Acordar todos os dias e sair para o trabalho motivado, feliz e com bom humor é o que as pessoas mais desejam. Mas problemas de relacionamento com o chefe ou com colegas podem fazer com que mesmo o emprego dos sonhos vire um verdadeiro pesadelo. Mais comum do que imaginamos, os conflitos no ambiente profissional podem ser prejudiciais para o empregado e até para a própria empresa, resultando em consequências como queda da produtividade, rotina desgastante, adoecimento e até afastamento do funcionário.

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“Ter amizade com quem a gente convive diariamente é muito bom, mas se isto não for possível, é preciso seguir em frente, já que trabalho é uma coisa e relacionamento é outra. As pessoas não precisam se amar, devem apenas saber trabalhar juntas. E o foco deve ser sempre nos objetivos profissionais”. É o que afirma a psicóloga e professora de Psicologia da Uninter Carolina Walger.

De acordo com ela, os problemas de relacionamento e conflitos no trabalho podem ser de vários níveis, indo desde um pequeno atrito até os casos mais graves como o assédio moral. Independente de qual seja o caso, Carolina recomenda que o profissional busque conversar com seu chefe ou colega sobre o problema se a relação entre eles permitir. “Fingir que o problema não existe não é o ideal. Conversar para tentar chegar a uma decisão em comum é sempre melhor”.

Se a situação não permitir diálogo ou se o chefe não der abertura, a psicóloga aconselha que o profissional repense sua carreira e condição atual, ponderando se vale à pena continuar na empresa ou se trocar de emprego pode ser uma saída. “Tudo depende do sofrimento causado pelo estresse no relacionamento. Se a pessoa for além do que sua tolerância permite, a dor pode ser maior que os benefícios gerados pelo trabalho. Neste caso, buscar ajuda profissional com um psicólogo ou até mesmo com um advogado pode ajudar”, conclui.

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Bons líderes

“Falta de reconhecimento profissional, falta de diálogo, centralização de poder e de tomada de decisões e fofocas estão entre as queixas mais comuns relatadas pelos colaboradores das empresas”, afirma o coach Leonardo Gotti. Estas reclamações podem ter origem em questões puramente profissionais ou em implicâncias pessoais. “É muito comum as pessoas misturarem trabalho com assuntos pessoais. Mas separar o profissional do pessoal é necessário para obter melhores desempenhos no trabalho. É importante o colaborador ter autoconhecimento, para que ele mesmo possa separar os assuntos. Ter um líder participativo e presente também ajuda nas questões pessoais do colaborador, o líder tem o papel de escutar, analisar e saber dar orientações”, reforça ele.

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Para tentar solucionar o problema, Gotti recomenda que os líderes e gestores das empresas estejam inteirados com o clima organizacional, pois será com esta percepção que vão comandar os resultados da empresa. “Quando se alinha valores da empresa com os valores pessoais, o relacionamento entre líderes e subordinados melhora e os resultados no trabalho começam a aparecer. É fundamental que o líder tenha o hábito de dar feedbacks, negativos ou positivos e na hora certa. O feedback proporciona um relacionamento mais aberto e construtivo no meio organizacional”.

Quando a situação ultrapassa o limite

Quem enfrentou sérios problemas no trabalho foi a professora Rossana Floriano. Hoje pesquisadora e estudiosa do tema, Rossana trabalhava como analista de negócios na época em que enfrentou assédio moral, na empresa onde trabalhava. “Trabalhei nessa empresa por 11 anos, e nos últimos cinco anos em que estive lá, passei pelos piores momentos da minha vida com chefes e alguns colegas de caráter duvidoso. Sofri na pele perseguições, implicâncias e ,humilhação profissional. Fiquei doente, tive crises de pressão alta e gastrite. Só não abandonei o emprego porque precisava do salário. Senti tanto que acabei escrevendo um livro sobre o problema: Acosso Laboral nas Organizações – Uma realidade velada”.

Rossana lembra que ter uma discussão com o chefe ou com um colega em um dia de mau humor pode ser normal. Já o assédio moral acontece quando as agressões e os atentados contra a dignidade são frequentes e repetidos. Para a vítima e pesquisadora, pior ainda que o assédio moral de um chefe para um colaborador, por exemplo, é o assédio organizacional, quando a cultura extremamente competitiva da empresa estimula, incentiva de forma sutil ou não pune estas situações.

No emprego anterior, a professora conta que passou pelas cinco fases do assédio moral. “Na primeira fase, a pessoa não tem certeza sofre o que está acontecendo. Na segunda, percebe a perseguição, mas não tem sintomas físicos. Na terceira, aparecem as doenças e as faltas com atestado. Na quarta fase, a situação vem a domínio público. Na quinta e última etapa, o funcionário fica excluído, pede demissão e, em casos extremos, pode até tirar a própria vida”, afirma a professora. Depois de passar por dias difíceis, Rossana saiu da empresa e fez terapia. Hoje, ela dá aulas sobre o tema dentro das disciplinas da área de comportamento organizacional e psicologia do trabalho.