Previna-se!

Vacina contra HPV estará disponível gratuitamente

Pesquisas apontam que 80% das mulheres, em algum momento de suas vidas, vão ser infectadas pelo HPV, que pode causar câncer de colo de útero, um dos que mais atingem o sexo feminino, perdendo apenas para o de mama e o de pele. Entre 2004 e 2008, último período com dados disponíveis, a incidência desse tipo de câncer em Curitiba era de 29,9 casos para 100 mil mulheres. Como o TDelas já mostrou, em abril do ano passado, existem mais de 200 variações deste vírus, sendo que somente seis delas podem levar ao câncer, mas, como nunca se sabe com qual deles você pode ter contato, melhor mesmo é apostar na prevenção, feita com uso de preservativo, além da vacina, que chega agora à rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS), estando disponível a partir da próxima segunda-feira, dia 10.

Até então, a única forma de ter acesso a essa vacina era por meio da rede privada de saúde, pagando entre R$ 200 e R$ 350 cada dose. Agora, não será mais necessário fazer esse investimento, pois ela será disponibilizada gratuitamente em todas as unidades básicas de saúde (só em Curitiba, são 109 postos). No entanto, não é toda mulher que poderá ter acesso a ela. Ainda que a vacina seja indicada para mulheres de até 25 anos, somente meninas de 11 a 13 anos poderão ser vacinadas (no ano que vem, a faixa etária abaixa ainda para nove a 11 anos e, em 2016, somente para aquelas que tenham nove anos). Mesmo assim, somente em Curitiba, 40 mil adolescentes terão direito à vacina neste ano, mesma quantidade de 2015.

A diretora do Departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Juliane Oliveira, explica os motivos de o SUS ter optado por essa faixa etária para a disponibilização da vacina. “Essa faixa etária foi escolhida para garantir que as meninas sejam vacinadas antes do início da vida sexual. Assim, quando elas começarem essa atividade, já vão estar protegidas contra o vírus. Apesar de existirem meninas com mais idade que não tiveram essa iniciação também, esta é a possibilidade que o serviço público pode oferecer”, diz. Ela também lembra que a vacinação não descarta completamente a necessidade do uso de preservativo. “Ela é apenas mais um elemento na prevenção, que também inclui a visita periódica ao ginecologista e a realização do exame Papanicolau, para identificar alterações no colo do útero que possam evoluir para um câncer”.

Juliane afirma que, por ser novidade, a divulgação da vacinação será reforçada neste primeiro mês – entre 10 de março e 10 de abril. “Apesar de acreditarmos que a vacina terá boa adesão porque população sabe da existência dela, com bastante procura no setor privado, precisamos comunicar a sociedade de que agora ela está disponível na rede pública. É importante esclarecer que esta não é uma campanha, é a introdução de uma nova vacina, que estará sempre disponível nas unidades básicas de saúde daqui para frente”, afirma. Por isso, escolas também receberão equipes de vacinação. Nesses casos, as famílias das meninas que estejam nessa faixa etária vão receber um material informativo sobre a importância da prevenção contra o HPV.

Quantidade de doses causa polêmica

A partir do momento em que a vacina contra HPV estiver disponível na rede pública de saúde, a vacinação vai acontecer da seguinte forma: uma dose inicial; uma segunda dose seis meses depois da primeira; uma terceira dose 60 meses (cerca de cinco anos) após a primeira. Quem for vacinada este ano, portanto, só receberá a terceira e última dose em 2019. Essa demora tem causado críticas por parte da comunidade médica, que acredita que essa distância temporal pode dificultar o acesso à, terceira e última dose.

O médico ginecologista do Hospital de Clínicas, Rosires Pereira de Andrade, que também é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador da vacina contra o HPV, explica que a introdução da vacina já deveria ter acontecido, e de uma forma diferente. “A vacina foi aprovada nos Estados Unidos já em 2006 e, apesar de o Brasil também a ter aprovado no mesmo ano, só agora chega à rede pública brasileira. Ou seja, nosso país está oito anos atrasado. Naquela época, a vacinação passou a ser feita em todo o mundo com três doses – uma inicial; uma segunda dois meses após a primeira; e uma terceira, seis meses após a primeira. Só que, nesse meio tempo, alguns países, como o México, começaram a fazer uma vacinação diferente, como o Ministério da Saúde está propondo agora”, relembra.

Mesmo assim, ele diz não ser contra a disponibilização da vacina na rede pública, ainda que se utilize uma metodologia diferente. “Isso é melhor do que nada. Com uma dose, a menina está protegida, com duas fica mais protegida, e com três, está completamente protegida. Então, mesmo que ela só receba uma, vai ajudar”, afirma. Ele também se mostra favorável à faixa etária escolhida pelo Ministério da Saúde para receber a vacina. “Nada impede que meninas mais velhas e mesmo homens não possam tomar, mas desde o início a faixa etária priorizada era essa. Nos demais casos, ainda há a rede privada”. Juliane, por sua vez, garante que o serviço público vai se esforçar para garantir que as meninas tenham acessam à terceira dose. “Este é o desafio quando estamos lidando com vacinas multidoses”.