O drama vivido pelo jovem Mariana Bridi, de 20 anos, vítima de uma, aparentemente, simples infecção urinária, comoveu o País.

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Com o agravamento do quadro infeccioso, os médicos foram obrigados a amputar parte dos seus membros inferiores e superiores.

O quadro evoluiu desfavoravelmente e a jovem faleceu em 24 de janeiro, chamando a atenção para a importância do diagnóstico precoce da síndrome séptica.

A doença é hoje um dos maiores responsáveis por óbitos em ambientes hospitalares, cerca de 400 mil casos são diagnosticados por ano, com 230 mil mortes.

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De acordo com o médico Álvaro Réa Neto, chefe da UTI-adulto do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), casos como o da modelo estão entre os mais graves entre as diversas síndromes sépticas e são relativamente incomuns.

O especialista explica que a sepse é uma resposta inflamatória e imunológica do paciente a infecção.

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“Se a infecção se tornar muito grave ou o paciente não tiver uma resposta apropriada ao tratamento, ocorrem disfunções orgânicas graves e a taxa de mortalidade aumenta consideravelmente”, alerta.

A reação inflamatória excerbada do organismo à presença de um microorganismo (bactéria, vírus) é a principal causa de pneumonias e infecções urinárias, entre outras doenças.

Habitualmente, pacientes com esses quadros infecciosos apresentam reação inflamatória localizada, apenas na região da infecção (por exemplo, no pulmão, como nos casos de pneumonia).

Uma parcela dessas infecções acaba estendendo a reação inflamatória ao corpo todo, levando a dano nos demais órgãos. A disfunção de múltiplos órgãos secundária ao choque séptico (acometimento de diversos órgãos pela reação inflamatória) é a situação mais grave e leva à septcemia, caso de Mariana Bridi.

Atraso no diagnóstico

No choque séptico, o sistema cardiocirculatório se torna incapaz de manter uma pressão arterial adequada. Essa complicação causa diminuição do fluxo sanguíneo para diversos tecidos do corpo.

“Medicações potentes para elevar a pressão arterial, administradas por via endovenosa, tentam corrigir esse quadro, entretanto os resultados não são garantidos”, avalia Flávia Machado, presidente do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas).

Para a presidente, o principal problema para o controle da sepse no Brasil é o atraso no diagnóstico, motivado em parte pelo desconhecimento da doença da equipe de saúde.

Réa Neto adverte que o atraso no diagnóstico correto acarreta retardo no início do tratamento e a probabilidade de surgirem complicações graves que podem levar á morte aumenta bastante.

Para o diretor, tanto a população precisa se conscientizar da necessidade de procurar um médico rapidamente na suspeita de uma infecção, quanto os serviços médicos necessitam se qualificarem para reconhecer rapidamente um caso mais grave e iniciar o tratamento sem demora.

Além do preparo dos médicos, a conscientização da comunidade é considerada fundamental para ajudar a salvar vidas e evitar complicações provocadas pela doença.

A febre acompanhada de alteração da consciência, manchas na pele, diminuição da pressão arterial, falta de ar e diminuição na produção da urina, são sinais de alerta importantes que devem ser relatados a um médico ou aos responsáveis pelas unidades de saúde.

Hospitais públicos

“As diretrizes do tratamento da doença enfatizam a necessidade de terapia nas primeiras seis horas após o início do mal funciona,mento de algum órgão”, lembra Flávia Machado, observando que essa é uma meta muito difícil de cumprir no Brasil e mesmo no mundo. “Além disso, a adequação do antibiótico a ser utilizado é fundamental”, finaliza a presidente.

No Paraná, o Programa de Otimização do Tratamento da Síndrome Séptica (POTSS) uma iniciativa do Hospital de Clínicas (HC) da UFPR com o apoio da Secretaria de Saúde do Estado, foi aplicado em quatro hospitais públicos (no próprio HC, no Hospital do Trabalhador e nos hospitais universitários de Londrina e Cascavel). Em 100 dias, a mortalidade caiu de 64% para 48%, salvando 28 vidas em 180 pacientes em que foi aplicado.

“É um programa de baixo custo que mostra como a organização dos recursos já disponíveis e o reconhecimento precoce da doença pode melhorar bastante a situação crítica em vários locais no Brasil”, avalia Réa Neto.

De acordo com o presidente da Amib, a mortalidade por sepse grave no Paraná é ao redor de 30% a 40% e do choque séptico se configura entre 50% e 70%. Esse índice é maior nos hospitais públicos quando comparada com os hospitais privados e, em média 40% maior no Brasil que nos países desenvolvidos.

O modelo do Paraná começa a ser “exportado” para outros estados. Em algumas cidades, por exemplo, a rede pública começa se organizar para implantar um programa semelhante envolvendo profissionais de todas as unidades dos hospitais no combate à doença, objetivando a redução do tempo de internação em UTI, dos gastos com tratamento e redução de mortes pela síndrome.

Protocolo do tratamento

Vários são os procedimentos necessários para controlar um caso de sepse grave ou choque séptico, mas, basicamente, os principais são:

1. Iniciar o uso de antibiótico dentro da primeira hora do diagnóstico
2. Administrar um volume adequado através de soros e drogas para corrigir o distúrbio hemodinâmico e oxigenar os órgãos
3. Intensificar a ventilação mecânica protetora
4. Decidir rapidamente sobre a necessidade ou não do uso de corticóides
5. Controlar os distúrbios metabólicos, principalmente, a glicemia

Sinais e sintomas

” Falta de ar
” Pele roxa
” Queda na pressão
” Manchas na pele
” Falta de ar
” Sonolência
” Dificuldade para urinar
” Aumento da frequência de pulso