Estatísticas apontam que pelo menos um em cada mil bebês nascidos vivos no Brasil sofrem de Defeito Aberto do Tubo Neural (DATN), seja anencefalia ou espinha bífida. Essa triste realidade, no entanto, pode ser modificada com a incorporação de um hábito simples pelas mulheres que pretendem engravidar: o consumo diário de ácido fólico por pelo menos 30 dias antes da concepção. A vitamina, pertencente ao complexo B, contribui para o fechamento do tubo neural, evitando a ocorrência de uma má formação.
A preocupação com a divulgação dessas informações por parte da categoria médica é tão grande que a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) está em campanha intensa sobre o assunto desde o ano passado. Ontem mesmo, o presidente da Comissão Especializada em Medicina Fetal da Federação, Eduardo Borges da Fonseca (foto), esteve em Curitiba, participando de um evento do programa Mãe Paranaense, para orientação de médicos da rede pública do estado.
De acordo com o médico, que também é professor adjunto de Obstetrícia da Universidade Federal da Paraíba (UFPA), a vitamina deve ser ingerida no período anterior à concepção porque o fechamento do tubo neural acontece já nas primeiras semanas da gravidez. “Esse processo ocorre entre a 6ª e a 8ª semanas da gestação, antes mesmo de a mulher perceber que está grávida”, explica. Depois de estabelecida, a má formação é irreversível.
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Nos casos de espinha bífida, a taxa de mortalidade é de 40%, mas quando se trata de anencefalia, a morte é inevitável, acontecendo ainda durante a gravidez ou no momento do parto. É por isso que, no ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a interrupção de uma gravidez com feto anencéfalo não é mais crime. “Quando o defeito é a anencefalia, não há nada que possa ser feito. Já no caso de espinha bífida, existem alguns tratamentos experimentais para tentar evitar a morte e diminuir as sequelas, mas não é possível eliminar todas as graves consequências”.
Uma delas pode ser a alteração no desenvolvimento neuropsicomotor, já que a espinha bífida é uma má formação na coluna vertebral (na anencefalia, o defeito acontece no cérebro e, por isso, é sempre mortal). “Um desses tratamentos experimentais é a abertura da barriga da mãe para costurar a coluna, o que traz resultados de melhora fetal, mas aumento dos riscos para a mãe, seja nessa mesma gravidez ou em uma próxima”, comenta. Além da ingestão do ácido fólico anterior à gravidez, o ideal é que a gestante continue consumindo-o até três meses após a concepção do bebê.
Prevenção para todas
Quando a gravidez é planejada, é mais fácil a mulher incluir o ácido fólico em sua dieta, mas não há desculpa para as outras, que não estão pensando em ser mães, deixarem de se prevenir. O consumo da vitamina não faz mal e um período prolongado de ingestão pode ser ainda mais benéfico. “Uma mulher que não pretende engravidar, deve usar algum método contraceptivo. Se isso não está acontecendo, ela está correndo risco de gravidez e deve tomar o ácido fólico. Nos Estados Unidos, existem estudos que mostram que há uma redução de 75% no número de bebês prematuros entre as mulheres que consumiram por períodos mais longos”, alerta Fonseca.
Só é preciso tomar cuidado com a dosagem. A quantidade indicada pela Febrasgo é de 400 microgramas por dia. “Dosagens superiores a 2 miligramas podem acarretar em outros problemas na formação do bebê, como restrição do cre,scimento fetal”, afirma. E, apesar de o ácido fólico ser encontrado na natureza como folato, principalmente em vegetais, a forma sintética é mais estável e, por isso, proporciona uma melhor absorção.
Em Curitiba, o ácido fólico sintético é distribuído gratuitamente nas unidades básicas de saúde. De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura, toda mulher que queira engravidar deve comunicar ao médico da unidade em que é atendida para que ele forneça uma receita, requisitada no momento da entrega do medicamento na farmácia ali mesmo. Nos atendimentos particulares, o gasto diário fica em torno de R$ 0,55, pois uma caixa de DTN-Fol com 90 cápsulas custa R$ 49,50 (preço máximo indicado pelo fabricante).
Apesar dos benefícios que o ácido fólico pode trazer para os bebês, são poucas as mulheres que conhecem a importância de sua ingestão no período anterior à gestação. “No ano passado, realizamos uma pesquisa para analisar a questão. De 500 mulheres, somente 3,8% consumiram a vitamina antes da concepção. A maioria – 58% – não tinha nem planejado a gravidez”, explica Fonseca. A pesquisa foi realizada somente na Paraíba, mas, segundo o médico, a realidade em outros estados não é muito diferente disso. O ácido fólico está na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), lista atualizada todos os anos pelo Ministério da Saúde.