Depois de alguns anos trabalhando na mesma empresa, é comum os profissionais começarem a se questionar a respeito de vários aspectos de sua vida profissional, como desempenho, satisfação e remuneração. Muitos, nesta fase, se deparam com a seguinte dúvida: com todo meu trabalho e dedicação, será que não está na hora de eu receber um aumento de salário? Mas, deste pensamento para a prática, existe uma longa distância. E mesmo quem merece uma bonificação pelo desempenho apresentado acaba ficando sem, por não ter coragem de abordar o chefe e fazer o pedido.
Uma pesquisa realizada no ano passado pela empresa de recrutamento Robert Half aponta que mais de 45% dos brasileiros nunca pediram um aumento salarial. “Esta ainda é uma situação na qual as pessoas não se sentem à vontade”, explica a coordenadora da pós-graduação em Gestão de Pessoas da FAE, Maria Alice Claro. O receio de encarar o chefe para fazer tal solicitação é justificado. De todos os aumentos recebidos, entre os mais de 700 profissionais consultados para o levantamento, somente 10% foi fruto direto de um pedido do trabalhador.
Isso faz com que os profissionais prefiram esperar que o aumento venha de forma natural. De acordo com a pesquisa, esta é a postura adotada por 51% das pessoas consultadas. Para aqueles que queiram se arriscar, a coordenadora do curso Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos da UniCuritiba, Elza Soavinsky, dá algumas dicas. Para ela, antes de mais nada, o profissional tem que fazer uma autoavaliação e identificar quais foram os momentos em que contribuiu para o sucesso da empresa. “No momento do pedido, o profissional tem que apresentar resultados, não apenas fazer a solicitação porque acha que merece ou porque tem tempo de casa”, comenta.
Os projetos apresentados como justificativa para o pedido de aumento têm ainda que ser validados pelos colegas. “Esses resultados positivos devem ser percebidos e reconhecidos pelos gestores e por seus pares”. Maria Alice concorda. “O trabalhador precisa mostrar como contribuiu para o setor dele, participou de projetos diferentes e trouxe ideias novas. Não dá para chegar e falar ‘chefe, quero aumento porque não falto e faço um bom trabalho’ porque isso é obrigação, faz parte do contrato, mas é justamente nesses detalhes que as pessoas se apegam”.
Além disso, Elza recomenda que o profissional demonstre que está correndo atrás de novas oportunidades, novos desafios e novas competências. “Não é só a atuação dele dentro da empresa que conta, mas também o que está buscando fora, como cursos de qualificação, capacitação e atualização”. Desta forma, além de merecer uma promoção, o profissional estará provando que está preparado para assumir cargos de maior responsabilidade, segundo ela. Ela cita três qualidades essenciais para que o profissional seja reconhecido em seu ambiente de trabalho: proatividade, criatividade e inovação.
De olho no entorno, mas sem comparações
Maria Alice ainda destaca outro ponto que deve ser levado em consideração no momento de pedir um aumento para o chefe. “Todo ser humano vive de comparações, então, é comum que as pessoas se comparem com seus colegas, mas essa postura é prejudicial, pois quando o profissional faz esse movimento, é problema na certa. Tem que falar dele mesmo só”.
Para Elza, pedir um feedback para o chefe antes de fazer a solicitação de aumento pode ser uma das soluções para tentar prever qual será a resposta e saber se vale a pena o risco. “O ideal é que o próprio gestor dê feedback constantemente, mas, se isso não acontece, se a empresa não tem um programa formal de acompanhamento, o profissional pode procurar o gestor para saber como está seu desempenho, mas sempre preparado tanto para comentários positivos quant,o para críticas negativas”.
O humor do chefe no dia em que o pedido será feito também deve ser observado, segundo Maria Alice. “O momento em que a solicitação é feita é crucial. É preciso respeitar a empresa ou o chefe se estão passando por uma fase difícil. Afinal, é ele quem vai intermediar a negociação, de acordo com a realidade da empresa, do mercado e até mesmo da economia do país. É preciso avaliar se o valor que está pedindo está dentro do que o mercado paga”, comenta. Ela ainda apresenta uma última recomendação. “A abordagem nunca deve ser feita em público. Tem que ser individual, com horário marcado e sem tom de brincadeira para ser levada a sério”.