Quando se fala em tumor, é inevitável que a primeira relação que venha à nossa cabeça é com o câncer. Mas nem todos são malignos desta forma. Um exemplo de tumor benigno que acomete muito as mulheres é o mioma uterino, “uma espécie de calo que se forma no útero, tanto na parte externa, quanto no músculo e na cavidade interna do órgão”, como explica o médico ginecologista do Hospital Pilar, Vicente Letti. De acordo com ele, entre 35% e 40% das mulheres podem desenvolver esse tipo de tumor, principalmente aquelas que estão na faixa etária entre 35 e 55 anos.
Muitas delas, entretanto, nunca ouviram falar a respeito do mioma uterino antes de serem diagnosticadas e, por isso, a descoberta de que têm o tumor acaba acontecendo tardiamente, quando o quadro já está bastante evoluído. Como não sabem do que se trata, algumas, inclusive, se assustam mais do que deviam, achando que este é o início de um câncer do colo uterino, mas não há razão para tanto desespero, de acordo com o médico ginecologista do Hospital de Clínicas (HC) e do Hospital Nossa Senhora das Graças, Almir Antonio Urbanetz.
“É comum encontrar mulheres que vêm para o consultório com esse conceito de que o mioma, por ser um tumor, é câncer, mas ele não é nem se transforma em câncer, pois é benigno”, explica o médico. No entanto, não se sabe exatamente qual a causa do problema, apenas que há uma predisposição genética e que ele acomete mais as mulheres de pele negra. Alguns casos podem ser assintomáticos, o que dificulta o diagnóstico, mas, em geral, os prejuízos para a qualidade de vida das mulheres são vários e pioram conforme o tumor vai aumentando de tamanho.
Entre os principais sinais que podem fazer com que as próprias mulheres ou os médicos com os quais se consultam desconfiem de que elas tenham mioma são dor no baixo ventre e sangramento menstrual irregular e em excesso. “Como consequência, podem aparecer ainda anemia, interferências na sexualidade ou queixas urinárias, pois o útero cresce de tal tamanho que pressiona a bexiga”, afirma Urbanetz. O diagnóstico é feito por meio de exame ginecológico de rotina com toque vaginal, complementado com ecografia pélvica endovaginal.
Em muitos casos, o tratamento é feito somente com medicação e reposição hormonal para controle do tumor. Em outros, principalmente quando o tamanho do mioma é muito grande, com volume acima de 250 cm3, ou quando a paciente perde muito a qualidade de vida, é necessária a realização de intervenção cirúrgica. “Esse procedimento pode ser mais conservador, como retirada apenas do mioma, ou com retirada completa do útero, por meio da histerectomia total abdominal ou da videolaparoscopia”, comenta Urbanetz. Segundo Letti, em alguns casos, o procedimento de retirada do mioma ainda pode ser feito por histeroscopia, método menos invasivo.
Possibilidade de cirurgia deve ser estudada
Com a qualidade de vida prejudicada por um mioma uterino, a aposentada Soeli Joly, 50 anos, se prepara para se submeter à intervenção cirúrgica para retirada total do útero. Ela conta que, a princípio, ficou bastante reticente, mas depois percebeu que somente assim ela teria uma vida normal novamente. “No início, quando me falaram da cirurgia, me senti deprimida, pensando que iam tirar um pedaço de mim, apesar de eu não estar mais na idade de ter filhos, mas procurei mais informações para me inteirar do assunto e só assim consegui aceitar que esta é a melhor solução”, conta.
Soeli foi diagnosticada com o mioma há cerca de dois anos, mas é possível que ela já tivesse o tumor muito antes disso, pois ela não deu a devida atenção aos sintomas que tinha. “Minha família toda tem esse problema de menstruação em abundância e eu achava que era normal. Além disso, semp,re me informei sobre o câncer de colo uterino, mas nunca procurei saber nada sobre o mioma. Então, por não ter conhecimento do que era, nem pensei nessa possibilidade. Só quando a minha médica desconfiou dessa possibilidade e realizei os exames para, então, receber o diagnóstico é que fui entender melhor o que era”, relembra a aposentada. É por isso que hoje ela é uma grande defensora dos exames ginecológicos regulares.
Para quem ainda pretende ter filhos, no entanto, a retirada total do útero deve ser descartada. Neste caso, a melhor solução é optar pela retirada apenas do mioma, quando houver necessidade, pois, dependendo do seu tamanho, o mioma pode até comprometer a gravidez. “Se o tumor estiver localizado dentro da cavidade do útero e tiver um volume muito grande, ele pode interferir no crescimento do feto, pois ele fica sem espaço, passando a ser considerada uma gravidez de risco”, avalia Urbanetz. Letti ainda lembra que, em alguns casos, esse tipo de tumor pode impedir a passagem do esperma, diminuindo a fertilidade da mulher e, neste caso, para poder engravidar, somente passando pela cirurgia.