Visitando uma fábrica de vidros em Veneza, lembrou-se de uma carta de um ex-aluno francês descrevendo um telescópio fabricado pelo holandês Lippershey, encomendou diversas lentes para fazer experiências. Era julho de 1610, construíra o telescópio, apontou para a cúpula da distante igreja e chamou a todos para verem, as salas de aula esvaziaram. Aconselhado por Marina a procurar proteção, escreveu ao doge oferecendo o seu invento como peça de guerra.
No dia 21 de agosto de 1610, no alto do Campanário, Galileu demonstrou a todos, soberano e senadores. Depois de quatro dias, aprovaram um salário para Galileu de mil moedas anuais. Visitou a mãe e as irmãs, saldou todas as dívidas. Trouxe a mãe para Pádua. Mas não deu certo, teve que mandá-la de volta. Acompanhou-a sua filha preferida, o que o desgostou muito. Não conseguindo dormir, apontou o telescópio para as estrelas… E depois para a Lua… E viu um novo céu!
Passou noites observando. Se Aristóteles havia visto 1027 estrelas, Galileu estava vendo dez mil. Viu os planetas e descobriu suas luas. Narrou tudo no “Sidereus Nuncios” (Arauto das Estrelas). Mudou o mundo.
Realizou seu sonho, foi convidado para ser o matemático da corte em Florença, sua terra natal. Descobriu que Vênus orbitava o Sol. O sistema de Copérnico encontrava sua prova. Com isso, Galileu atrairia a atenção do Santo Ofício. Em Florença não tinha o mesmo respaldo que em Veneza. Foi aconselhado a ir a Roma explicar-se. Mostrou à Comissão, dirigido pelo Cardeal Bellarmin, o céu pelo seu telescópio e recebeu o parecer favorável ao livro.
Houve uma grande oposição, mas de ninguém importante. Porém, ao reivindicar a descoberta das manchas solares, expôs a sua crença em Copérnico, em um momento político ruim. Suas filhas quiseram ser freiras. A solidão o aguardava.
Finalmente, foi denunciado à Inquisição. Antecipando-se, foi a Roma, e depois de muito tempo o dispensaram, sem levá-lo ao tribunal. Solicitou à Inquisição um atestado de não estar em desacordo com a fé. E conseguiu! Voltou triunfante.
Morreram sua mãe e, logo depois, sua irmã. Conquistou a amizade do Papa Urbano VIII de quem já tinha a simpatia desde quando ainda era o Cardeal Barberini. Montou e aperfeiçoou para o Papa o microscópio de outro holandês, Drebbel. Em 1632, escreveu o seu “Diálogo”, que lhe custou uma segunda investida da Inquisição. Com 70 anos, velho e temendo ser torturado e queimado vivo, assinou a retratação e foi condenado à prisão domiciliar.
Convencido pelo Bispo Piccolomini, escreveu “Sobre a Nova Ciência”. Soube que o seu “Diálogo” conquistava os países não-católicos. Perdeu sua filha querida. Ficou cego. E no dia 8 de janeiro de 1642, com 78 anos, após receber uma bênção especial do Papa, confessou-se e morreu em seguida.
Mário Eugênio Saturno é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Catanduva (FAFICA) e congregado mariano. (E-mail:saturno@dea.inpe.br)