Saber reconhecer os diferentes estilos de cerveja e identificar os ingredientes de cada um deles não é uma habilidade exclusiva dos homens. Muito pelo contrário! As mulheres buscam cada vez mais se especializar na arte cervejeira, situação que pode ser facilmente comprovada pela presença delas em cursos sobre o assunto e pelo movimento nas lojas dedicadas a esta bebida.

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A situação já não é mais novidade e, sabendo do interesse feminino pela cerveja, algumas marcas criaram rótulos especialmente para elas. A cervejaria artesanal Bamberg, por exemplo, elaborou duas opções com foco no paladar das mulheres, que foram lançadas em março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Também são constantemente ministrados cursos sobre a cerveja destinados ao público feminino.

“Estamos quebrando um tabu. Cerveja não é bebida de homem. Ela é ótima, versátil, tem vários estilos diferentes e isso é o que agrada. É legal que estão surgindo novos estilos, o que traz ainda mais sabores”, afirma a sommelier Ligia Teixeira, 31 anos, que ministra um curso para cervejeiras e cervejeiros na A Grande Escola, em Curitiba.

Ela conta que o público feminino busca conhecer intimamente uma das primeiras bebidas já criadas e ainda aponta uma vantagem delas na hora da degustação: “A mulher tem o paladar um pouco mais sensível. É uma experiência até mais completa”, avalia.

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E não existe um padrão de preferência. Tanto os rótulos mais fortes quanto os mais leves fazem sucesso. O estranhamento com as cervejas artesanais acontece apenas no começo. Rapidamente o paladar é educado para apreciar os sabores. “São várias nuances de sabor dentro da cerveja, elas são complexas, mas vamos educando o paladar”, afirma Ligia.

Consumidoras

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Nas lojas, o movimento feminino também é grande. O empresário Emerson Alano Júnior, proprietário de duas franquias da rede Mr. Beer em Curitiba, conta que as mulheres formam o grande público que compra as bebidas. “Elas começam com a opção de presente, o que acaba despertando a curiosidade e o interesse sobre o assunto. Então buscam informações e acabam levando para a degustação também”, conta.

Ele diz que tem certeza da expansão do mercado e afirma que a procura está mais expressiva desde o último Natal. Outra característica feminina é a compra de cervejas para harmonizar com a culinária. “Ao invés do vinho tradicional, elas estão inovando e procurando a cerveja”, diz.

Com cerveja e sem preconceito

Até pouco tempo atrás, a designer de joias Julia de Mello Possiede, 21 anos, achava que cerveja era bebida para homem. Era assim quando criança e via apenas os homens da família tomando as cervejas tradicionais. Depois que cresceu, Julia não se interessava pela bebida, já que não apreciava o gosto.

Mas tudo mudou quando seu pai comprou um rótulo diferente para experimentar. “Não imaginei que poderia ser tão bom. Foi uma surpresa, são diversos sabores. A cerveja é tão complexa quanto o vinho”, conta. Desde então ela se tornou uma consumidora assídua e também participou do curso. “Comecei a comprar bem mais. E acabei comprando consciente, não só porque o rótulo é bonitinho. Depois do curso você consegue entender como vai ser o gosto”, observa Julia, que diz que a conversa entre os amigos ganhou um novo assunto e agora os sabores dos rótulos também são discutidos.

Para Amandha Macedo, 20 anos, o interesse por cervejas especiais rendeu um emprego. Desde que começou a experimentar bebidas alcoólicas, ela se ide,ntificou pelo produto. Depois de degustar bastante e pesquisar sobre o assunto, Amandha conseguiu um emprego na rede Templo das Cervejas, onde está há seis meses. “Fui pesquisando e experimentando bastante. Gosto muito”, conta. Para Amandha, o grande diferencial da cerveja são as variações. “Existem infinitas possibilidades, sabores e aromas. Cada vez que tomo é uma experiência única”, garante.

As rainhas da cevada

Allan Costa Pinto

Não é de hoje que cerveja é coisa de mulher, situação que passou por inúmeras culturas desde a antiguidade. Existem registros da era antes de Cristo, em que as mulheres cervejeiras eram valorizadas. Utensílios para fazer a bebida faziam parte do enxoval das noivas. “Era a mulher que fazia a cerveja, ela que era responsável pela feitura. A bebida era tomada no café da manhã, almoço e jantar”, destaca Ligia Teixeira. A relação mulher e cerveja esteve presente na Babilônia, na Alemanha, na Inglaterra, entre os vikings e também os incas.