Quem nunca ficou com peso na consciência depois de passar da conta em um almoço ou jantar, pensando nos quilinhos a mais que poderia ter ganho com esse exagero gastronômico? Qualquer mulher com certeza já passou por esse rompante de arrependimento, mas em alguns casos, essa preocupação com a balança não deve ser apenas coisa de momento. O ganho de peso excessivo é assunto sério, pois sai do âmbito da estética e passa a ser uma questão de saúde quando se torna o início do caminho para um grave distúrbio alimentar, lembrado na semana passada com o Dia Nacional de Combate à Obesidade, celebrado no último dia 11.
Como já mostramos aqui na Tribuna recentemente, 51,6% da população curitibana está acima do peso. E, apesar de as mulheres ainda serem minoria em relação aos homens neste quesito (48,1% contra 55,5%), é o sexo feminino quem mais deve se preocupar com essa questão, segundo especialistas. Isso porque as mulheres são mais vulneráveis a alguns dos principais fatores que levam ao sobrepeso e à obesidade. “A mulher tem uma predisposição um pouco maior do que o homem por vários motivos. Um deles é a proporção entre a massa magra (músculos e ossos) e a massa gordurosa, que é um pouco diferente. No sexo feminino, a segunda é um pouco maior”, explica a endocrinologista do Laboratório Frischmann Aisengart, Myrna Campagnoli.
Outros fatores de risco característicos das mulheres, segundo a médica, são a presença do estrogênio no organismo (o hormônio predispõe a lipogênese, que é a formação de tecido gorduroso, importante para sustentar as necessidades nutricionais do feto durante uma gestação); o fato de o gasto calórico ser menor do que nos homens (as mulheres precisam de mais atividade física para gastar a mesma quantidade de calorias que os homens); a sensibilidade emocional mais aflorada (ansiedade e oscilações hormonais frequentes), que leva a uma maior tendência à alimentação gordurosa.
Apesar de todos esses elementos, Myrna alerta para o fato de que a predisposição só se torna de fato um risco quando associada a uma alimentação inadequada e não realização de exercícios físicos com regularidade. “Efetivamente, o que faz com que a mulher engorde são os hábitos de vida. É por isso que, apesar de todas estarem dispostas aos mesmos fatores de risco, nem todas engordam”, conclui a médica. Para identificar a obesidade, são utilizados dois critérios, o já famoso Índice de Massa Corpórea (IMC) e a relação cintura/quadril (veja mais informações no quadro ao lado).
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Perséfone (Fabiana Karla) é uma gordinha que sofre preconceito por estar acima do peso. |
Os perigos trazidos pela obesidade já são bastante conhecidos. Diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alterações nos níveis de colesterol são apenas alguns deles. Mas Myrna destaca ainda um outro. “Vejo por aí um monte de ‘gordinhos saudáveis’, mas isso é impossível porque a obesidade é uma doença e essa imagem dá uma falsa impressão de que está tudo bem. Mesmo que não tenha distúrbios orgânicos, como colesterol ou pressão alta, essa pessoa vai ter outros problemas, como a discriminação”, comenta. Este assunto tem sido bastante tratado recentemente na televisão, com a novela Amor à Vida.
Tratamento
Para Myrna, a preocupação em relação ao aumento de peso deve começar quando a mulher estiver ganhando mais de um quilo por ano. “Este é o primeiro ale,rta de que alguma coisa está errada”, revela. Ela ainda orienta que não se deve ignorar o sobrepeso e começar os cuidados somente quando já tiver atingido a obesidade propriamente dita. “O sobrepeso é um quadro intermediário. Os riscos de doenças associadas ainda não são tão graves, mas a pessoa já está no caminho para a obesidade”, afirma.
O tratamento deve começar por uma alteração drástica dos hábitos de vida. “O primeiro passo é trabalhar com dieta e exercícios físicos, pois a utilização de medicamentos está um pouco restrita atualmente. Quando não se percebe resultados nesse tratamento durante dois anos, tem a opção da cirurgia bariátrica. Mas o procedimento é recomendado somente quando a pessoa tem IMC entre 35 e 40, se houver alguma doença associada, ou acima de 40, independente disso”, explica o médico especialista em cirurgia do aparelho digestivo do Hospital Vita, Glauco Afonso Morgenstern. Para ele, até mesmo pacientes com obesidade mórbida podem emagrecer sem necessidade de intervenção cirúrgica, apesar de a dificuldade ser maior.