Sexo nada frágil

Para ter respeito no trabalho, mulheres mudam seus hábitos

Para ser respeitadas e alcançar os altos postos dentro das empresas, as mulheres batalharam muito, estudando e aprimorando suas competências. Assim, conseguiram executar as tarefas e provar que davam conta do recado. Mas para impor autoridade ou conseguir respeito de seus colaboradores, algumas destas profissionais passaram a assumir comportamentos masculinos no ambiente de trabalho. Sim, é isto mesmo. Para apresentar uma imagem de chefe durona e mostrar quem manda na empresa, elas passaram a repetir hábitos e atitudes comuns aos seus colegas do sexo oposto.

Entre as ações consideradas masculinas, estão assumir uma postura mais racional, séria, competitiva, menos flexível e mais focada no trabalho do que na vida pessoal, deixando de lado comportamentos femininos como a emotividade excessiva, o jeito conciliador meio maternal e a dedicação à família. O coach Guilherme Piazetta conta que esta mudança de atitude acontece com frequência dentro das empresas. “O ambiente de trabalho pesado cobra muito das mulheres, fazendo com que muitas vezes a profissional não tenha certeza do que esperam dela, se é um comportamento diferente ou igual ao de seus colegas. Isto gera uma crença limitante, que faz com que elas acreditem que os empregadores preferem uma atuação que siga um papel masculino”.

Para Piazetta, o problema deste comportamento está na insegurança e na comparação com outras pessoas. “Mulheres e homens precisam entender que estas comparações devem ser feitas apenas com os resultados que cada um apresenta. Os dois gêneros são diferentes biologicamente e na forma como trabalham. Saber quais são suas habilidades pessoais e explorar o que cada um tem de melhor é mais produtivo para empresa e para o profissional. Por exemplo, a mulher consegue ser multitarefa e trabalhar os dois hemisférios do cérebro ao mesmo tempo, utilizando o lado racional e o lado criativo. O homem não consegue fazer isto. Então por que seguir um padrão masculino?”. Profissionalmente, outra vantagem feminina apontada pelo coach é a sensibilidade, algo que não deveria ser deixado de lado. “A mulher tem facilidade de ouvir e de dar feedback de forma mais humana e sutil”.

Assumir o papel de chefe não é nada simples, mesmo representando praticamente a metade da força de trabalho do Brasil, elas ainda têm que conviver constantemente com a discriminação em termos de salários, cargos e competências. Para as chefes e líderes que buscam equilíbrio, o coach recomenda que elas procurem identificar o que a empresa espera delas, quais são suas habilidades e como usá-las a seu favor, sem deixar de ser quem são. “Saber controlar a questão emocional, procurando evitar ter demonstrações de descontrole, como choro ou raiva, também evita que os outros a vejam como fraca. E apesar das dificuldades, não é preciso deixar de ser feminina”.

Sem perder a feminilidade

Nesta busca por respeito e aceitação, algumas mulheres mudam até a forma como se vestem e se apresentam. Não é raro encontrar profissionais que acabam deixando a vaidade e a feminilidade de lado, descuidando da própria aparência. Para a psicóloga Mariana Patitucci Bacellar, “é importante seguir as regras de conduta corporativas, não usando saias curtas ou decotes, mas a mulher, mesmo que em posição executiva, não precisa negar sua essência e nem abrir mão do batom ou do salto alto”. “Mulheres em altos cargos acabam mudando o estilo muitas vezes para criar empatia e fazer vínculos com os homens, seus pares no trabalho. É para se integrar ao grupo mesmo”, completa.

Sobre a preferência na hora da contratação, a psicóloga diz que que as empresas não costumam fazer distinção pelo sexo do empregado, mas pelas competências do candidato e pelo perfil da ,vaga disponível. “Se for um serviço pesado ou para trabalhar à noite, um homem pode ter mais chances de ser escolhido. Caso contrário, qualquer um dos dois pode ser contratado”. Sob o ponto de vista emocional, a especialista diz que é possível ter emoções no trabalho. “Mas o que não pode acontecer é deixar de ter atitudes ou decisões importantes por conta dos sentimentos pessoais”.

Mas dedicar-se exclusivamente à carreira, mudando até mesmo seus hábitos pessoais, pode não ser tão satisfatório quanto parece. “A exigência da sociedade e a opção em se dedicar exclusivamente a carreira faz com que as mulheres acabem abrindo mão de outras coisas, já que não dá para ter tudo ou fazer tudo ao mesmo tempo. Ter status e sucesso na carreira pode ser muito bom, mas elas precisam estra atentas que não podemos dedicar 100% da nossa energia para só um aspecto da vida. Senão, ao deixar o trabalho ou se aposentar elas podem ficar sem chão”, conclui a psicóloga.