Nos últimos meses, o TDelas analisou a participação das mulheres na política, mostrando que as mulheres representam a maioria do eleitorado brasileiro e que, em 2014, em comparação com as eleições de 2010, tivemos um aumento no número de mulheres candidatas aos cargos de presidente, governador, deputado federal e estadual. Agora, passados o primeiro e o segundo turnos das eleições deste ano, é possível avaliar se as mulheres conseguiram maior representatividade nos poderes executivo e legislativo e se o número de eleitas aumentou neste pleito.
No Paraná, em 2010, para o governo do estado, havia apenas uma vice-candidata, que não foi eleita. Já para o Senado, eram duas vagas e uma delas foi preenchida pela candidata eleita Gleisi Hoffmann (PT), que obteve 3.196.468 de votos. Também naquele ano, para o cargo de deputado federal, das 30 vagas disputadas, duas foram ocupadas por mulheres: Cida Borghetti (em 2010 no PP, hoje no PROS), eleita com 147.910 votos, e Rosane Ferreira (PV), que obteve 47.674 votos.
Na Assembleia Legislativa ainda naquele ano, das 54 vagas, quatro foram preenchidas por candidatas do sexo feminino. Em 2010, foram eleitas deputadas estaduais Cantora Mara Lima (PSDB), com 56.516 votos, Luciana Rafagnin (PT), com 54.277, Rose Litro (PSDB), com 45.331, e Marla Tureck (eleita pelo PSC, hoje PSD), com 29.442 votos. Contando com a senadora, deputadas federais e estaduais, em 2010, pelo Paraná, foram eleitas apenas sete mulheres.
Neste ano, no primeiro turno das eleições, foram eleitas somente seis mulheres: Cida Borghetti (PROS), como vice-governadora (na chapa do reeleito Beto Richa), Christiane Yared (PTN), com 200.144 votos, e Leandre Dal Ponte (PV), com 81.181, como deputadas federais, e Maria Victoria (PP), com 44.870 votos, Cantora Mara Lima (PSDB), 43.549, e Cláudia Pereira (PSC), com 29.379, eleitas como deputadas estaduais.
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| Leandre Dal Ponte (PV). |
Com estes resultados, houve uma redução de uma cadeira no número de candidatas eleitas na Assembleia Estadual e a manutenção no número de deputadas federais representando o Paraná na Câmara dos Deputados. Derrotada na disputada ao governo do estado, Gleisi Hoffmann retorna ao Senado para cumprir o restante de seu mandato, que se encerra em janeiro de 2019.
Avanços a passos lentos
Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Costa de Oliveira, a participação feminina no legislativo no Brasil é muito baixa, com uma média de mulheres eleitas próxima aos 10%. Fato que, segundo ele, seria um reflexo da pouca representatividade que elas também têm em outras áreas importantes da sociedade, como o judiciário, setores científicos ou altos postos empresariais. “Ao longo dos últimos 20 anos, com as cotas, vimos um pequeno aumento no número de mulheres eleitas, porém, não podemos afirmar que existe uma tendência de crescimento. O Brasil poderia ter de 20% a 30% de seu legislativo composto por mulheres, mas isto depende de um longo processo educacional, político e cultural”.
Elas por elas
Eleita como deputada federal pela primeira vez, Leandre Dal Ponte diz que pretende trabalhar para melhorar a saúde da população. Para ela, assumir uma cadeira na Câmara será uma chance de representar os interesses femininos. “Com uma ampla maioria de homens, fica difícil não ter um ambiente masculino nas casas legislativas. Prefiro não acreditar que, em pleno ano de 2014, as mulheres possam sofrer preconceito, mas acredito que possamos ter um pouco de dificuldade, sobretudo para tratar de assuntos que envolvem o universo feminino, como o aborto, a desigualdade salarial, dupla jornada de trabalho, entre outros temas de relevância para as mulheres”.
Já a veterana Cantora Mara Lima, reeleita como deputada estadual, acredita ter recebido um voto de confiança dos eleitores. Uma das poucas mulheres na Assembleia, ela afirma que nunca sofreu preconceit,o nos ambientes políticos. E, para que a política deixasse de ser predominantemente masculina, Mara acredita que as mulheres deveriam se interessar mais sobre o assunto. “As mulheres estão mais participativas e mais politizadas, mas o número de engajadas na política ainda é muito pequeno. É preciso que os partidos incentivem, dando a elas mais espaço e voz e não apenas se preocupando em preencher cotas na época das eleições. Também é necessário promover campanhas e debates para que elas entendam a importância e o seu papel na política”.