Quantas vezes você foi ao oftalmologista nos últimos anos? A pergunta pode parecer banal, mas é sempre válida, inclusive para quem não tem qualquer problema aparente de visão. É que esta é a única forma que existe para se prevenir do aparecimento de uma doença talvez ainda pouco conhecida, mas bastante perigosa. De difícil diagnóstico, por ser normalmente assintomático, estima-se que o glaucoma seja responsável por cerca de 15% dos casos de cegueira ao redor do mundo. Só perde para a catarata (cerca de 40%), que, apesar de ser mais frequente, é considerada menos grave por ser reversível.

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E tem mais um dado que mostra que as mulheres devem mesmo se preocupar com esta questão. De acordo com a médica oftalmologista do Hospital Nossa Senhora das Graças, Marisa Vieira Frederico, cerca de 60% dos pacientes de glaucoma são mulheres. Ou seja, é comprovado que o sexo feminino corre mais risco neste caso. Se você ainda for de origem negra ou asiática, a preocupação deve ser redobrada. A doença, caracterizada pelo aparecimento de lesão no nervo ótico, também é mais frequente nessas etnias. E pode atingir gente de todas as idades, sendo mais frequente em pessoas com mais de 40 anos.

Por não apresentar sintomas, os médicos recomendam que todas as pessoas, independente de apresentarem algum outro tipo de problema de visão ou não, visitem o oftalmologista ao menos uma vez por ano, principalmente a partir dos 40 anos, como forma de prevenção. Se deixarem para agendar uma consulta somente quando apresentar os primeiros sinais de diminuição do campo de visão, consequência direta do glaucoma, os pacientes correm o risco de fazer parte das estatísticas de cegueira, já que este sintoma já representa um grau avançado da doença. Por isso, é melhor garantir e colocar a visita ao especialista na agenda dos exames de rotina.

“A consulta ao oftalmologista tem que se tornar um hábito, como a visita anual ao ginecologista. Senão, a pessoa corre o risco de só perceber quando estiver em um estágio avançado da doença, quando fica difícil de controlar a perda de visão”, reforça Marisa. “Em uma consulta de rotina, o especialista faz alguns exames, entre eles o de pressão ocular e o de campo visual, que já serve para levantar essa suspeita, excluir essa possibilidade ou detectar o desenvolvimento da doença. Isso só pode ser feito por um médico habilitado. Numa ótica, ninguém vai fazer esses exames”, completa o médico oftalmologista do Hospital Pilar, Guilherme Gubert Müller.

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De acordo com ele, um dos principais indícios de que o paciente pode estar desenvolvendo um glaucoma é a pressão alta do olho. “Se a pressão ocular estiver alta, as chances de aparecer a doença é maior. Mas também são pouquíssimos os casos em que a pessoa consegue sentir de alguma forma que está com esse problema, por sinais como dor, visão embaçada, vermelhidão. Só quando a pressão está muito alta mesmo. Então, vale a mesma recomendação dada nos casos assintomáticos, ainda mais porque a pressão alta é um indício, mas não uma regra, pois existem casos em que o paciente apresenta o glaucoma, mas não tem pressão ocular alta”, explica Müller.

Quem também deve dar mais atenção à prevenção do glaucoma são as pessoas com histórico familiar, que fizeram uso de corticoide ou têm diabetes, mesmo que, neste último caso, a relação ainda não esteja completamente comprovada. Também não se tem certeza de que hábitos saudáveis possam promover algum tipo de benefício. “Mesmo assim, recomendamos porque esta é uma doença vascular. Acreditamos que, assim como em outros casos, o paciente pode se beneficiar da qualidade de vida na prevenção e no tratamento, apesar de não haver comprovação de que haja essa relação”, avalia a médica.

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Diagnóstico precoce, tratamento menos agressivo

Identificado precocemente, o tratamento do glaucoma normalmente é feito com uso de colírio. “Medicamentos orais não são mais usados porque eles têm muitos efeitos sistêmicos e contraindicações. Então, o mais comum é o uso do colírio ou tratamento com laser. No caso do colírio, como esta é uma doença crônica, é preciso ter consciência da importância de usá-lo corretamente. É como um paciente de diabetes, ele não pode esquecer de usar a insulina. Com o paciente de glaucoma, é a mesma coisa. Ele vai ter que pingar o colírio todos os dias até morrer”, explica Marisa.

Em casos mais graves, como última opção, existe a possibilidade de intervenção cirúrgica. No entanto, são poucos os casos em que esta é a solução adotada pelos médicos, pois a operação é muito delicada. “A cirurgia é complicada e o pós-operatório também, pois o risco infeccioso é grande e não há uma garantia concreta de que vai resolver completamente o problema”, comenta Müller. E, mesmo quem passa pela intervenção cirúrgica pode precisar do colírio depois ainda.