O crescimento é a principal marca da infância e adolescência. “Ele traduz, além da carga genética dos pais, o grau de nutrição, a normalidade dos hormônios, a ocorrência de doenças crônicas e até o suporte afetivo que as crianças recebem”, diz a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional de São Paulo.
O crescimento ocorre a partir de sítios de cartilagem nas extremidades dos ossos longos. Essas placas vão formando novas células ósseas, que alongam progressivamente os membros.
Estas placas são analisadas através de um exame radiológico que verifica o tamanho da mão e punho esquerdos. “Esse exame é chamado ‘idade óssea’, através dele, podemos determinar o potencial de crescimento da criança, ou seja, se ela ainda pode crescer ou, pelo contrário, se ela já está em sua altura final. Geralmente, a altura se define quando a idade óssea alcança os 14 anos nas meninas e 16 anos nos meninos. Alcançado esse estágio, nenhuma medida adicional pode ajudá-los a crescer mais “, explica a médica.
Mas o que seria uma crescimento normal?
Muitas vezes, a expectativa dos pais é maior do que as possibilidades reais de seus filhos crescerem. Daí a pergunta mais difícil de responder: Qual será a altura final do meu filho?
“Na prática, utilizamos várias fórmulas e tabelas para tentarmos dar aos pais alguma estimativa da altura final de seus filhos. Mas sempre os alertamos sobre as inúmeras possibilidades de erros das mesmas, em virtude dos múltiplos fatores que influenciam o crescimento”, diz a médica. Se pudéssemos contar apenas com a interferência genética, acertaríamos mais utilizando a seguinte fórmula:
Menino = (altura do pai + altura da mãe + 13) dividido por 2 (± 10cm)
Menina = (altura do pai + altura da mãe – 13) dividido por 2 (± 10cm)
“Diante de questionamentos sobre a altura final, temos que orientar os pais de que toda previsão de altura final é falha. O que temos que fazer é garantir condições apropriadas de crescimento para a criança, oferecendo-lhe carinho e nutrientes em doses certas. Em alguns casos, devemos oferecer também hormônios que aceleram ou permitem o crescimento, sempre com supervisão médica”, destaca Ellen Paiva.
Causas que impedem o crescimento
1)Baixa estatura idiopática
“Quando uma criança é baixa e não encontramos causas específicas para explicar tal alteração, classificamos esta condição como baixa estatura idiopática, que representa entre 60-80% dos casos de baixa estatura que encontramos na prática clínica”, diz a médica.
Essas crianças geralmente têm altura normal ao nascer, algumas vezes, tem pais também muito baixos e, outras vezes, apresentam atraso no desenvolvimento da puberdade. “Na maioria dos casos, o prognóstico é bom, principalmente quando a idade óssea está atrasada em relação à idade cronológica, indicando que essa criança terá mais tempo para alcançar uma altura próxima do normal na vida adulta, ou seja maior que 1,63cm nos homens e maior que 1,50cm nas mulheres”, explica Ellen Paiva.
2)Deficiência do hormônio de crescimento (DGH)
Trata-se de causa rara de baixa estatura, ocorrendo em uma de cada 4mil até 10 mil crianças. “As crianças que apresentam deficiência do hormônio de crescimento são muito baixas em relação à altura de seus pais e apresentam uma idade óssea muito atrasada em relação à sua idade cronológica. Têm uma aparência infantil, mesmo quando alcançam idade adulta”, descreve a médica.
A DGH ocorre devido a lesões cerebrais que comprometem a glândula pituitária, onde estão as células especializadas em produzir o hormônio de crescimento. “As causas das lesões podem ser tumores, radioterapia, traumatismos cranianos, infecções do sistema nervoso e defeitos genéticos. O tratamento deve ser feito através da reposição do hormônio em falta, com aplicações subcutâneas diárias”, diz Ellen Paiva.
No Brasil, alguns serviços públicos credenciados fornecem o hormônio gratuitamente aos pacientes com diagnóstico bem definido de DGH e que sejam acompanhados regularmente por eles.
O que há de novo?
Até cerca de 10 anos atrás, pensávamos que os casos de baixa estatura idiopática não respondiam ao tratamento com hormônio de crescimento, ou seja, entre 60-80% das crianças com baixa estatura que procuravam tratamento para melhorar suas expectativas de altura final, eram acompanhadas com tratamentos paliativos, uma vez que não havia nelas nenhuma alteração detectável nos exames, além da baixa estatura. “Com o avanço na compreensão dos efeitos do hormônio de crescimento, descobrimos que essas crianças respondem, sim, ao tratamento com o emprego do hormônio de crescimento. Mas para elas, as doses utilizadas devem ser maiores do que aquelas usadas nas crianças com DGH”, explica a endocrinologista.
Mais recentemente, outro passo importante foi dado no tratamento das crianças com baixa estatura. “Novos estudos científicos foram conduzidos e já conhecemos maneiras de evitar ou retardar o fechamento das placas de crescimento nas crianças com baixa estatura. Os estudos vem mostrando que dessa forma a criança tem mais tempo para crescer, tanto de maneira natural, como através de estímulo hormonal”, afirma a diretora do Citen.
“O grande entrave deste tratamento é o preço muito elevado dos medicamentos. As doses diárias do hormônio de crescimento não ficam por menos de R$ 35 mil anuais para uma criança com 30kg e essas crianças devem ser tratadas durante vários anos. No caso das crianças com DGH, as possibilidades de receberem as doses gratuitamente são certas, diferente das crianças com baixa estatura idiopática, uma vez que o Estado não fornece a essas últimas a opção gratuita de tratamento”, observa a médica. Em outros países, já existem legislações que beneficiam as crianças com graus maiores de baixa estatura, independente de terem ou não a deficiência hormonal.
“Assim, é muito importante que toda criança, ao longo do seu processo de crescimento, compareça às consultas regulares ao pediatra, para acompanhamento do crescimento, permitindo, assim, a identificação e o tratamento precoces de qualquer tipo de anormalidade em seu crescimento”, recomenda a endocrinologista Ellen Paiva.