Mulheres falam sobre a preparação para ser mãe

Um dos momentos mais decisivos da vida da mulher é, sem dúvida, quando ela decide ser mãe. Afinal, a vida profissional e a afetiva não serão mais as mesmas depois de engravidar. Se em décadas passadas, as mulheres se casavam e tinham uma penca de filhos, hoje, com a rotina cada vez mais atribulada, muitas planejam a gravidez e preferem esperar para ter seu bebê após terminar os estudos, conquistar estabilidade no emprego ou mesmo encontrar o parceiro ideal, o que às vezes demora a acontecer.

Independente de quando a mulher engravide, ela precisa estar preparada para todas as mudanças que vão correr em sua vida com a chegada do bebê. Mas afinal, qual o melhor momento para ser mãe? Quando a mulher é jovem e saudável, porém sem muita vivência? Ou depois dos 30, dos 40, quando está mais experiente, tem mais responsabilidade, sabe o que quer da vida, porém há mais chances de ter problemas durante a gestação?

Biologicamente, a mulher pode ter filhos a partir do momento em que menstrua pela primeira vez, mas o ideal é engravidar entre os 20 e 35, segundo o ginecologista e obstetra Marcos Takimura. Após essa idade, a gravidez é considerada de risco tanto para a mãe quanto para o bebê, que pode nascer com problemas, pois os ovários começam a envelhecer e produzem menos óvulos. A menopausa também está mais próxima e há mais propensão de desenvolver doenças como hipertensão e diabetes.

Além disso, quanto mais tarde a mulher tem o primeiro filho, mais difícil será para ter o segundo, justamente por causa da idade. Por isso, planejamento é essencial. No entanto, existe essa contradição: planejamento e idade às vezes não caminham juntos, já que a oportunidade de ser mãe acontece próximo ou depois dos 40. “A mulher não pode esperar muito tempo. Quem planeja demais pode ter dificuldade. E quando entra na menopausa, somente por meios artificiais”, explica.

Takimura conta que o risco de ter um bebê prematuro é maior na adolescência, quando também ocorre o maior número de gestações indesejadas, como aconteceu com a auxiliar de produção Sabrina Alves da Silva, 22 anos, que teve o primeiro filho aos 16 anos, uma menina. “Veio no susto”, diz. Mesmo depois de passar por uma gravidez indesejada, Sabrina teve o segundo, aos 17 anos. Em seu segundo casamento, Sabrina está na 37ª semana de gestação do terceiro filho. Ela conta que tomava pílula, “mas tudo errado”. “Eu esquecia de tomar”, lamenta.

Já a história da gerente administrativa Terlize Amaral (foto), 35, é diferente. Antes de pensar em engravidar, aproveitou bastante a vida com o marido. “Estou com ele há 10 anos e me casei há seis anos. Antes, eu viajei muito. Todas as minhas amigas e conhecidas, aliás, optaram por ter filho mais tarde”, contou.  A gestação de Terlize foi bem tranquila. Não sentiu enjoos, nem cansaço. E ao contrário da maioria das mulheres, ela emagreceu. Isso porque desenvolveu diabetes e tinha que tomar insulina.

Enjoo, cansaço, apetite exagerado, vontade de fazer xixi toda hora são sintomas bastante comuns durante a gestação. Mas, de acordo com o médico Wagner Aparecido Barbosa Dias, cada mulher responde de um jeito. Há quem sofreu com a primeira gravidez e, na gestação do segundo, não apresentou nenhum sintoma, como a cozinheira Roberta Souza, 26 anos. “Se na primeira gravidez eu senti tudo de ruim, nessa segunda não senti nada”, conta.

Arquivo Pessoal

Optando pela gravidez tardia

Somente aos 38 anos é que Ronise Vilela (foto) decidiu engravidar. “Desde os 30 anos, meu médico já ‘brincava’ na consultas, perguntando quando eu pretend,ia ter filhos. De modo leve, deixava claro que o tempo para mulher fazia uma cobrança mais severa, quando o assunto é maternidade. Como não sabia sequer se queria ter filhos, deixei o assunto pendente”, conta Ronise.

Por volta dos 36, é que a questão pesou para ela. “Eu sentia a necessidade de mudança em diversos aspectos da vida, mas tinha um pouco de preguiça e falta de coragem, enfim, uma acomodação. A maternidade deu o start para coisas que queria fazer e viver. Acho que fiquei mais feminina depois de ganhar Alice e me redescobri como mulher”, reflete.

Arquivo Pessoal

Ronise aceitou assumir os riscos de uma gravidez tardia em troca da maturidade, segurança e do poder de decisão que a vivência lhe permitiu. Esse foi o maior ponto positivo. Os pontos negativos de uma gravidez perto dos 40 é a energia que demanda. “Minha pilha é comum e a da filha sempre é alcalina. Contudo, sempre inventamos uma agenda de festas, passeios e brincadeiras”, afirma. Sua gravidez foi tranquila e trouxe benefícios para a saúde, como parar de fumar.

Mas nem toda mulher tem a sorte de Ronise. Os riscos de uma gravidez tardia aumentam, uma vez que a mulher começa a desenvolver problemas que surgem com a idade, como obesidade, hipertensão e hipotireoidismo. “O processo de envelhecimento traz doenças crônicas e podem ser um problema para quem quer engravidar”, alerta Dias. Por isso a importância do pré-natal, quando serão identificados fatores de risco e doenças.

Mudanças fisiológicas

No primeiro trimestre, vem o aumento de peso, os enjoos e vômitos. No segundo, o cansaço, o sono. No terceiro, o peso estimula o surgimento de varizes. Os sintomas surgem de duas grandes alterações no organismo: hormonal e circulatória. Na primeira fase da gravidez, há grande quantidade de estrogênio e progesterona sendo produzidos e isso traz uma série de consequências, como fome e relaxamento muscular, que deixa o intestino lento e provoca prisão de ventre e inchaço, segundo Takimura. A mulher também costuma engordar no começo da gestação porque ela precisa ter reserva de gordura para ter energia até o final.

Aliocha Mauricio

O volume de sangue que circula na mulher aumenta. O útero promove a vascularização, o desenvolvimento da placenta e a troca de nutrientes. O sangue fica mais diluído porque a gestante retém líquido que se mistura ao sangue. “Como o sangue é mais diluído, a mulher pode ter anemia”. Outro sintoma é o sono, que acontece por causa da diferença de pressão. “A dilatação dos vasos para o sangue chegar ao útero causa uma queda de pressão. Por isso a mulher vai ter mais sono”.

Já os vômitos acontecem por causa da ação do hormônio HCG (aquele usado no teste de gravidez). E a combinação desses dessas alterações hormonais e circulatórias mexe com o aparelho digestivo e respiratório. “A mulher tem mais dificuldade de respirar por causa da progesterona. Na segunda metade da gravidez, há um aumento do útero e o órgão comprime o diafragma para baixo tornando mais difícil a respiração”, explica. Para aliviar esses sintomas é sempre bom seguir alguns passos como se alimentar bem, descansar bastante, tomar bastante água e praticar atividades físicas.

Maternidade e o psicológico

As mudanças hormonais que provocam alterações físicas na mulher também refletem em alterações psíquicas e cerebrais. Sabe aquele desejo de comer melancia e a piada pronta que vem em seguida, de que o bebê vai nascer com a cara da fruta? Então, esses desejos são reais e não mero capricho ou esquisitice. “Eles podem estar relacionados com alguma falta de nutriente que ela precisa. Ou simplesmente porque a mulher sente o cheiro da comida e está com f,ome”, diz a psicóloga Talia Gevaerd de Souza.

Ela explica que, durante a gravidez, a parte do cérebro racional que responde pela inteligência, fala e raciocínio está em “ponto morto”. Isso pode ser percebido na distração e na dificuldade de a grávida acompanhar raciocínios. “Ela fica meio devagar. Muitas se questionam que estão ficando ‘burras’. É como se mil luzes estivessem acesas e, quando a mulher engravida, elas vão se apagando pouco a pouco”. Esse “apagão” do cérebro, entretanto, é importante principalmente para o parto porque a mulher precisa ser instintiva para cuidar do recém-nascido. “Senão, ela não vai entender o bebê”.

Em contrapartida, a parte de trás do cérebro, de onde vem a ocitocina – o chamado “hormônio do amor” –  é ativada, estreitando o vínculo afetivo da mãe e filho. “Quando se sente muito amor se libera mais ocitocina. Pois, nessa fase ela precisa de mais carinho, mais atenção, mais paciência”, afirma. A liberação de hormônios também faz com que a mulher fique mais sensível. “Nessa fase, a mulher precisa de mais carinho, mais atenção, por isso é fácil ela ficar mais chorona, irritada”, explica.

Gravidez x carreira

Tripla jornada é o que a mulher vai enfrentar quando for mãe. Organizar a própria vida, cuidar do bebê e do companheiro, são várias demandas as quais ela vai ter que se adaptar, pois o cenário da vida moderna é estressante e exige muito. “É um desafio muito grande. São três vidas a serem administradas”, define a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Patrícia Guillon.

Para ela, existe uma cultura de valorizar a mulher durante a gravidez, mas depois que ela retorna ao trabalho, o cenário é outro, bem mais complexo. Ela acredita que o impacto maior acontece no fim da licença maternidade, quando a mulher tem que encarar a realidade de cuidar do bebê e do trabalho ao mesmo tempo. “Eu mesma tive dificuldade em organizar meus compromissos quando tive meu filho. Às vezes, você fica em situações difíceis, como quando o filho adoece. Se você disser para o seu chefe que não vai trabalhar, você é demitida. É uma balança constante, que oscila o tempo inteiro”, diz.

Apesar de a mulher ter conquistado muitos direitos, a sociedade ainda vê com ressalvas a contratação de mulheres e precisa avançar bastante em relação ao dilema da maternidade, principalmente nas empresas privadas. “O ideal era que o chefe fosse flexível, mas com certeza isso afeta a produtividade dela na empresa. Isso explica porque grandes multinacionais ainda optam por homens. Ou então, por mulheres que já têm família constituída ou não querem ter filhos”, explica.  

O desafio da adaptação da vida pós-gravidez pode gerar problemas de saúde para quem não consegue dar conta de tantas tarefas. Hoje, existe uma porcentagem alta de mulheres que são chefes de família, segundo Patrícia. “A mulher se culpa muito relação com filhos. E isso acarreta no aumento da incidência de depressão e transtorno de ansiedade”, diz. O ideal é que pai e mãe se revezem nas tarefas. “Há famílias quem tem procurado se organizar. Se o pai não pode ir na reunião da escola, a mãe vai e vice-versa. Mas não são todos os homens que estão prontos, porque eles vêm de uma geração que isso não acontecia”, observa.

Aliocha Mauricio
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