Mudando a história de Curitiba por meio das mulheres

“Somente depois da eleição é que fui me dar conta de que eu era a primeira mulher no Poder Executivo de Curitiba”. É com esse desprendimento que a vice-prefeita da capital, Mirian Gonçalves, 51 anos, lida com o fato de ter entrado para a história da cidade ao ser a primeira mulher eleita para o cargo. Mais ainda, também foi a primeira a assumir a cadeira do prefeito (recentemente, ela ficou dez dias no lugar de Gustavo Fruet, que estava em viagem). Modesta, ela acredita que, no futuro, as pessoas talvez nem lembrem de seu nome, mas reforça que o ano de 2013 ficará marcado por este motivo.

Há seis meses no cargo, ela divide seu tempo entre o gabinete de vice-prefeita e a Secretaria Municipal do Trabalho e do Emprego (ela também é a titular da pasta, acumulando as duas funções). Para dar conta de tudo, ela confia em suas habilidades de mulher. “Consigo conciliar essas atividades como toda mulher faz, com dupla jornada. Também tenho a praticidade e a disciplina típicas do sexo feminino, além da sinceridade. Mas não dá para dizer que, só porque uma mulher foi eleita, acabaram as barreiras. Assim como todas as mulheres, tenho que provar todos os dias a minha capacidade”.

Felipe Rosa

Como vice, ela diz que suas principais realizações nesses seis meses de trabalho foram a intermediação entre comunidade e Prefeitura por melhores condições de Habitação para as famílias da Vila Icaraí e a implantação de ações para melhorar a qualidade e quantidade da merenda escolar na rede municipal de ensino. Como secretária, garante que a redução das filas nas unidades da Agência do Trabalhador com implantação do sistema de agendamento eletrônico foi uma de suas principais conquistas. Outras são a realização de feiras de emprego nos bairros e uma exclusiva para as mulheres.

Aliás, sua afinidade com as questões relacionadas ao trabalho e emprego vem de longe. Como advogada, Mirian sempre atuou nessa área. “Sempre quis ser advogada para defender os direitos das pessoas com maior fragilidade. Ainda na faculdade, comecei a atuar nessa área do trabalho, no escritório do Edésio Passos. E também foi lá que comecei a ter contato com os movimentos sociais porque o escritório era sempre chamado quando havia algum tipo de conflito relacionado a esses grupos, mesmo atuando no Direito Trabalhista”, lembra.

Foi nessa época, ainda durante a Ditadura Militar, que ela também começou a militância política. Participou de passeatas e manifestações, chegando a ser atingida por balas de borracha e estilhaços de bombas de efeito moral. Apesar de essa cena estar se repetindo no contexto atual, ela não vê muitas semelhanças entre o movimento da época e o de hoje. “Naquele tempo, era proibido sair na rua. Quem fizesse isso era preso ou apanhava muito. Hoje, a polícia interfere só quando há necessidade, quando há depredação. Lamento que essas novas manifestações não tenham ainda um direcionamento mais concreto, mas acho que são importantes pois, delas, podem surgir novas lideranças”.

Na cena política, Mirian sempre atuou nos bastidores, mesmo sendo filiada ao PT desde sua criação, em 1980. “Nunca tive a pretensão de ser candidata, ainda mais porque não tenho perfil de parlamentar. E acho que o fato de nunca ter sido candidata pode até ter contribuído para ser escolhida pelo partido para ocupar o cargo de vice nessa composição com o Gustavo”, avalia. Também por causa disso, ela nunca tinha tido qualquer tipo de relacionamento com o atual prefeito, o que não impediu que tivessem um bom relacionamento, segundo ela.

“A gente não tem tido incompatibilidades, tenho bastante liberdade para articular com os secretários e vereadores, mas quem decide é ele, que é o prefeito. Mesmo assim, sou bastante atuante, não sou s&oacut,e; substituta do prefeito, como costumam pensar do vice”, comenta. Outra limitação pela qual passa diariamente é a burocracia do funcionalismo público. “Tenho uma ansiedade própria de quem trabalhou a vida toda no setor privado. A burocracia é necessária, mas imprime uma lentidão que me angustia muito. Se não fosse isso, poderia ter feito muito mais já”, garante.

Em seus dez dias como prefeita, ela diz que conseguiu manter seu estilo de trabalho, diferente do jeito de Fruet. “Imprimi um jeito bem meu de trabalhar, com uma agenda bastante intensa, que foi bem recebido pelos secretários. Evidentemente que estou aqui para ser vice, mas não tenho medo da responsabilidade de assumir o cargo quando precisar”, avalia. Em relação à responsabilidade de representar as mulheres no Executivo, ela afirma que quer garantir “a dignidade que a ocasião merece” e que quer deixar uma marca de “seriedade com o compromisso assumido”. Para ela, as portas da Prefeitura estão definitivamente abertas às mulheres.

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