Dor, desconforto e sangramento são alguns dos sintomas de um problema de saúde que costuma trazer incômodo e, principalmente, constrangimento: as hemorroidas. E, mesmo não sendo uma doença grave, ela merece atenção, tratamento e, principalmente, diagnóstico adequado, já que os sintomas podem ser confundidos com outras patologias mais sérias, como infecções ou até mesmo câncer no reto e ânus. Neste sentido, as mulheres estão um passo à frente dos homens, pois, apesar de os médicos acreditarem que há maior incidência no sexo feminino, são elas quem mais procuram os consultórios para tratar este problema.
A médica chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Curitiba e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Maria Cristina Sartor esclarece que as hemorroidas são dilatações de estruturas semelhantes a pequenas artérias e veias, localizadas no ânus e na parte inferior do reto, que podem sofrer dilatações e aumento de volume, causando sangramento ou coagulação do sangue dentro delas, o que é conhecido como trombose hemorroidária.
Segundo ela, as hemorroidas podem ser classificadas em internas ou externas, de acordo com sua localização. “As internas se localizam dentro do canal anal, junto ao reto e são recobertas por mucosa, que é um tecido semelhante ao que temos na boca. E as externas estão localizadas próximas à margem do ânus e são recobertas pela pele dessa região”.
Além da localização, hemorroidas internas e externas também se diferenciam pela dor provocada. “As internas estão situadas numa região não dolorosa, sendo seu principal sintoma o sangramento vivo ou a sua exteriorização quando a pessoa faz força para evacuar ou para levantar peso, tossir e espirrar. Quando mais volumosas, além de sangrar, podem apresentar perda de secreção, o que deixa o ânus úmido e pode provocar coceira”, afirma.
Já as externas, por sua vez, localizam-se numa das regiões mais dolorosas do corpo humano e podem apresentar coágulos no seu interior, o que causa muita dor. “Quando esse coágulo é muito volumoso, pode fazer erosão na pele que o recobre, que perfura, aparecendo sangramento vivo, que dura alguns dias, podendo até aliviar um pouco a dor”, descreve a médica.
O que não é unanimidade entre os médicos é a causa da hemorroida, pois, segundo eles não há um fator único e sim um conjunto de condições, que, combinadas com a pré-disposição genética, podem levar ao surgimento das hemorroidas. Entre estes fatores, estão: ter intestino preso, evacuar poucas vezes por semana ou ter fezes muito endurecidas, esforço para evacuar, esforços que aumentem muito a pressão abdominal, obesidade e gestação. Na gestação, as alterações hormonais e o peso do bebê podem dificultar a passagem do sangue pelas veias anais, e isso pode provocar coágulos ou sangramento do ânus.
Derrubando mitos
Para a médica coloproctologista do Hospital Nossa Senhora das Graças Sônia Cristina Cordero Time, a pré-disposição familiar é o fator determinante. Além dela, os demais fatores podem desencadear crises em quem tem esta tendência, mas não provocam a doença. “Comer pimenta, gravidez, ficar muito tempo no vaso sanitário e outros fatores são tabus. Eles agravam e desencadeiam crises, mas não provocam as hemorroidas”.
No entanto, algumas ações podem evitar o problema ou amenizar os sintomas. Entre elas, estão a adoção de hábitos saudáveis que facilitam o trânsito intestinal, como a ingestão diária de fibras, o consumo de líquidos e a prática de exercícios físicos. Evitar o uso do papel higiênico, lavar a região com água e secar bem também é recomendando, para diminuir a coceira e as assaduras.
“As hemorroidas afetam 60% da população mundial, provocando sangramento, dor e coceira. Para estas pessoas, há tratamento clínico (com anti-inflamatórios, anestésicos, pomadas e banho de assento) capaz de afastar as condições que desencadeiam crises e de diminuir os sintomas. Além dele, há métodos paliativos como a ligadura elástica e as cirurgias, que resolvem efetivamente o problema”, garante Sônia.
Entre as técnicas cirúrgicas, existem as convencionais que cortam a pele e amarram o vaso, o grampeamento que grampeia a região e a minimamente invasiva que interrompe o fluxo de sangue que chega ao reto. “Mas o diagnóstico e a indicação de qual é o tratamento adequado para cada pessoa deve ser feito exclusivamente pelo médico. Não é todo o doente que tem indicação para a cirurgia e outros problemas precisam ser descartados”.