2003 UB313: o décimo planeta?

Descoberta do maior objeto do Cinturão de Kuiper, em 8 de janeiro de 2005, em placas obtidas em 21 de outubro de 2003, com o telescópio Samuel Oschin de 1,22 metro do Monte Palomar do California Institute of Technology, pela mesma equipe de astrônomos constituída por Michael E. Brown, Chadwick A. Trujillo, David Rabinowitz, que já haviam descoberto vários outros objetos transneptunianos, como (50. 000) Quaoar e (90.377) Sedna.

O novo objeto, denominado provisoriamente 2003 UB313, só foi verdadeiramente descoberto em 8 de janeiro de 2005 quando fotografias da mesma região do céu revelaram o seu deslocamento em relação às imagens anteriores. Os estudos do arquivo de várias observações anteriores permitiram reencontrá-lo em imagens tomadas pela mesma equipe em 9 de setembro e em 4 e 5 de outubro de 2004, assim como em placas fotográficas obtidas em dezembro de 2000, outubro de 2001, novembro de 2002. O registro mais antigo desse objeto encontra-se sobre as placas fotográficas registradas no Observatório de Siding Spring, Austrália, em 29 de setembro de 1989.

A equipe não tinha a intenção de divulgar a sua descoberta antes que outras observações tivessem sido efetuadas com o objetivo de precisar o tamanho e a massa do objeto; no entanto, um vazamento da notícia forçou-os tomarem a decisão de anunciar de maneira preventiva a descoberta para assegurar a prioridade.

O objeto ainda não recebeu um nome oficial. Os rumores, segundo o qual seria chamado de Xênia ou Lilás, são incorretos. A União Astronômica Internacional deve-se pronunciar sobre a proposição do nome indicado pelos descobridores que devem satisfazer as normas da União para torná-la pública.

As observações anteriores à da descoberta permitiram o cálculo de uma órbita desse objeto ao redor do Sol. Segundo essa trajetória, o novo objeto circula a uma distância de 37,808 UA, quando mais próximo do Sol (periélio), afastando-se de até cerca de 97 UA, quando da sua passagem a maior distância ao Sol (afélio). Para percorrer toda essa órbita ao redor da Terra, o 2003 UB313 gasta 557 anos.

Tamanho

Segundo a fórmula usada para estimar as dimensões dos corpos celestes, 2003UB313 deve possuir um diâmetro compreendido entre 4.400 km e 9.900 km, se o seu albedo, isto é, o seu poder refletor varia de 0,5 a 0,25, respectivamente. Ora, como a determinação do seu albedo é ainda imprecisa, em conseqüência as dimensões estimadas do seu diâmetro também são incertas; no entanto, é provável que seja superior ao de Plutão. O mais provável é que o objeto tenha um diâmetro inferior a 3.550km, pois não foi possível detectá-lo através do Telescópio Espacial Spitzer, da Nasa, que é incapaz de registrar a presença de astros com diâmetro inferiores a este valor. No entanto, o seu limite inferior teórico, determinado em função do seu brilho, supondo que a sua superfície fosse 100% refletora (o que na realidade não ocorre), o 2003UB313 seria ainda muito maior do que Plutão, cujo diâmetro é de 2.250km.

Características físicas

Em 25 de janeiro de 2005, através do espectrógrafo infravermelho do telescópio de 8 metros do Observatório Gemini Norte, em Mauna Kea, no Havaí, Chad Trujillo obteve uma série de espectros que sugerem a existência de metano congelado, notavelmente semelhante ao espectro de Plutão, que se apresenta igualmente dominado pelo metano em forma sólida nas observações próximas do infravermelho. Pouco se sabe sobre esse objeto. No entanto, ele parece ser muito semelhante a Plutão na dimensão e composição. A presença de metano solidificado é pouco comum porque sugere uma superfície primitiva que provavelmente não tenha sido sensivelmente reaquecida desde que o sistema solar se formou há 4,5 bilhões de anos. No caso em que este objeto tivesse passado muito próximo do Sol, todo o metano que se encontra ainda em estado sólido teria desaparecido. O mais importante desta descoberta é que ninguém ainda tinha detectado metano em outros objetos do Cinturão Kuiper. O registro de metano nessas regiões mais afastadas do sistema solar só foi registrado em Plutão e Tritão, satélite de Netuno.

O metano é muito volátil e a sua presença mostra que o 2003UB313 permaneceu sempre em uma região do sistema solar, onde o frio foi suficiente para manter esse gás congelado. O fato está em oposição às observações de outros objetos da faixa de Kuiper; recentemente descobertos que revelam a presença de água congelada e não de metano.

Plutão, o nono planeta do sistema solar?

A descoberta em nosso sistema solar do 2003 UB313 poderá ter como conseqüência a eliminação de Plutão da lista dos planetas, ou, ao contrário, o seu acréscimo como o décimo planeta, ou ainda, o que parece mais provável, a elaboração de uma nova definição mais precisa do que é um planeta.

Plutão significa ?o rico? que era o sobrenome dado a Hadès, deus dos infernos, na mitologia.

Quando Plutão foi descoberto, em 1930, foi considerado o nono planeta – um mundo congelado que se supunha tão grande quanto a Terra – desde então o mais afastado conhecido do sistema solar. Tão seguros estavam os astrônomos, que Mercúrio continuou a ser considerado o menor planeta. Só no fim dos anos de 1960 os cientistas constataram que a sua dimensão tinha sido superestimada. A massa do planeta era 1/5 daquela da Lua e o seu diâmetro de aproximadamente 2.250km. Desde então Mercúrio deixou de ser o menor.

No momento da sua descoberta, Plutão era o único objeto conhecido orbitando além da órbita de Netuno. Nosso sistema solar só contava então com oito planetas, ou seja, os cinco conhecidos desde a antiguidade (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno), Urano descoberto em 1781, Netuno em 1846 e a Terra, e aproximadamente 20 satélites naturais e cerca de 2.000 asteróides relacionados.

Quando o seu satélite Caronte – nome do barqueiro que atravessava as pessoas pelo lago Estige mediante o pagamento de um óbulo – foi descoberto em 1978, o status de planeta para Plutão estava aparentemente confirmado, pois os astrônomos acreditavam na época que só os planetas possuíam satélites.

Hoje a nossa visão do sistema solar está totalmente alterada. Além dos 9 planetas do qual um deles é Plutão, existe mais de uma centena de satélites naturais, mais de 300 mil asteróides relacionados, dos quais aproximadamente cerca de 100 mil receberam uma designação provisória. Além do mais, descobriu-se que vários asteróides possuíam satélites.

Cinturão de Kuiper

Ao longo dos anos, o número crescente de asteróides descobertos, alguns deles na mesma região de Plutão ou em uma região mais afastada, levou um bom número de astrônomos a questionar o status real de Plutão. Seria um planeta ou um grande asteróide? Aliás, o debate existe desde a descoberta, em 1930. Após um período sem discussões, a questão ressurgiu entre os especialistas que a reviveram, especialmente depois da descoberta, em 1992, dos primeiros asteróides de um novo grupo, pelos astrônomos norte-americanos David Jewitt e Jane Luu, que, convencidos de que Plutão não representava a última fronteira do sistema solar, decidiram continuar observando mais além. Suas pesquisas confirmaram a hipótese formulada em 1951 pelo astrônomo norte-americano de origem holandesa Gerard Kuiper. Depois da descoberta de 1992QB1 – o primeiro representante desta família -, as descobertas não cessaram de aumentar. Com efeito, os astrônomos desde então já descobriram aproximadamente mais de mil outros pequenos objetos gelados situados além da órbita de Netuno. Estima-se que nesta região devem existir mais de 100 mil pequenos corpos, chamados plutinos, que constituem o Cinturão de Kuiper. Vários astrônomos acreditavam que poderia haver mesmo alguns mais importantes com diâmetro superior ao de Plutão.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual hoje é pesquisador titular, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de mais de 70 livros, entre outros, do Explicando a Teoria da Relatividade.

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