Como está a sua?

Quase sempre esquecida, vesícula pode gerar problemas de digestão

Localizada abaixo do fígado, no lado direito do corpo, a vesícula biliar é um órgão pequeno, do qual quase ninguém se lembra com frequência, mas encarregado de armazenar a bile, uma substância produzida pelo fígado que ajuda a digerir a gordura que consumimos diariamente em nossa alimentação. Mas o bom funcionamento da vesícula em nosso organismo pode ser afetado por algumas doenças, que podem deixar o órgão tão doente, que a solução, na maioria dos casos, passa por cirurgia para sua remoção.

Segundo o gastroenterologista e cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Vita Batel João Henrique Lima, os problemas mais comuns na vesícula biliar são a formação dos cálculos vesiculares, conhecido como colelitíases, e a formação de pólipos ou colesterolose (acúmulos de colesterol) na vesícula.

Mais conhecidas, as pedras na vesícula são causadas principalmente por uma parada (estase) da bile na vesícula e por uma alteração da composição desse suco biliar. Mas, mesmo com a doença, de acordo com Lima, grande parte dos doentes não sente nenhum sintoma. “A maioria dos portadores de colelitíase, cerca de 80 a 85% deles, são assintomáticos. Para quem apresenta sintomas, o mais comum é a dor localizada abaixo das costelas à direita. Outros sintomas, menos característicos são náuseas, vômitos, intolerâncias alimentares”.

E, em alguns casos, a obstrução do ducto na saída da vesícula pode provocar dores intensas, conhecidas como cólicas na vesícula. “As cólicas são provocadas pela obstrução de cálculos no infindíbulo ou no ducto cístico, na saída da vesícula. O aumento da pressão dentro da vesícula causa a dor e pode causar uma infecção secundária nos casos de colecistite aguda. A colecistite indica um processo inflamatório da vesícula biliar. Ela pode ser crônica, quando ocorrem crises prévias e sem inflamação aguda no momento do diagnóstico, ou aguda, que indica quadro inflamatório atual”, observa o gastroenterologista.

Mas atenção! O cirurgião-geral do aparelho digestivo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Antônio Carlos Kuster Filho diz que, entre os pacientes, é comum confundir os sintomas e o tratamento do cálculo da vesícula biliar com os do cálculo renal, que, segundo ele, são muito diferentes. “As pessoas confundem muito, mas os dois cálculos têm consistências diferentes, assim como devem ser seus tratamentos. Cálculo na vesícula não pode ser tratado com litotripsia, técnica que quebra os cálculos renais, para que possam ser expelidos”.

Como identificar?

O diagnóstico de doenças na vesícula é feito com uma ultrassonografia do abdômen superior e com exames de sangue. Quando as pedras são detectadas, com ou sem a manifestação de sintomas, o tratamento é feito de forma cirúrgica, já que, segundo Kuster Filho, o órgão já está tão comprometido que não seria possível apenas operar para retirar os cálculos.

“Não podemos operar e só retirar o cálculo. A vesícula que tem pedras já está doente. Se fizermos dessa forma, ela formará novos cálculos, além de não cicatrizar corretamente. E isso pode levar a graves consequências, a vesícula poderia vazar a bile para o interior do abdômen e provocar uma inflamação, que pode ser fatal. Se não há uma contraindicação que impeça a cirurgia, indico logo a retirada de vesícula doente. Assim, é possível evitar que o cálculo inflame e leve a uma emergência médica de maiores complicações. Em pacientes que têm pólipos e cálculos associados, tirar a vesícula diminui as chances de desenvolver um câncer, que, nestes casos, são de 30%”, diz o cirurgião.

E hoje a cirurgia &ea,cute; mais tranquila do que décadas atrás. A maior parte delas é feita por meio da videolaparoscopia, uma técnica minimamente invasiva, feita com pequenos cortes e com o auxílio de microcâmeras. E, para evitar a formação de cálculos e também garantir um pós-operatório tranquilo, a recomendação dos médicos é diminuir a ingestão de gorduras. “Nos primeiros três meses após a operação, o corpo ainda estará se adaptando, a árvore biliar que passará a armazenar a bile precisa deste período de adaptação. Quem exagera na gordura durante esta fase costuma passar mal, ter até diarreias. Já para evitar a formação dos cálculos, a orientação é diminuir a ingestão de alimentos gordurosos, evitar a obesidade e o colesterol alto”.

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