Ser mãe é uma missão impossível?

Ser mãe não é uma missão lá muito simples. O esforço sem tamanho e as noites sem dormir são para que a criança cresça saudável e se desenvolva com consciência de valores que a ajudem a enfrentar as dificuldades da vida da melhor maneira. O problema é que, ao conviver com outros grupos de pessoas, os valores da criança podem mudar. Aí, não tem mãe que não fique “de cabelos em pé” quando o filho esquece as dificuldades financeiras e exige um tênis de marca ou um celular de última geração.

Essa inversão de valores que prioriza o “ter” em detrimento do “ser” tem sido muito comum entre os jovens. “Para “pertencer” ao grupo, o jovem precisa se destacar e, para isso, ele deixa até de comer para desfilar com um boné de grife, um smartphone de última geração, ou ir com a turma num show ou ao cinema. A inversão é tamanha, que muitos deles não conseguem assimilar a importância de valorizar o seu “eu” interior. O que vale mesmo é o exterior, aquilo que os outros veem e que, de preferência, provoque inveja”, conta o psicólogo Caio Feijó, mestre em psicologia da infância e adolescência.

Ele lembra que essa inversão é comum em qualquer classe social, chegando a um ponto em que uma jovem criada por pais humildes e honestos pode preferir roubar ou até se prostituir para ter o que acha que precisa para se destacar. Se não receber apoio e orientação, esta garota poderá crescer acreditando que só será aceita e respeitada pelo que mostra, e não pelo que é.

Vários fatores durante a educação podem ajudar a causar essa atitude. De acordo com Feijó, muitas vezes, os pais querem que os filhos sejam de uma maneira, mas eles próprios não agem assim. Em outros casos, os pais perdem o controle da educação quando os filhos não aceitam sua condição social ou estes pais cometem erros por sentimento de culpa, geralmente pela ausência na vida dos filhos, e acabam fazendo tudo o que os pequenos querem.

Para o psicólogo, o exemplo dos pais é fundamental, mas não é o único fator que influencia o comportamento dos filhos. “Valores são assimilados pelas crianças ao observarem o repertório de comportamentos saudáveis, principalmente dos pais, nas várias situações da vida. Entretanto, somente ser um pai ou mãe correto, ético, respeitador e humanitário, por exemplo, não é suficiente na maioria dos casos. Os pais precisam exercer influência positiva sobre os filhos, serem respeitados”, explica.

Para exercer essa influência, uma dica é estar sempre muito bem informado sobre os assuntos de interesse dos filhos e dialogar bastante – não só falar, como também ouvir. Outra sugestão é a “supervisão parental”, ou seja, saber do que o filho gosta, do que não gosta, onde costuma ir, com quem, em quais matérias da escola tem dificuldade, em quais tem facilidade, qual é o nome da professora, dos amigos, entre outras coisas.

Gêmeos

A comerciante Vivianne Lovato Borges tem um casal de filhos gêmeos (foto), de oito anos, e percebeu que eles mudaram um pouco de comportamento desde que entraram no Ensino Fundamental. Victor Charles, garoto exemplar, que uma vez apartou uma briga para defender um coleguinha com Síndrome de Down, se rendeu à moda e começou a pedir coisas que os amigos da escola têm. O mesmo aconteceu com a irmã, Camille Victória, que também sempre foi uma garota muito prestativa com os amiguinhos.

Toda vez que eles pedem coisas que não precisam de verdade, Vivianne tenta reverter a situação com muita conversa. “Eles ficam bravos na hora, mas depois acabam entendendo”, garante. De acordo com ela, apesar de gêmeos, os dois têm temperamentos bem diferentes. Camille, se a mãe deixar, é quem gasta mais.

Caio explica que é normal que filhos dos mesmos pais, criados da mesma forma, apresentem comportamento diferente, e, exercitem valores diferentes no dia a dia. “Nesses casos, a explicação é a personalidade, ou, mais propriamente dita, uma parte dela, chamada temperamento. Temperamento é uma parte da estrutura da personalidade (a outra é o caráter) que tem origem genética, ou seja, não é aprendida como o caráter. A criança já nasce assim, simplesmente”, revela.

Segundo o psicólogo, os valores aprendidos da gestação até o sexto ano de vida da criança são os que representarão a maior influência na formação da personalidade. A forma com que foi educado definirá se ele sofrerá maior ou menor interferência de pessoas fora de casa e se poderá ou não ver estes valores de outra forma. “Os pais sempre serão os principais responsáveis pelos bons ou maus comportamentos dos filhos”, conclui Feijó.

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