Foto: Divulgação

 Numa ponta da fibra são lançados raios laser depois refletidos ao longo de todo o cabo.

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Num futuro próximo, prevêem especialistas, as pessoas irão presenciar a convergência das principais mídias de entretenimento. A televisão da sala irá servir para se assistir a uma infinidade de canais em alta definição e, ao mesmo tempo, poderá ser utilizada para fazer ligações telefônicas e ainda ver a pessoa com quem se fala e navegar pela internet, tudo isso em tempo real e com altíssimas velocidades de conexão. E mesmo que um aparelho como esse ainda esteja a pelo menos uma década de distância da maioria dos brasileiros, o meio por onde essa informação toda irá trafegar já existe e está presente nos principais centros urbanos do País: a fibra óptica.

Trata-se de pequenos cabos feitos de sílica, um tipo de plástico, da espessura de um fio de cabelo, mas com capacidade de transmissão até 1 milhão de vezes maior do que o cabo metálico, que é o meio mais utilizado hoje para telefonia e televisão a cabo, por exemplo. Na prática, não existe diferença na velocidade de transmissão entre os dois tipos de cabo, mas sim na quantidade de informação levada de uma só vez. A fibra transmite as informações pelo sistema de reflexão total. Imagine um cabo plástico comprido e flexível revestido internamente com espelhos. Em uma das pontas são lançados raios laser que são refletidos ao longo de todo o cabo, mesmo que ele tenha curvas. Como em um código morse, os raios laser são ligados e desligados para enviar cada bit de informação.

Antes da explosão da bolha da internet, período antes de 2001, quando as pessoas faziam fortunas com a internet, as grandes empresas de telefonia gastaram muito dinheiro instalando fibras ópticas pelo País, acreditando que o volume de informação iria aumentar rapidamente. ?Atualmente só se utiliza 5% da capacidade das fibras no Brasil?, afirma o professor do Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica da Universidade de Campinas (Unicamp), Carlos Lenz Cesar. ?O que acontece é que quanto mais gente se tem na internet, menos se gasta com telefone fixo. E as empresas de telefonia ainda não sabem como farão para ganhar dinheiro com ligações?, explica.

Desde o advento da tecnologia da voz sobre IP, ou Voip, pode-se fazer ligações interurbanas e até internacionais de um computador para outro ou até mesmo para um telefone através da rede, sem pagar a ligação. ?A fibra óptica se tornou um tiro no pé das telefônicas, que agora enfrentam uma mudança no paradigma de como farão para ganhar dinheiro. Se investem muito, morrem mais rápido. Acredito que elas terão que se contentar em cobrar por serviços que passam por suas redes e diminuir os lucros?, diz Lenz. Nos Estados Unidos, esse tipo de serviço já é realidade. Empresas cobram a partir de U$ 30 por mês para que os clientes tenham, através de fibra óptica, acesso à TV a cabo, internet e telefonia.

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A Brasil Telecom já liga grandes clientes com linhas diretas de fibra óptica, mas segundo o supervisor técnico da empresa, Sílvio Seiji Kuroda, o preço é proibitivo para os clientes domiciliares. ?Mas a tendência é que no futuro ela seja mais acessível.? Kuroda também aposta na convergência dos serviços quando uma rede apenas de fibra funcionar, mas até se esquiva da resposta de como a companhia, uma das grandes no ramo telefônico do País, faria para cobrar seus serviços. Uma pista está no lançamento do serviço de Voip da Brasil Telecom, que entra em funcionamento em dezembro, que será cobrado por utilização mensal, assim como a internet, e não por cada ligação.

Ainda uma larga estrada com poucos automóveis trafegando por ela

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?A capacidade de transmissão de uma única fibra óptica na próxima década será tão elevada que permitirá o envio, em apenas um segundo, à velocidade de 400 terabits/segundo, de todas as informações publicadas pelos dez maiores jornais do mundo ao longo de sua história?, o trecho faz parte do livro 2015, O Ano em que Viveremos no Futuro, do jornalista e especialista em tecnologia Ethevaldo Siqueira. Mas atualmente, ele explica, devido ao alto grau de ociosidade das redes de fibra, é como se tivéssemos uma estrada de 500 metros de largura e quase nenhum veículo trafegando nela.

Para Siqueira, tão logo as empresas de outros setores aprendam a lucrar com as redes, veremos coisas até então reservadas aos filmes de ficção. ?Atualmente já é possível médicos assistirem e até mesmo realizarem algumas cirurgias por videoconferência, mas é uma tecnologia cara, devido ao alto grau de resolução que as imagens precisam ter. Numa videoconferência por fibra óptica, a qualidade de imagem pode ser tão alta que qualquer mancha na imagem que tenha significação médica será notada. Aí sim teremos confiabilidade?, conta o especialista.

Outras possibilidades que se abrirão com redes de alta velocidade baseadas em fibra óptica serão o ?video on demand?, ou vídeo por demanda, onde o cliente acessa o site de uma locadora, por exemplo, e assiste um filme de qualidade de DVD pela internet, sem precisar ter uma cópia; e até mesmo operar programas de computador via internet, sem precisar instalá-los no seu micro. ?A tecnologia de fibra óptica permitirá uma redução de custos imensa em diversas áreas?, prevê.

Benefícios sociais

Siqueira revela que, na cidade de São Paulo, cerca de 5 mil prédios de alto padrão construídos por volta de 2001, têm redes de fibra óptica. ?Antes do estouro da bolha, todos achavam que a convergência das mídias seria mais rápida. Então essas pessoas têm alta tecnologia ociosa em suas casas.? A Eletrobrás chegou até mesmo a criar uma subsidiária para fazer ligações em fibra nesse período, a Eletronet, que conseguiu um fato inédito para uma estatal, quebrar devido à baixa procura pela tecnologia.

Enquanto as redes de fibra óptica no Brasil estagnaram, no Japão, por exemplo, onde a empresa de telecomunicações é estatal, implantou-se um projeto em larga escala chamado ?Fiber to the Home?, fibras para as casas, em português. ?O governo daquele país percebeu a importância do monopólio da fibra para as novas tecnologias e investiu nisso?, afirma o professor da Unicamp, Carlos Lenz. Ele revela que não importa quanto demora para ser utilizado todo o poder dessas redes, já que como é um cabo de plástico que imita vidro e muito resistente, a vida útil de uma fibra pode durar centenas de anos.

?Esse vai ser o legado dos físicos para o século XXI?, anima-se Lenz. Isso porque ele acredita que, quando as fibras óticas não forem mais um luxo, elas resolverão o fosso social da tecnologia, democratizando o uso da internet em países como o Brasil. ?Arrisco dizer que o impacto social da utilização da fibra óptica em grande escala vai mudar a organização da sociedade?. É ver para crer. (DD)