Quem está casado há muito tempo lembra dos primeiros anos com saudosismo. A paixão era tanta que dificilmente recorda-se do momento em que encontraram a primeira toalha molhada sobre a cama ou a primeira peça de roupa deixada fora do lugar. Por sua vez, se o amor não era tão grande, dificilmente o casamento durou, afinal aprender a conviver é uma tarefa que exige extrema paciência e persistência.

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De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, foram registrados 351 mil processos judiciais de divórcios – um crescimento de 45,6% em relação a 2010. Desta forma, naquele ano, estabeleceu-se um recorde histórico em relação à quantidade de separações no país. A maioria deles (21%) envolvia casais que tinham de cinco a nove anos de casamento.

O que surpreende é saber que a segunda maior faixa de divorciados (18%) é composta por pessoas que nem chegaram ao primeiro ano de convivência. Mesmo assim, há muita gente que sobrevive a esse período difícil de adaptação. Elaine Andrade, 29 anos, e Leonardo Passos, 30, acabaram de passar por essa fase inicial de convivência e aprenderam formas maravilhosas de encarar os problemas.

Allan Costa Pinto
Descobertas positivas deram força à união de Elaine e Leonardo.

“Quando é namoro, é tudo mais fácil: não dormimos nem acordamos juntos, ele não te vê de mau humor logo cedo, nem descabelada. Quando briga, cada um vai pro seu canto. Mas no casamento, não é assim que funciona. O problema precisa ser resolvido antes de dormir”, conta Elaine. Para ela, as principais dificuldades, nos primeiros meses de casamento, foram controlar o instinto maternal de superproteção do marido, lidar com os costumes trazidos pelos dois das casas de seus pais, ter controle no planejamento financeiro da casa e administrar as saidinhas com os amigos.

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“Confesso que tem coisas que ainda me incomodam, mas consigo entender. Não é que ele vá fazer alguma coisa de errado, ele só quer e precisa de um pouco de espaço. Aliás, a mulher deve fazer o mesmo, ter amigas, sair. Isso torna o relacionamento mais saudável para os dois”, revela. Mas as descobertas positivas fizeram todas as dificuldades valerem a pena. Elaine descobriu que Leonardo é um ótimo cozinheiro e que não inventa coisas só para receber visitas. Pelo contrário, adora criar receitas novas só para agradar a esposa.

Irreverência

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O bom humor ajuda muito os casais a enfrentar as dificuldades. É assim com Fabielle Pepler e Halisson Ferreira, ambos com 26 anos, casados há apenas seis meses. Ele tem uma filha de um relacionamento anterior, mas a pequena nem entra na lista dos problemas do novo casal.

“O mais difícil é lidar com as manias e hábitos que cada um tem. Um sente muito frio e, o outro, muito calor, aí na hora de dormir é aquela briga. Ou um quer sair e, o outro, ficar em casa. Essas adaptações chegam em certos momentos a serem engraçadas e fazem parte da convivência. Tudo é uma questão de se adaptar e respeitar o espaço um do outro”, conta Fabielle.

A lista de problemas aumenta quando Fabielle vai lavar roupas. Ela fica louca quando tem que desabotoar toda a camisa de Halisson, já que ele tira as camisas de uma vez só quando vai tomar banho. Nada disso, porém, diminuiu o amor que eles sentem um pelo outro e, em nenhum momento, eles pensaram em desistir. “O relacionamento amadurece e as responsabilidades aumentam. Isso acabou nos aproximando ainda mais. Também tem o lado de que você ainda está em lua-de-mel, curtindo sua vida a dois, sua casa, suas coisas, o seu espaço, o que é muito bom”, lembra.

Divórcios aumentaram, pois processo fico,u mais fácil

Quem descobriu que o amor da sua vida não era tão perfeito e sentiu que a convivência não será possível encontra na lei mais facilidades para recomeçar a vida. Anteriormente, era necessário que o casal se submetesse a dois processos judiciais: o de separação e o de divórcio. “Isso causava grande transtorno emocional e financeiro para os envolvidos. O Judiciário também ficava cada vez mais abarrotado com o alto número de processos”, explica a advogada Juliana Gimenes Molina.

Isso acontecia porque o Estado zelava pela permanência da união do casal devido à sua interferência, por meio dos cartórios, no estabelecimento do vínculo matrimonial, considerando a família a base da sociedade. A sociedade moderna já não faz o mesmo juízo de valor sobre o casamento e a lei acompanhou isso. Em 13 de julho de 2010, com a publicação da Emenda Constitucional nº 66, foi abolida a exigência da separação judicial por mais de um ano ou separação física comprovada por mais de dois anos, antes do divórcio.

“Para não ficar preso a um vínculo jurídico que não é mais interessante, o melhor é que se possa divorciar-se imediatamente, pois a separação judicial apenas colocava fim às relações patrimoniais entre os cônjuges. Eles ficavam dispensados dos deveres de coabitação e eram proibidos de se casarem novamente naquele período”, ressalta a advogada.

Agora, portanto, é possível iniciar o processo de divórcio a qualquer momento, mas é claro que todo mundo deixa isso como última alternativa. A psicóloga Izabela Neves Freitas defende que, acima de tudo, haja diálogo. “Ao viver juntos, trazemos duas histórias diferentes, nossos valores, nossas inquietações, a história familiar de cada um, e é preciso conversar sempre, é preciso namorar sempre que possível. A dedicação torna-se indispensável para o aprendizado diário que é o casamento”, orienta.