Trabalhar em família pode ser bom, mas tenha cuidado

Trabalhar em família se tornou a opção natural para algumas mulheres, que preferiram desempenhar funções na empresa fundada por parentes ou formar sociedades com os próprios maridos. Dividir com pessoas tão próximas os espaços particulares e os profissionais se transforma em um desafio, mas que pode ser vencido com determinação de limites e muito jeito.

Natália Anring, sócia da loja colaborativa Endossa, divide a responsabilidade da empresa com o marido. A loja, que aluga boxes para a venda de diferentes produtos, foi instalada há quatro anos com a parceria dos dois. Antes de começarem a trabalhar juntos, Natália e o marido conversaram sobre como ficaria a rotina do casal. “Quando decidimos pela loja, já pensamos como faríamos. A gente se divide no atendimento para não ficar junto o tempo todo. Se eu estou em casa, ele está na loja. Brinco que trabalho até às 20h e tentamos não levar trabalho para casa. Se não for assim, não tem como relaxar”, conta.

Carolina Marcondes é a responsável pelos setores administrativo e financeiro da Dental Esthetic Center, clínica de odontologia comandada pelo marido, Rogério Marcondes. A parceria profissional começou cinco anos atrás. “Trabalhava em banco e, quando saí da empresa onde eu trabalhava, meu marido teve a ideia de expandir a clínica. Antes, ele trabalhava sozinho, apenas com uma secretária”, lembra. Ela revela que, muitas vezes, os dois nem conversam no ambiente de trabalho, por executarem tarefas bem diferentes. O diálogo acontece em casa e aparecem assuntos profissionais, mas isto não preocupa Carolina. “É difícil não falar. Vale muito a pena a nossa parceria porque temos um objetivo em comum”, avalia.

Manuela Ribeiro de Aguiar tem uma experiência diferente. Ela trabalha na empresa com o irmão, Eduardo Aguiar, fundador da WebStorm, que atua no desenvolvimento de ferramentas para o comércio eletrônico, e-commerce e logística. Há um ano, ela trabalhava em outro local e comentou com o irmão que gostaria de trabalhar na empresa. “Nós conversamos e ele deixou claro que eu era como qualquer outro funcionário, em um ambiente profissional. A minha adaptação foi fácil e tranquila”, relata. Na mesma empresa, trabalha outro irmão de Manuela, mas em outro setor, o que não favorece o contato dentro do ambiente profissional.

Decisão requer análise

Ivonaldo Alexandre
Quando Manuela quis sair da empresa em que trabalhava anteriormente, uma opção foi pedir ajuda aos irmãos.

A coach Karina Reis, da Cannoh Coaching, lembra que é necessário pensar bastante antes de assumir o compromisso de trabalhar com familiares. De acordo com ela, esta é uma decisão que deve ser muito bem analisada. A mulher precisa levar em conta as afinidades, qualidade no relacionamento, complementariedade de talentos e valores de conduta de cada um, além do conjunto como um time. “O grande erro cometido é deixar a emoção ficar no meio da decisão, misturar os papéis e o lado profissional se tornar algo pessoal”, salienta.

De acordo com ela, alguns cuidados podem facilitar a convivência no âmbito profissional, como a separação dos papéis de cada um dentro da empresa. “Não importa se são casados e vão juntos ao escritório. Estando lá, se cumprimentem novamente, dessa vez como sócio e sócia ou parceiro de trabalho. Assim, formalizam que naquele ambiente cada um está em seu papel profissional”, afirma. Karina também recomenda não levar assuntos profissionais para casa e que os familiares ou o casal estipulem as retiradas financeiras (como se fossem os salários) do negócio, delimitando os recursos profissionais e o,s pessoais.

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