Muito além da questão estética

Mulheres sentem mais impacto psicológico com a Psoríase

As feridas causadas pela psoríase não coçam, mas, mesmo assim, incomodam muito quem desenvolve a doença. A principal preocupação costuma ser a questão estética, pois as manchas e lesões, quase sempre avermelhadas, podem, muitas vezes, assustar quem não sabe do que se trata, passando a impressão de que estão relacionadas a alguma doença contagiosa, que possa ser transmitida pelo simples contato com o paciente. No entanto, a principal preocupação de quem têm a psoríase não deve ser esta, mas sim a possibilidade de complicações e desenvolvimento de doenças associadas.

Estima-se que a psoríase atinja cerca de 2% da população, sendo recorrente tanto homens quanto mulheres, na mesma proporção, não havendo distinção entre os sexos, diferente de outras doenças autoimunes, que costumam acometer as mulheres com mais frequência. Entretanto, pode-se dizer que ainda são elas as pacientes que mais se preocupam e buscam tratamento, motivadas quase sempre pela questão estética mesmo. “O que acontece é que a mulher sente mais este impacto psicológico”, comenta o médico Anber Tanaka, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Paraná (SBD-PR).

Mas, apesar de ser diferente quando se fala em prevalência nos sexos masculino e feminino, a psoríase tem pelo menos um ponto em comum com as demais doenças autoimunes, como lúpus, esclerose múltipla e doença celíaca, que já mostramos aqui no TDelas em outras oportunidades. “Não se sabe com certeza a causa da psoríase, mas uma coisa é certa: existe uma relação entre o desenvolvimento da doença e questões genéticas”, afirma Tanaka. “Cerca de 30% dos pacientes apresentem familiares com a doença, demonstrando, assim, que há mesmo certa influência genética nos quadros”, completa o médico Guilherme Gadens, também membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Paraná (SBD-PR). Também suspeita-se de interferência ambiental devido a mudança de clima, estresse e uso de alguns medicamentos.

As lesões causadas por esta doença inflamatória de pele crônica ainda podem aparecer em qualquer idade, mas “existem alguns picos, como na segunda e na quinta década de vida”, como explica Tanaka, tendo normalmente as características de descamar e não coçar. As áreas mais atingidas do corpo são joelhos, cotovelos e couro cabeludo, “regiões em que há mais contato e, portanto, podem machucar mais, sendo que o trauma é um desencadeador de lesões, podendo piorá-las ou até fazer surgir novas feridas”, como comenta o dermatologista.

No entanto, todo o corpo pode ser acometido, dependendo do tipo e da gravidade da doença. “Assim como outras doenças de pele, pode ter alterações nas unhas, e em alguns casos, pode até comprometer as articulações, promovendo inchaço, dores e deformidades nessas regiões”, revela a médica Flávia Prezebello, também membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Paraná (SBD-PR). O diagnóstico é feito em avaliação clínica, podendo haver necessidade de exames complementares. “Geralmente, não há outros sintomas, apenas as lesões”, conta Gadens. Quando atinge palmas das mãos e dos pés, por trazer mais incômodo, os pacientes procuram tratamento mais rapidamente.

Isso deve acontecer, entretanto, independente de qual seja a região acometida e a gravidade das lesões, pois a psoríase pode levar a complicações e doenças associadas. “Ela não evolui para outra doença, como o câncer, mas os pacientes com quadros graves têm maior chance de desenvolver outros problemas relacionados, como diabetes, alterações no nível do colesterol, e podem ter complicações cardiovasculares no futuro. Isso acontece porque o, processo inflamatório pode atingir vasos na microcirculação e levar a um processo de inflamação desses sistema também”, conclui o dermatologista.

Não há motivos pra ter preconceito

Outra característica em comum com as demais doenças autoimunes é que a psoríase não é contagiosa, não sendo transmitida pelo contato com o paciente, seja ele direto ou indireto. Mesmo assim, muita gente ainda tem preconceito em relação à doença. “Ainda existe esse estigma em relação aos pacientes devido à aparência das lesões. Quando eles pegam ônibus, por exemplo, as pessoas ficam olhando e têm medo de que a doença seja contagiosa. Mas, hoje em dia, com os avanços da Medicina, se a psoríase for tratada adequadamente, na maioria dos casos, conseguimos limpar 100% das manchas e feridas”, garante Gadens.

Não existe cura para a doença, mas o tratamento permite um controle com um resultado bastante satisfatório. Esse tratamento pode ser feito com medicamentos tópicos (cremes, por exemplo), sistêmicos (via oral ou injetáveis), fototerapia (aplicação de radiação ultravioleta com acompanhamento médico que reduz o processo inflamatório), entre outros. “Cabe ao médico definir o melhor tratamento para cada paciente, de maneira individualizada, diferenciando ainda a psoríase de outras doenças de pele, como micoses, alergias, etc”, reforça o dermatologista.

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