Mulheres lucram colocando habilidades em prática

Diz o ditado que o trabalho dignifica o homem – e, aqui, acrescentamos mulher também. Para fazer valer essa máxima, tem muita gente que continua trabalhando mesmo depois de uma certa idade, quando a aposentadoria já poderia garantir uma vida mais tranquila e sem muitos esforços. Além de ganhar um dinheirinho extra, isso garante que a pessoa tenha alguma atividade para preencher seu tempo. Neste sentido, muitas mulheres de mais idade estão descobrindo que podem utilizar habilidades manuais que já têm como forma de empreendedorismo.

Este é o caso da servidora pública aposentada Elvira Pineda Lopes, 65 anos. Mesmo antes de sair do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), onde trabalhava, por tempo de serviço, ela já fazia bijuterias em casa e vendia para amigas e conhecidas. No entanto, há três anos, quando se aposentou, passou a se dedicar muito mais a essa atividade e conseguiu fazer com que ela virasse uma renda extra. “Bem nessa época, fiz um curso no Empório Metropolitano para avaliar meus produtos e passei a expô-los para venda em uma das lojas”, conta.

O Empório Metropolitano é uma rede de lojas de artesanato da Prefeitura Municipal de Curitiba, nas quais são vendidos produtos feitos manualmente por artesãos da cidade. O projeto também oferta cursos de empreendedorismo para incentivar o trabalho de pequenos produtores. No entanto, segundo Elvira, é necessário pagar uma mensalidade de R$ 190 para que seus produtos sejam expostos nas lojas da rede, valor que é recuperado com a venda. Mesmo assim, esta se tornou a melhor opção para ela, que não gosta muito de sair de casa. “Vender de porta em porta não é o meu perfil. Gosto de ficar produzindo em casa”, afirma.

Para ela, mais do que dinheiro, o que a atrai neste tipo de empreendedorismo é a possibilidade de ter alguma coisa para se ocupar. “Faço isso porque gosto e porque preciso de uma ocupação para não ficar parada. Além disso, a vantagem é que faço tudo em casa e posso me dedicar o dia inteiro se precisar, se tiver uma encomenda maior”, comenta. Os únicos momentos em que precisa sair de casa é quando leva os produtos para as lojas e quando viaja para comprar material para produzi-los – ela garante que a matéria-prima que utiliza é muito cara aqui em Curitiba e, por isso, viaja para São Paulo quando precisa. “A última vez foi ano passado. Aproveitei e comprei bastante para fazer um estoque”, revela.

Diferente de Elvira, para Miriam da Silva Ehlke, 55, trabalhar fazendo artesanato para vender é uma questão de necessidade, de sobrevivência. Mas nem por isso ela pensa em parar. “Além de ser meu sustento, a pintura é uma coisa da qual gosto muito. Sempre digo que, mesmo quando não precisar mais, quando puder me aposentar, vou continuar. Enquanto tiver forças, olhos e mãos, não vou parar de pintar”, garante. Desde 1980, ela vende seus produtos na feira de domingo do Largo da Ordem. Para dar conta da produção, chega a trabalhar até 13 horas por dia – no inverno, um pouco menos porque depende da luz do dia para pintar, mas nunca fez menos de oito horas de expediente.

A idade não é desculpa para falta de ânimo, mas o que facilita muito é que, assim como Elvira, a maior parte do trabalho é feito em casa, o que permite que ela o concilie com outras atividades, como cuidar dos netos. “Procuro não deixar que uma coisa interfira na outra, mas, sem dúvida, é uma facilidade”, afirma. Aliás, se hoje ela pode cuidar dos netos, isso é resultado de sua dedicação ao trabalho de artesã quando suas filhas ainda eram pequenas. Foi por causa delas que o dom da pintura passou a ser sua fonte de sustento.

“Quando elas eram pequenas, passei muita dificuldade. Minha mãe estava doente e meu marido me largou. Então, de repente, tive que sair da casa de massas onde trabalhava e procurar outra atividade que me permitisse cuidar delas também. O que eu queria mesmo era vender telas, mas isso não dá dinheiro. Então, passei a fazer pintura de porcela,na com paisagens do Paraná, que vende bem para turista”, explica. Ela conta que sonha em levar seu forno semi-industrial para Matinhos, trabalhar e morar lá, mas diz que ainda não é hora de sossegar desta forma, este é um plano para o futuro.

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